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Ativista iraniana leva Nobel da Paz por luta contra opressão das mulheres

Narges Mohammadi, encarcerada desde 2016, há muito defende a abolição da pena de morte no Irã e o fim da violência contra presos políticos

Por Amanda Péchy
Atualizado em 6 out 2023, 12h29 - Publicado em 6 out 2023, 06h12

A ativista iraniana Narges Mohammadi recebeu nesta sexta-feira, 6, o Prêmio Nobel da Paz, pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela defesa dos direitos humanos e da liberdade para todos.

“Narges Mohammadi é uma mulher, defensora dos direitos humanos e lutadora pela liberdade. A sua corajosa luta pela liberdade de expressão e pelo direito à independência acarretou enormes custos pessoais. Ao todo, o regime do Irã prendeu-a 13 vezes, condenou-a cinco vezes e sentenciou-a a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas”, afirmou o Comitê Norueguês do Nobel.

Presa desde 2016, ela cumpre atualmente uma pena de 10 anos e 9 meses, acusada de atos contra a segurança nacional e propaganda contra o Estado. Mesmo em reclusão, começou a se opor ao uso sistemático, por parte do regime iraniano, da tortura e da violência sexual contra presos políticos, especialmente mulheres, nas prisões do país. As Nações Unidas chegaram a pedir sua soltura.

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Mohammadi há muito defende a abolição da pena de morte no país, e também foi eleita presidente do Comitê Executivo do Conselho Nacional de Paz no Irã.

A ativista iniciou sua carreira quando estudava física na faculdade, nos anos 1990, onde defendia a igualdade e os direitos humanos das mulheres. Após concluir o curso, trabalhou como engenheira e tornou-se colunista de vários jornais reformistas.

Em 2003, Mohammadi se envolveu com o Centro de Defensores dos Direitos Humanos em Teerã, uma organização fundada pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, no mesmo ano. No entanto, o governo considerou o grupo ilegal em 2015, levando-a a ser presa e condenada um ano depois por ser porta-voz do grupo.

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O marido de Mohammadi e colega ativista dos direitos humanos, Taghi Rahmani, e seus filhos gêmeos, de 16 anos, vivem em Paris, na França.

Os seus 30 anos de ativismo para trazer, através do pacifismo, mudanças de base ao Irã por meio da educação, articulação e desobediência civil e para fortalecer a sociedade tiveram um preço elevado: a sua carreira como engenheira, a sua saúde, a separação do seu marido, filhos e pais, e a sua liberdade.

O sofrimento, porém, não diminuiu sua determinação em continuar pressionando o regime por mudanças.

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País fechado em si mesmo, o Irã adotou como norma reprimir, abafar e jogar para debaixo do tapete toda e qualquer rebelião contra a ditadura dos aiatolás. O prêmio da Paz deste ano, segundo o comitê, também reconhece as centenas de milhares de iranianos que, no ano passado, foram às ruas contra as políticas de discriminação contra as mulheres do regime dos aiatolás. O lema dos manifestantes era “Mulher, Vida, Liberdade”.

A onda de protestos tomou conta do país depois que Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, foi presa porque seu hijab, lenço de cabeça obrigatório para mulheres no país, deixava algumas mechas de cabelo à mostra. Ela veio a morrer sob a custódia da polícia da moralidade.

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A morte de Mahsa levou manifestantes às ruas das grandes cidades por vários meses, em uma onda de indignação sem liderança definida e insuflada pelas redes sociais. Nos confrontos com o vasto aparelho repressivo do governo, mais de 250 pessoas perderam a vida, entre elas dezenove adolescentes, enquanto cerca de 20.000 iranianos foram presos, de acordo com as Nações Unidas.

A rebelião vinha sendo gestada desde que, após um longo relaxamento das regras locais, o presidente Ebrahim Raisi — que forma com o líder máximo, o aiatolá Ali Khamenei, a mais radical liderança já vista no país — voltou a apertar o cerco. A polícia da moralidade chegou a ser suspensa após o incidente com Mahsa, mas, desde julho, o temido esquadrão retomou patrulhas para fiscalizar o uso de o véu islâmico e “vestimentas adequadas” das mulheres em locais públicos.

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Na quarta-feira 4, ativistas acusaram a polícia da moralidade de espancar a jovem Armita Geravand, de 16 anos, até deixá-la em coma no metrô de Teerã. A agressão teria sido motivada porque ela não estava usando o lenço muçulmano que cobre os cabelos.

O comitê é conhecido por surpreender o público com suas escolhas, mas as especulações sobre o prêmio deste ano estavam focadas em ativistas dos direitos das mulheres – incluindo Mohammadi e Mahbouba Seraj, do Afeganistão –, em ativistas ambientais e na guerra na Ucrânia.

Havia 351 candidatos ao Prêmio da Paz neste ano, segundo o comitê do Nobel, o segundo maior número de todos os tempos. Mohammadi se junta aos 137 laureados desde o início do prêmio, em 1901, uma lista que inclui o presidente americano Barack Obama, o líder sul-africano Nelson Mandela e Madre Teresa.

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No ano passado, o Prêmio da Paz foi partilhado por defensores da democracia da Ucrânia, Belarus e Rússia, um sinal de repreensão ao governo de Vladimir Putin. Os prêmios – para a Memorial, uma organização russa; o Centro para as Liberdades Civis na Ucrânia; e Ales Bialiatski, um ativista bielorrusso preso — destacaram as dificuldades de superar o passado soviético e os esforços das ex-repúblicas para se libertarem do domínio russo.

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