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Circulação de fake news no Chile provoca rejeição à nova Constituição

Protestos tomam conta do país às vésperas da votação que irá decidir os direitos do Estado; aborto e propriedade privada estão no centro da polêmica

Por Da Redação 29 ago 2022, 15h45

A uma semana do plebiscito sobre a nova Constituição do Chile as ruas das principais cidades do país tornaram-se palco de manifestações. A população se divide entre o apoio e à rejeição ao novo texto, em meio a uma onda de notícias imprecisas sobre a proposta.

Quase 80% dos chilenos votaram para elaborar uma nova Lei Magna em 2020, um ano depois que protestos violentos contra a desigualdade abalaram o principal país produtor de cobre do mundo.

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Em janeiro, 56% dos chilenos diziam que votariam a favor da nova Carta, ante 33% que votariam contra, de acordo com pesquisa do instituto Cadem. Contudo, às vésperas da votação, o apoio caiu e, desde abril, o cenário se inverteu, com o “não” em vantagem sobre o “sim”. O último levantamento realizado aponta 46% contra, 37% a favor e 17% indecisos.

De acordo com Paulina Valenzuela, estatística e sócia-gerente de uma empresa de pesquisa pública Datavoz, a desinformação sobre o documento pode ser um do fatores que motivaram a mudança nas intenções de voto nos últimos meses. 

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“Mais do que falsos, eu diria que foram propagadas meias verdades sobre como as normas ou artigos do texto devem ser interpretado”, disse Valenzuela à agência de notícias Reuters.

A proposta, que iria substituir a Constituição vigente, herdada da ditadura de Augusto Pinochet, foi escrita por uma Comissão formada por membros de orientação predominantemente progressistas. A elaboração do texto foi concluída em julho, e busca implementar mudanças significativas sobre direitos sociais e políticas ambientais.

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Alegações sobre a nova Carta Magna retirar o direito à propriedade privada e permitir aborto no nono mês de gravidez se espalharam pelas redes sociais.

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O próprio plebiscito e a agência eleitoral chilena Servel também foram alvo de desinformação. O presidente da Servel, Andrés Tagle, diz que este é o quinto ciclo eleitoral em que a agência foi atingida, acrescentando que os ataques foram marcados por uma intensidade crescente e um efeito cumulativo na confiança do público.

Administradores do Twitter e do Facebook, disseram estar trabalhando ativamente com o governo do Chile e verificadores de fatos para ajudar a impedir a disseminação de desinformação.

Contudo, no relatório de transparência do Twitter consta que o governo chileno solicitou informações 19 vezes sobre 33 contas no segundo semestre de 2021 e a empresa não cumpriu em nenhuma dessas instâncias.

A Meta diz que ativou uma equipe de resposta rápida no Facebook e Instagram para identificar violações, está trabalhando com verificadores de fatos, incluindo Fast Check CL, e limita o alcance de postagens consideradas enganosas.

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O conteúdo impreciso sobre as novas leis inflamaram protestos no país. Foram realizadas marchas de mulheres defendendo os artigos da nova Constituição que preveem acesso ao aborto e a paridade de gênero na administração pública.

Contudo, uma performance do grupo ativista “Las Indetectables” que incluía nudez e uma alusão ao aborto envolvendo a bandeira chilena na cidade portuária de Valparaíso foi condenada tanto opositores quanto apoiadores do novo texto constitucional.

“Acabei de ver um vídeo de como eles colocaram a bandeira chilena em uma certa parte (do corpo) em um ato a favor da aprovação em Valparaíso”, tuitou o senador Matías Walker, que se opõe à proposta de constituição.

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Estudantes e indígenas se organizaram em passeatas em apoio à cláusula que define o Chile como um Estado plurinacional e intercultural e reconhece a soberania das nações indígenas, que correspondem a 12% da população, mas nem sequer são mencionados na Constituição vigente.

Mas esses artigos relacionados à soberania indígena encontram forte oposição no sul do país, onde há conflitos violentos entre povos tradicionais e proprietários de terra. As marchas na região rejeitam propostas como o acesso à educação nos idiomas originários e a Justiça indígena, que permitiria a grupos nativos manter sistemas jurídicos ligados a tradição ancestral de cada etnia.

Contudo, existem intersecções entre os dois extremos que complexificam ainda mais a disputa, a ser decidida pelos 15 milhões de eleitores no próximo 4 de setembro.

Há divergências pontuais entre os eleitores que querem substituir a antiga Carta Magna, com grupos defendendo que, depois da promulgação do novo texto, alguns artigos sejam reformados.

Movimento semelhante se dá também no campo oposto: parte dos que devem votar pela rejeição não se opõe a todas as cláusulas.

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