Centenas de civis saíram do enclave rebelde em Ghuta Oriental, na Síria, nesta quinta-feira, data em que a guerra no país completa sete anos. Eles cruzaram a pé toda a área sitiada e foram para o território controlado pelo governo, perto da capital, Damasco, segundo um vídeo divulgado pela televisão estatal síria, Al-Ikhbariya.
As imagens mostram homens, mulheres e crianças saíndo da cidade de Hamouria, alguns carregado seus pertences, incluindo roupas e colchões, acima da cabeça.
A saída dos civis ocorre exatamente sete anos depois da revolta popular que engatilhou a guerra civil no país – e apenas algumas horas depois que as forças do governo sírio atingiram a cidade com ataques aéreos e foguetes.
Outro canal de televisão local, Al-Mayadeen, mostrou vários ônibus esperando para buscar os civis que chegavam. O veículo informou que eles serão levados a um centro para serem identificados e receberem apoio.
O episódio parece ser o maior êxodo de civis da Ghuta Oriental desde que o governo começou os ataques à região rebelde há cerca de três semanas. Mais de 1.200 civis foram mortos nos bombardeios aéreos coordenados pelo governo sírio e pela Rússia.
Homens entrevistados pela TV estatal síria defenderam a ação das forças sírias e o presidente Bashar Al-Assad e afirmaram que os grupos armados rebeldes os haviam humilhado e mantido como reféns em Ghuta Oriental. O governo e os rebeldes haviam trocado acusações sobre quem estaria impedindo os civis de deixar a região.
O grupo de monitoramento do Observatório da Síria para os Direitos Humanos afirmou que 26 pessoas foram mortas em ataques promovidos pelo governo na região só nesta quarta-feira.
Ajuda humanitária
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 400.000 pessoas estejam presas dentro do cerco do governo sírio em Ghuta Oriental. Enquanto isso, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha conseguiu enviar um comboio com ajuda para milhares de deslocados em outra parte da região, a cidade de Douma.
De acordo com a Defesa Civil síria, também conhecida como Capacetes Brancos, as primeiras tentativas de socorro da organização não conseguiram chegar aos feridos em várias outras cidades de Ghuta Oriental por causa da intensidade dos ataques. Ele disse que um dos homens que trabalhava no resgate foi morto em um ataque aéreo na cidade de Hazeh.
“Eles estão acabando com Ghuta”, disse Anas al-Dimashqi, ativista midiático e residente de Kafr Batna, uma cidade que também foi atacada em intensos bombardeios aéreos nesta quinta-feira.
Dimashqi, os Capacetes Brancos e o Observatório Sírio para Direitos Humanos relataram que o governo sírio e a Rússia estão usando substâncias incendiárias semelhantes ao napalm para espalhar fogo pelas cidades.
Damasco e Moscou ignoraram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU de 24 de fevereiro, que exigia um cessar-fogo para toda a Síria. Ainda assim, militares russos disseram que fariam uma “pausa humanitária” diária de algumas horas às operações visando Douma. Eles afirmaram que a pausa permitiu que um número crescente de civis chegasse a áreas seguras.
A região oriental de Ghuta foi um dos pólos da revolta contra o presidente Bashar Assad em 2011 e rapidamente se tornou alvo de cercos, prisões em massa e assassinatos extrajudiciais pelas forças de segurança.
As forças governamentais dividiram a região em duas partes no início desta semana e isolaram Douma, a maior cidade da região, do resto dos subúrbios. Damasco já bloqueou comboios de ajuda humanitária que tentaram levar socorro para áreas controladas pela oposição no país.
(Com AP)