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Carta ao Leitor: O risco do fanatismo

No conflito Israel-Hamas, é urgente levar a diplomacia à mesa, sem a qual o incêndio regional corre o risco de se espalhar pelo planeta

Por Da Redação Atualizado em 13 out 2023, 10h39 - Publicado em 13 out 2023, 06h00

Não demorou, entre os cidadãos de Israel, para brotar alguma comparação dos hediondos ataques terroristas promovidos pelo Hamas no sábado, 7 de outubro, a partir da Faixa de Gaza, com o 11 de Setembro de 2001. Não se trata de medir os episódios pela fria estatística do número de mortos, em balanço desnecessário e inútil — mas agora, como antes para os americanos, cresceu a sensação no Estado israelense de insegurança associada ao medo e à compreensível compulsão à revanche. É preciso deixar claro, como premissa sem a qual nenhuma conversa pode avançar, de quem veio a ofensiva inaugural — e parece não haver dúvida de que o terror do Hamas, nesse movimento, perdeu a razão que nunca teve. Não há justificativa para a morte de civis sem que antes se esgotem todas — todas — as possibilidades de diálogo.

Naquela mesma tarde da agressão, em nota oficial, o presidente Lula disse ter ficado chocado com “os ataques terroristas realizados (…) contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas”. De modo firme, anotou seu “repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas”. Foi uma declaração sensata. Ele evitou, contudo, citar o nome do Hamas. Faltou contundência, premido, muito provavelmente, pelas vertentes de esquerda que orbitam ao redor e no coração do PT, e que não diferenciam a democracia razoável da Autoridade Palestina da estupidez irresponsável do Hamas, alimentada pelo fundamentalismo. Somente na quarta, dia 11, depois da pressão de alas mais sensatas no seu entorno, o presidente brasileiro finalmente atreveu-se a condenar o grupo pelo abominável ato de transformar crianças em reféns.

Saber quem deflagrou o confronto é decisivo, informação de natural peso na balança política, mas que não pode, contudo, servir de pólvora para os próximos passos. É urgente levar a diplomacia à mesa, sem a qual o incêndio regional corre o risco de se espalhar pelo planeta. Não se deve, tampouco, fechar os olhos para as idiossincrasias arraigadas de árabes e judeus a dividir pedaços contíguos de chão, cada lado com suas razões. O caldeirão ferve porque o bárbaro ataque do Hamas a Israel se insere em um mundo muito diferente daquele delineado depois da II Guerra, rachado entre duas grandes potências — Estados Unidos e União Soviética —, que tinham sob sua esfera uma porção de países que seguiam uma trilha mais ou menos previsível. Atualmente, em um planeta multipolar, com forças pulverizadas e muito menos demarcadas, em meio a uma Guerra Fria repaginada entre americanos e chineses, os movimentos do tabuleiro geopolítico não podem mais ser antecipados como antes. E, nesse desenho, uma agremiação terrorista se sente à vontade para agir e chacoalhar laços entre nações do incendiário Oriente Médio.

Reportagem de VEJA desta semana oferece detalhado e cuidadoso painel das forças em jogo, com olhar a um só tempo para a história e o que virá pela frente. Não há saída simples, mas desistir do futuro não é caminho possível. Convém, em momentos como o de agora, lembrar da inteligência ecumênica do escritor Amós Oz (1939-2018): “Os fanáticos de ambos os lados trabalham duro tentando transformar o que eu descrevi como uma ‘disputa imobiliária’ numa Guerra Santa. Têm tido algum sucesso, tanto entre os judeus quanto entre os árabes. Isso me faz ficar mais pessimista, mas não menos comprometido, quanto à perspectiva de um iminente compromisso israe­lo-palestino: não existe alternativa a uma solução de dois Estados, Israel e a vizinha Palestina”. O fanatismo, lamentavelmente, é, de fato, o grande inimigo do bom senso.

Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2023, edição nº 2863

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