Semanas antes de serem demitidos, no último mês de abril, a ex-secretária de Segurança Interna Kirstjen Nielsen e o ex-diretor adjunto do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) Ronald Vitiello desafiaram o plano secreto da Casa Branca para prender milhares de famílias em uma operação contra migrantes em dez grandes cidades americanas.
De acordo com sete autoridades do Departamento de Segurança Interna, em entrevista exclusiva ao jornal The Washington Post, o governo de Donald Trump alvejava o grande fluxo de famílias que atravessaram a fronteira entre os Estados Unidos e o México depois de o presidente fracassar em aprovar sua política “tolerância zero” no início de 2018.
Para os funcionários, a proposta era uma forma de o chefe de Estado “enviar uma mensagem de força” por meio da detenção e deportação rápida dos imigrantes, incluindo crianças.
A operação previa uma força-tarefa para rastrear estrangeiros com pedidos de visto em curso, dando ao governo a chance de conseguir ordens de deportação contra os postulantes que ainda não compareceram a audiências. Segundo a reportagem, 90% das pessoas analisadas foram consideradas “deportáveis” sem nenhuma consulta prévia aos órgãos de imigração. Os mandados de prisão seriam executados com invasões coordenadas às casas dos procurados.
Mas Vitiello e Nielsen travaram os planos de Trump, preocupados com a falta de preparo dos funcionários da Imigração e Alfândega, com a redução de verbas para a segurança de fronteira e com os riscos de indignação da opinião pública.
O conselheiro do presidente americano, Stephen Miller, e o novo diretor do ICE, Matthew Albence, foram os principais apoiadores do projeto, segundo as fontes do Washington Post. Eles incentivaram a intensa cobertura midiática das prisões em massa que, para eles, ajudaria a deter o fluxo de famílias da América Latina aos Estados Unidos.
Milhares de alvos
As operações do governo estavam planejadas para ser executadas em Nova York, Chicago, Los Angeles e outros grandes destinos de migrantes centro-americanos. A escolha ignorou o fato de que alguns deles são considerados cidades -“santuários”, onde os departamentos de polícia não obedecem totalmente às leis federais de imigração.
A lista dos primeiros alvos do ICE contava com 2.500 nomes de adultos e crianças. Mas o plano geral, ainda em trâmite, tem a perspectiva de prender e deportar pelo menos 10.000 estrangeiros. A maioria deles faz parte de famílias que cruzaram a fronteira americana nos últimos dezoito meses e ainda aguardam a data de sua audiência ou o resultado de recursos contra ordens de deportação.
As autoridades do Departamento de Segurança Interna disseram que as objeções de Vitiello e de Nielsen sobre as prisões eram, em sua maioria, logísticas e operacionais e não consequência de preocupações éticas sobre “prender famílias com ordens de deportação expedidas por juízes.”
Além de se preocupar com uma estratégia “apressada”, Nielsen e seus aliados estavam receosos da falta de coesão entre o discurso de Trump, defensor de políticas anti-imigração com o suposto objetivo de combater “criminosos estrangeiros”, e o esforço para deportar pais com filhos pequenos.
As fontes do jornal americano afirmaram ainda que a oposição ao plano do presidente foi um dos fatores determinantes para a demissão de Vitiello e Nielsen em 12 de abril.
Autoridades do ICE e da Segurança Interna não deram declarações oficiais sobre o assunto e a dupla exonerada não respondeu às tentativas de contato do Washington Post. Miller se recusou a comentar, por meio do porta-voz da Casa Branca.