Mesmo com as operações de retirada de brasileiros do Peru, lideradas pelos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, grupos de nacionais se viram presos em quarentenas severas, que os impediu de alcançar os mais recentes voos de retorno ao Brasil. Cinco brasileiros estão isolados no Pariwana Hostel, na cidade de Cusco, desde que dois hóspedes foram diagnosticados com o novo coronavírus.
Há pelo menos 110 pessoas de diferentes nacionalidades na mesma situação nessa hospedaria, sem saber por quanto tempo deverão permanecer em quarentena e sem acesso a atendimento médico. A previsão oficial é de não serem autorizar a sair do local em menos de 40 dias.
“Nosso maior medo é ficar isolado aqui por muito tempo, a incerteza está nos matando”, disse a VEJA o carioca Romildo Ribeiro da Silva, de 28 anos, que está preso na pousada. “Estamos em contato com as autoridades brasileiras, a quem pedimos para, pelo menos, nos mudarem de hospedaria para ficarmos mais isolados. Por enquanto, não tivemos muito apoio”, queixou-se.
O problema começou na segunda-feira 23, quando a hospedaria foi cercada e isolada por policiais depois do diagnóstico dos dois hóspedes. Ambos já haviam deixado a pousada, mas os demais clientes do local foram proibidos de deixar seus quartos até que o governo local determine o fim da quarentena. O Executivo peruano usa o Exército para bloquear as principais vias do país e a polícia para restringir o movimento dentro das cidades – dotada de poderes de multar e de prender os que infringem a ordem de isolamento total.
Silva relata que os hóspedes são liberados para sair de suas acomodações apenas no horário das refeições e para um banho de sol diário, o que não seria diferente em um presídio. O microempreendedor chegou a Cusco no domingo 15 – um dia antes da decretação da quarentena total pelo governo peruano no país para frear o avanço da Covid-19 – e, desde então, vive sob as regras de isolamento.
O carioca divide o quarto com o amigo Leandro Martiniano, de 38 anos, e Natália dos Santos, de 25 anos. Além deles, outros dois brasileiros estão no local: um hóspede e uma funcionária da hospedaria. Todo o quarteirão ao redor da pousada está cercado pelas autoridades locais. Alguns dos hóspedes já apresentam sintomas da doença, como dor de cabeça, tosse e coriza. Natália e Leandro afirmaram a VEJA já estar sentindo os primeiros sintomas também.
“Todos os hóspedes ficam juntos na hora do almoço ou na cozinha lavando a louça, então podemos nos contaminar a qualquer momento ou já estarmos contaminados”, diz Silva. Embora a administração da hospedaria tenha orientado a distância de um metro ou mais entre as pessoas, ele relata que nem sempre essa recomendação pode ser seguida.
Resgate
O Ministério das Relações Exteriores vem prestando assistência aos brasileiros retidos no exterior durante a crise gerada pela pandemia de coronavírus. Nesta quarta-feira 25, duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) realizaram o resgate de 66 pessoas que estavam presas em Cusco. Os voos pousaram em São Paulo na noite de ontem.
Nos dias anteriores, a Embaixada do Brasil em Lima já havia organizado com companhias aéreas comerciais a volta de outros brasileiros presos no Peru, depois de gestões ao governo peruano. “O governo brasileiro, por meio da rede diplomática e consular do Itamaraty, segue acompanhando a situação dos viajantes brasileiros no exterior e está trabalhando para permitir a repatriação de todos”, afirmou o Ministério em nota.
Questionado por VEJA sobre a situação dos brasileiros retidos no Pariwana Hostel, em Cusco, o Itamaraty informou que a embaixada em Lima tem conhecimento do caso e está em contato permanente com o grupo. “O isolamento determinado pelas autoridades peruanas deverá ser observado pelos nacionais. O Itamaraty busca soluções para o caso, respeitando as decisões do governo local, para que os brasileiros confinados possam retornar ao país o mais rapidamente possível”, afirmou ainda a chancelaria.
Retidos em outras cidades
Além de Cusco, há brasileiros que ainda aguardam resgate em outras cidades do Peru. É o caso de um grupo de pelo menos 28 pessoas que saiu de Arequipa, no sul do país, na manhã desta quinta-feira, 26, em direção a Lima em um ônibus disponibilizado pela Embaixada, que conseguiu aval para o traslado do governo peruano.
A previsão é que o grupo chegue na capital peruana até sexta-feira, 27, para embarcar em um voo com destino ao Brasil durante o final de semana. No caminho para Lima, o ônibus deve parar em Ica para passar a noite e buscar um brasileiro que está retido na cidade, o artesão Felipe Dornelas Gerin, de 35 anos. Gerin está no Peru há seis meses fazendo viagens ao estilo mochilão. Desde segunda-feira 23, está preso em Ica, em um hotel pago pelas autoridades brasileiras.
“Eu estava muito preocupado, mas agora estou mantendo a calma”, conta Gerin, que é natural de Campinas (SP). “Ainda tenho medo de que a viagem seja bloqueada pelo governo peruano, que está dificultando bastante as coisas”.
A previsão é que o ônibus que saiu de Arequipa chegue em Ica até o início da noite desta quinta e parta na sexta-feira, 27, para Lima. O Itamaraty ainda não confirmou a data de decolagem do voo que repatriará esse grupo de brasileiros.