Um dia após o presidente americano Barack Obama aprovar a retirada de Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo, o Departamento de Estado informou nesta quarta-feira que Havana está disposta a negociar a extradição de fugitivos da Justiça dos Estados Unidos que buscaram refúgio na ilha. A medida se soma a outras iniciativas para a normalização das relações diplomáticas entre os dois países, anunciada em dezembro. “Nós vemos o reestabelecimento das relações diplomáticas e a reabertura de uma embaixada em Havana como os meios que nos possibilitarão pressionar o governo cubano de forma mais efetiva em questões de segurança, entre as quais a dos fugitivos. E Cuba concordou em abrir um diálogo com os Estados Unidos para solucionar esses casos”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Jeff Rathke.
O jornal britânico The Guardian tentou entrar em contato com o governo cubano para responder às declarações de Washington, mas não obteve resultado. Anteriormente, a principal diplomata cubana para assuntos nos Estados Unidos, Josefina Vidal, havia negado qualquer possibilidade de discutir a deportação de fugitivos americanos. Na terça-feira à noite, Josefina se pronunciou apenas sobre a desclassificação de Cuba como um patrocinador do terrorismo. Ela afirmou que “o governo cubano reconhece a justa decisão do presidente dos Estados Unidos de retirar Cuba de uma lista para a qual ela nunca deveria ter sido incluída”.
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A questão dos fugitivos americanos remonta à época da Revolução Cubana de 1959. Depois da mudança de regime, Havana se tornou terreno fértil para os procurados da Justiça americana. Logo após tomar o poder, o ditador Fidel Castro rompeu o acordo de extradição que Cuba mantinha com Washington e passou a acolher todos aqueles que se dirigiam à ilha para escapar dos mais variados crimes.
De acordo com Rathke, os diálogos aos quais Cuba teria sinalizado positivamente incluiriam a deportação de Joanne Chesimard, que hoje responde ao nome de Assata Shakur e figura na lista de terroristas mais procurados pelo FBI, e do nacionalista porto-riquenho William Morales. Joanne foi condenada à prisão perpétua por assassinar um policial há 40 anos e está foragida desde 1979, quando escapou de uma penitenciária em Nova Jersey e recebeu asilo político do então ditador Fidel Castro. Já Morales é procurado por seu envolvimento com atentados a bomba perpetrados em Nova York, na década de 1970.
Recentemente, a rede americana CNN viajou até Havana para se encontrar com Charlie Hill, um extremista que sequestrou um pequeno avião para voar até Cuba após assassinar o policial Robert Rosenbloom, no Novo México. Hill disse à reportagem que sentia saudades dos Estados Unidos e pensava em se entregar às autoridades. Questionado sobre a possibilidade de a ditadura castrista aceitar sua extradição após a normalização das relações diplomáticas, o fugitivo afirmou que não ficaria decepcionado com o regime comunista. “Eles me acolheram. Se o governo cubano sentir que a minha partida beneficiará 12 milhões de pessoas, então este será o meu sacrifício. Eu não me preocupo quanto a isso”.
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Com a decisão tomada por Obama na terça-feira, Cuba será excluída da relação de financiadores do terror em 45 dias. O Congresso americano pode rejeitar a medida e criar um projeto de lei paralelo para tentar barrá-lo, mas a Casa Branca considera a manobra improvável. A saída de Cuba da lista representa também o fim de algumas sanções automáticas, como a proibição da venda e exportação de armas, de auxílio econômico e restrições às transações financeiras entre cidadãos. A desclassificação de Cuba fará com que apenas Irã, Sudão e Síria continuem presentes na lista formulada por Washington. A ilha figurava na relação desde 1982, quando a Casa Branca acusou a ditadura castrista de “promover a revolução armada por meio de organizações que utilizavam o terrorismo”.
(Da redação)