A Bolívia rompeu nesta terça-feira, 31, relações diplomáticas com Israel e acusou o país de cometer crimes contra a humanidade pelos constantes bombardeios à Faixa de Gaza desde o início do conflito contra o movimento palestino radical Hamas, em 7 de outubro. Aliado do Irã, principal investidor dos militantes, o governo boliviano havia retomado os vínculos com Tel Aviv em 2020, depois de 11 anos de afastamento.
“A Bolívia decidiu romper relações diplomáticas com o Estado de Israel, considerando os antecedentes. Vamos comunicar oficialmente através dos canais diplomáticos estabelecidos entre os dois países precisamente esta comunicação, em conformidade com os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas”, anunciou o vice-ministro das Relações Exteriores, Freddy Mamani.
Na segunda-feira, o presidente boliviano, Luis Arce, participou de uma reunião com o embaixador palestino, Mahmoud Elalwani, na qual condenou os “crimes de guerra” cometidos por Israel contra os habitantes de Gaza – o Tribunal Penal Internacional (TPI) criminaliza ataques contra edifícios civis e ações que prive a população dos meios de subsistência, como é o caso da restrição da provisão de energia, combustível e água ao enclave palestino.
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“Não podemos ficar calados e continuar permitindo o sofrimento dos palestinos, especialmente dos meninos e meninas que têm o direito de viver em paz”, afirmou Arce. “Apelamos ao Conselho de Segurança da ONU para que evite que ocorra um genocídio do povo palestiniano e para que encontre uma solução definitiva para a Palestina exercer o seu direito à autodeterminação, ao seu território sem ocupações ilegais e para consolidar o seu próprio Estado livre e independente.”
Com a eclosão do conflito, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Bolívia divulgou um comunicado que demonstrava “profunda preocupação com os acontecimentos violentos ocorridos na Faixa de Gaza” e fazia um “apelo urgente à paz, à redução da violência, preservação da vida e dos direitos humanos” na região, um posicionamento considerado brando quando comparado ao comunicado desta terça-feira.
Em contrapartida, o ex-presidente Evo Morales assumiu uma atitude mais combativa e declarou que o país condena “as ações imperialistas e coloniais do Governo Sionista Israelita”, destacando que a “solidariedade entre os povos é a base de uma sociedade mais justa e digna”. Em uma carta destinada a Arce, ele pediu, ainda em 20 de outubro, que rompesse a diplomacia com o governo de Benjamin Netanyahu “diante da horrorosa situação que sofre o povo palestino”.
Não é a primeira vez, contudo, que La Paz rompe os vínculos com Tel Aviv. Em 2009, as relações foram cortadas como forma de protesto aos ataques “terroristas” à Faixa de Gaza, revogando também o acordo de imigração com isenção de visto. Os laços só foram restabelecidos pela ex-presidente interina da Bolívia, Jeanine Anez, em 2020.