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Com 4 anos de atraso, Chico recebe Prêmio Camões

A homenagem que Bolsonaro se recusou a entregar foi feita hoje por Lula, em cerimônia no Palácio de Queluz, em Portugal

Por Luciana Alvarez, de Lisboa
Atualizado em 24 abr 2023, 16h54 - Publicado em 24 abr 2023, 13h58

Escolhido em 2019, apenas nesta segunda-feira, 24, o compositor e escritor brasileiro Chico Buarque recebeu o Prêmio Camões, considerado o mais importante da literatura em língua portuguesa. Os quatro anos de atraso decorrem da recusa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em assinar o diploma, responsabilidade dividida por Brasil e Portugal

A cerimônia na sala do trono do Palácio de Queluz, no distrito de Lisboa, capital portuguesa, contou com a presença dos presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e português, Marcelo Rebelo de Sousa, além de ministros e artistas, como as cantoras Fafá de Belém e Carminho.

Ao receber o prêmio, muito emocionado, Chico relembrou o pai, que sempre lhe indicou leituras, e sua primeira experiência em Portugal. “Conheci Portugal em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, o primeiro laureado pelo prêmio”, contou. 

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Afirmou ainda que valeu a pena esperar por essa cerimônia. “Eu já me perguntava se me haviam esquecido”, brincou.

Ao falar dos quatro anos do último “governo funesto”, foi aplaudido. Depois, fez um elogio torto a Bolsonaro. “Teve a rara fineza de não sujar meu prêmio”, afirmou.

Muito emocionada, Pilar del Río, viúva do escritor português José Saramago, descreveu a entrega como um momento mágico. “Neste momento, o que destaco é a emoção. De repente ver que, por cima da noite e de toda a escuridão que vivemos, a liberdade, a poesia, a música e a convivência se impuseram”, afirmou.

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O escritor moçambicano Mia Couto, laureado com o Camões em 2013, disse ser um admirador do trabalho de Chico e também enalteceu a arte e a cultura brasileira. Para ele, o reconhecimento é importante até mesmo para a autoestima do povo brasileiro.

“Quando a gente pensa no Brasil, estamos num momento em que tudo se reduz à sua dimensão política. Mas a dimensão cultural e artística do Brasil é enorme. Acho que os brasileiros nem sempre se dão conta de como essa dimensão ultrapassa o Brasil”, afirmou a VEJA um pouco antes do início da cerimônia. 

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Para Mia Couto, a recusa de Bolsonaro acabou sendo bem-vinda, porque agora se faz “uma festa a dobrar”. Lembrou, porém, que a arte ultrapassa a política.

“Quando o Palácio da Alvorada foi invadido, ele foi notícia no mundo, mas a gente esquece que por trás daquilo há uma outra história, muito mais importante, que é a beleza ousada de Oscar Niemeyer, que fez o desenho que é um patrimônio do mundo. Esse valor de cultura perdura e sobrepõe-se àquilo que é contingente, do domínio da política cotidiana”, disse. 

Manuel Frias Martins, membro do júri do prêmio de 2019, elogiou o alcance humanista da obra múltipla de seis décadas de vida artística de Chico. As palavras do brasileiro, disse, “são abraços que unem continentes”. 

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Contudo, foi impossível deixar a política de fora da cerimônia. Até porque a cerimônia na sala do trono do Palácio de Queluz, em Sintra (distrito de Lisboa), contou com a presença dos presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e português, Marcelo Rebelo de Sousa, além de ministros e artistas.

O presidente de Portugal lembrou que a entrega do prêmio deu-se no dia que há 49 anos foi o último da ditadura (em Portugal) e no lugar onde nasceu e morreu o filho que rompeu com o pai para abraçar uma nova pátria (d. Pedro I). Também criticou quem não gostou da escolha por causa das opiniões do “cidadão Chico”.

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“Ninguém precisaria da fundamentação dessa decisão (de premiar Chico)“, afirmou, arrancando aplausos da plateia ao dizer: “Meu caro amigo, me perdoe, por favor, por essa demora”.

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“O ataque à cultura foi uma dimensão importante do projeto que a extrema direita tentou implantar no Brasil”, afirmou Lula. O presidente brasileiro disse ainda que a entrega hoje só foi possível com a vitória da democracia.

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“Hoje já é outro dia”, brincou, referindo-se à famosa música do compositor, “Apesar de Você”.

O premiado do Camões recebe 100 mil euros, valor financiado por Brasil e Portugal. Como a láurea de 2019 não foi entregue, o montante ficou suspenso desde então – os escolhidos nos anos seguintes também não o receberam.

A partir de agora, devem ser organizadas as próximas cerimônias. Estão na fila Vítor Manuel de Aguiar e Silva (Portugal), Paulina Chiziane (Moçambique) e Silviano Santiago (Brasil).

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