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Véu arrancado: a rebelião apoiada no Ocidente contra o regime dos aiatolás

A morte de uma mulher nas mãos da polícia, presa por não cobrir suficientemente o cabelo, fez explodir o protesto

Por Amanda Péchy 16 out 2022, 08h00

País fechado em si mesmo, o Irã adotou como norma reprimir, abafar e jogar para debaixo do tapete toda e qualquer rebelião contra a ditadura dos aiatolás. Nem a brutalidade de suas forças policiais, no entanto, vem conseguindo conter a onda de protestos que tomou conta do país depois que Mahsa Amini, 22 anos, foi presa porque seu hijab, o obrigatório véu muçulmano que cobre os cabelos, deixava algumas mechas à mostra e veio a morrer sob a guarda da temida “polícia da moralidade”.

Tendo-se passado quase um mês, a morte de Mahsa continua a levar manifestantes às ruas das grandes cidades, em uma onda de indignação sem liderança definida e insuflada pelas redes sociais. Nos confrontos com o vasto aparelho repressivo do governo, quase 200 pessoas perderam a vida, entre elas dezenove adolescentes. Mobilizadas pelas cenas de vídeos contrabandeados para fora do país, onde o acesso à internet foi bloqueado, artistas da França e da Espanha postaram fotos cortando o cabelo, gesto que virou símbolo de solidariedade às mulheres iranianas sufocadas pela tirania religiosa.

Na colagem francesa de apoio postada no Twitter, celebridades como Juliette Binoche, Marion Cotillard, Isabelle Huppert e até a ex-primeira-dama Carla Bruni, entre outras, aparecem cortando mechas dos cabelos. A iniciativa se repetiu na Espanha, com participação de Penélope Cruz, Carmen Maura, Paz Vega e outras setenta artistas. O gesto viralizou a partir das primeiras reações no Ocidente — cabelos cortados em frente a embaixadas do Irã — à imagem de iranianas lançando hijabs em fogueiras e bradando “Mulher, vida, liberdade” e “Morte ao ditador”.

CORRENTE - Juliette Binoche, Penélope e Carla Bruni: mechas cortadas ao vivo, no Twitter -
CORRENTE - Juliette Binoche, Penélope e Carla Bruni: mechas cortadas ao vivo, no Twitter – (Fotos @soutienfemmesiran/Instagram)

Protestos não são novidade no Irã, país em que a população jovem e indiferente ao nacionalismo que moveu a Revolução Islâmica de 1979 é açoitada por um regime autoritário e inclemente, uma economia em frangalhos após décadas de sanções comerciais e uma seca devastadora. Durante a revolta contra uma intervenção na eleição presidencial de 2009, pelo menos 72 pessoas foram mortas. Dez anos depois, protestos contra um aumento de 200% no preço da gasolina deixaram 1 500 mortos. Desta vez, no entanto, a motivação vai além e expõe uma insatisfação geral contra o regime. “Movimentos sociais anteriores tinham recortes de classe, etnia e geografia. Os protestos pela morte de Mahsa atraem jovens e velhos, pobres e ricos, homens e mulheres”, aponta Claudia Yaghoobi, diretora do Centro de Estudos do Oriente Médio e Islamismo da Universidade da Carolina do Norte.

A rebelião vinha sendo gestada desde que, após um longo relaxamento das regras locais, o presidente Ebrahim Raisi — que forma com o líder máximo, o aiatolá Ali Khamenei, a mais radical liderança já vista no país — voltou a apertar o cerco. “A questão do hijab estava adormecida até Raisi promulgar uma lei mais rígida e convocar a polícia da moralidade para aplicá-la”, diz Haleh Esfandiari, diretora do Programa Oriente Médio do Wilson Center, de Washington. Com o país em chamas, um presidente impopular e Khamenei, 83 anos, enfrentando problemas de saúde, o governo luta para conter a rebelião das mulheres — sabendo que é questão de tempo até a próxima estourar.

Publicado em VEJA de 19 de outubro de 2022, edição nº 2811

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