CIA alertou para atitudes suspeitas de Snowden já em 2009
Alerta foi ignorado, e técnico de informática acabou vazando informações secretas sobre programas de espionagem do governo americano
Por Da Redação
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11 out 2013, 18h12
Edward Snowden recebe o prêmio Sam Adams (Sunshine Press/Getty Images/VEJA)
Quatro anos antes de Edward Snowden vazar documentos sobre a vasta rede de espionagem operada pelo governo americano, a CIA já havia emitido um alerta sobre atitudes suspeitas do técnico de informática. Reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal The New York Times afirma que, em 2009, o supervisor de Snowden no serviço secreto americano escreveu um relatório negativo sobre o funcionário. A CIA suspeitava que o técnico estava tentando acessar arquivos secretos sem autorização e por isso resolveu dispensá-lo.
O alerta foi ignorado e Snowden acabou trabalhando também para a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), antes de repassar milhares de documentos a jornalistas.
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O americano de 30 anos tinha uma posição modesta na hierarquia da espionagem americana. Depois de sua passagem pela CIA, ele se tornou funcionário da Booz Allen Hamilton, uma empresa privada que presta serviços de segurança para o governo. Acabou transferido para o Havaí para atuar como especialista em computação de uma unidade da NSA. Em pouco tempo, conseguiu reunir os arquivos secretos em um pen drive, pediu licença não remunerada e nunca mais voltou.
Segundo o NYT, a NSA, a CIA e o FBI não quiseram comentar a natureza precisa do aviso sobre o técnico e o motivo de não ter sido considerado. A reportagem admite que é difícil saber o que poderia ter acontecido se os supervisores da NSA tivessem conhecimento do alerta emitido pela CIA. “É possível que a informação tenha se perdido”, disse Charles B. Sowell, um ex-funcionário do alto escalão do Diretório Nacional de Inteligência dos EUA.
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Os sistemas eletrônicos das agências de inteligência americanas geralmente avaliam somente infrações graves. Assim, o relatório sobre Snowden só seria repassado à NSA se houvesse uma solicitação específica. Com o escândalo, esse procedimento foi revisado, e advertências de menor gravidade agora também estão sendo informadas às agências.
Computadores – Segundo a agência de notícias Reuters, os quatro laptops que Snowden levou para Hong Kong e depois para Moscou não continham nenhuma informação sigilosa. Os equipamentos teriam sido usados para “despistar” autoridades, de acordo com um ex-analista da CIA que se encontrou nesta semana com o delator na Rússia.
Ao deixar os Estados Unidos, antes que as informações sobre os programas de espionagem do governo americano fossem publicadas pela imprensa, Snowden foi primeiro para Hong Kong e depois para Moscou. As autoridades americanas querem julgar o técnico por espionagem, mas ele conseguiu asilo temporário na Rússia. Sua primeira foto oficial foi divulgada apenas esta semana.
As autoridades dos EUA trabalham com a possibilidade de que arquivos secretos obtidos por Snowden tenham ido parar nas mãos de agências de espionagem da China e da Rússia, apesar de não haver provas de que isso tenha ocorrido.
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1. 5 de junho
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(Larry Downing/Reuters/VEJA/VEJA) O jornal britânico
The Guardian revela que a Agência de Segurança Nacional americana (NSA, na sigla em inglês) teve acesso a
dados de telefonemas de milhões de usuários da Verizon, uma das maiores companhias telefônicas dos Estados Unidos.
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2. 6 de junho
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(Dan Kitwood / Getty Images/VEJA/VEJA) Os jornais
The Guardian e
Washington Post revelam que governo americano tem acesso direto aos servidores centrais de nove das
maiores empresas de internet americanas: Microsoft, Yahoo!, Google, Facebook, YouTube, Skype, Apple, AOL, PalTalk. A inteligência americana pode consultar áudios, vídeos, fotografias, conteúdos de e-mails, arquivos transferidos e conexões dos usuários.
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3. 7 de junho
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(Mike Blake/Reuters/VEJA/VEJA) Barack Obama defende interceptações telefônicas para combater o terrorismo e diz que governo não tem acesso ao conteúdo dos telefonemas. “Ninguém está ouvindo suas ligações”, afirma.
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4. 9 de junho
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(REUTERS/Ewen MacAskill/The Guardian/VEJA/VEJA) Em entrevista ao
Guardian,
Edward Snowden admite ter vazado as informações sobre os programas secretos e diz que está em Hong Kong desde meados de maio. Snowden foi técnico da CIA e, nos últimos meses, trabalhou como consultor da NSA em um escritório no Havaí.
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5. 21 de junho
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(Bobby Yip/Reuters/VEJA/VEJA)
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6. 23 de junho
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(EFE/VEJA/VEJA)
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7. 30 de junho
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(Philippe Huguen / AFP/VEJA/VEJA) A revista alemã
Der Spiegel afirma em reportagem que a NSA teve como alvo instalações da
União Europeia e também a Alemanha.
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8. 2 de julho
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(Patrick Domingo/AFP/VEJA/VEJA) Brasil diz que
não vai responder ao pedido de asilo apresentado por Snowden. O americano também apresentou solicitações a outros vinte países. O avião presidencial que levava o presidente da Bolívia,
Evo Morales, de Moscou para La Paz precisa desviar a rota na Europa. Autoridades bolivianas afirmam que países como Espanha, Itália, França e Portugal impediram a aeronave de entrar no espaço aéreo por acharem que Snowden estava a bordo.
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9. 5 de julho
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(Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA/VEJA)
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10. 6 de julho
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(Sebastião Moreira/EFE/VEJA/VEJA) O jornal
O Globo revela que os Estados Unidos espionaram e-mails e telefonemas de
brasileiros.
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11. 8 de julho
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(Ueslei Marcelino/Reuters/VEJA/VEJA) O governo brasileiro
pede explicações a Washington sobre espionagem. O embaixador americano no Brasil,
Thomas Shannon, nega que o governo americano tenha montado uma base de espionagem em Brasília.
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12. 19 de julho
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(Roberto Stuckert Filho/Divulgação/VEJA/VEJA) O vice-presidente dos EUA, Joe Biden,
telefona para a presidente Dilma Rousseff. Após lamentar a repercussão negativa dos casos envolvendo espionagem, Biden convida o governo brasileiro a enviar representantes para uma conversa sobre o tema em Washington.
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13. 31 de julho
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(Reprodução/The Guardian/VEJA/VEJA) O jornal
The Guardian revela informações sobre outro programa secreto de vigilância. Chamado
XKeyscore, programa permite aos analistas da NSA vasculharem, sem autorização prévia, bases de dados contendo e-mails, chats on-line e históricos de milhões de pessoas.
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14. 1º de agosto
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(APTN/AP/VEJA/VEJA) Depois de passar quase quarenta dias na zona de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, Edward Snowden recebe os documentos que lhe permitem
deixar o local. O asilo temporário concedido pelo governo russo terá validade de um ano.
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15. 21 de outubro
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(Bertrand Langlois/AFP/AFP/AFP) O jornal francês
Le Monde divulgou que a NSA
espionou 70,3 milhões de chamadas telefônicas feitas na França. Citando documentos fornecidos pelo ex-analista de inteligência Edward Snowden, delator dos programas de espionagem dos EUA, os telefonemas foram monitorados entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro de 2013. Segundo o jornal, a NSA teve acesso às informações de números de telefones da França e gravou mensagens de texto dos aparelhos.
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16. 23 de outubro
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(Kirill Kudriavtsev/AFP/AFP/AFP) O governo alemão divulgou que obteve indícios de que serviços de inteligência dos EUA
grampearam o telefone celular da chanceler Angela Merkel. A suspeita levou a chefe de governo a ligar para o presidente Barack Obama e pedir esclarecimentos. Segundo a chancelaria alemã, Merkel deixou claro que, se a informação for confirmada, o caso vai representar uma grave quebra de confiança entre os dois países.
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17. 24 de outubro
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(John Thys/AFP/VEJA/VEJA) O jornal britânico
The Guardian revelou que os Estados Unidos
espionaram as conversas telefônicas de 35 líderes mundiais. Segundo os documentos vazados pelo ex-técnico de inteligência Edward Snowden ao jornal, a NSA incentivou funcionários da Casa Branca, Departamento de Estado e Pentágono a compartilhar números de telefones de políticos.
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18. 25 de outubro
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(Cristina Arias / Getty Images/VEJA/VEJA) Líderes europeus reunidos em Bruxelas afirmaram que a quebra de confiança entre aliados pode afetar a
luta contra o terrorismo. Em uma declaração oficial conjunta, os países-membros da União Europeia (UE) sublinharam que a “coleta de informações é um elemento vital na luta contra o terrorismo”. E prosseguiram: "A falta de confiança poderia prejudicar a necessária cooperação no campo da coleta de informações".
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19. 28 de outubro
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(Emilio Naranjo/EFE/VEJA/VEJA) A NSA espionou mais de
60 milhões de ligações telefônicas na Espanha entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, publicaram os espanhóis jornais
El País e
El Mundo. Os espanhóis citam documentos vazados pelo ex-analista de inteligência Edward Snowden, refugiado na Rússia. Segundo a denúncia, a NSA teve acesso ao fluxo de chamadas, número de telefones conectados, o local onde se encontravam e a duração das chamadas.
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20. 1 de novembro
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(Francois Lenoir/Reuters/VEJA/VEJA) Os serviços de inteligência da Alemanha, França, Espanha e Suécia atuaram juntos com a agência de espionagem britânica Government Communications Headquarters (GCHQ) para coletar dados de internet e ligações telefônicas feitas na Europa nos últimos cinco anos. Segundo documentos vazados pelo ex-analista americano ao Guardian, a espionagem foi realizada por meio do relacionamento mantido entre as agências e as companhias de telecomunicação dos países. A
aliança entre os serviços secretos também fez com que ficasse mais fácil o acesso de outros países aos dados de internet.
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21. 5 de novembro
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(Cristiano Mariz/VEJA/VEJA) O governo brasileiro
investigou agentes secretos franceses por suspeita de que eles pudessem estar envolvidos em sabotagem na base de lançamento de satélites de Alcântara, no Maranhão, informou a
Folha de S. Paulo. Documento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) obtido pelo jornal revela pelo menos três ações de contraespionagem contra agentes franceses e seus contatos brasileiros e estrangeiros.
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22. 9 de dezembro
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(Reprodução/VEJA/VEJA) Os serviços de inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha não pouparam nem os mundos virtuais de suas ações de espionagem. Agentes infiltrados em
reinos e mundos virtuais, habitados por hordas de orcs elfos ou avatares humanos, “passaram anos” espionando mundos fictícios como o Second Life e o World of Warcraft, supostamente em busca de "terroristas".
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23. 16 de dezembro
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(Paul J. Richards/AFP/VEJA/VEJA) O juiz federal Richard Leon considerou que a interceptação de dados telefônicos realizada pela NSA provavelmente
viola a Constituição americana. Ele ordenou que a coleta de dados de duas pessoas que estão processando a agência de inteligência seja interrompida e seus registros, destruídos – mas a decisão ficará suspensa até que o governo recorra. Ao justificar a espera pela manifestação do governo, o juiz ressaltou a existência de “interesses de segurança nacional significativos em jogo” e a “novidade das questões constitucionais” envolvidas no caso. De qualquer forma, a decisão pode influenciar outros tribunais.