Ataque ao Capitólio: O que diz o relatório final do inquérito contra Trump
Comitê do Congresso dos EUA publica relatório três dias após recomendar acusações criminais contra ex-presidente à Justiça
O painel do Congresso que investiga o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio dos Estados Unidos publicou seu relatório final na madrugada desta sexta-feira, 23, acusando Donald Trump de uma “conspiração de várias etapas” para reverter os resultados da eleição presidencial de 2020 e corromper a democracia.
Dividido em oito capítulos, o relatório de 845 páginas inclui descobertas, transcrições de entrevistas e recomendações de novas leis para evitar que uma situação como a de 2020 se repita novamente.
Sua divulgação ocorre apenas três dias depois que o comitê recomendou acusações criminais contra Trump ao Departamento de Justiça. Segundo a mídia americana, o Congresso já está cooperando e compartilhando evidências cruciais com a investigação que corre no judiciário.
+ Crime eleitoral e sonegação: As dores de cabeça de Trump antes do Natal
O painel, que será dissolvido em 3 de janeiro, quando os republicanos assumirem o controle da Câmara dos Deputados, fez mais de 1.000 entrevistas, um show de 10 audiências públicas televisionadas em horário nobre e análise de 1 milhão de documentos desde que foi criado, em julho do ano passado.
Seu relatório final apresenta um relato detalhado sobre a tentativa de Trump de reverter sua derrota para Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020, bem como uma descrição aprofundada de como a invasão ao Capitólio por uma turba violenta de seus apoiadores foi, segundo o comitê, sua culpa.
Veja os principais pontos do texto final divulgado pela investigação do Congresso:
Trump fez “pelo menos 200” tentativas de pressionar autoridades eleitorais
Para tentar anular os resultados das eleições em estados-chave, Trump e seu círculo íntimo fizeram “pelo menos 200 atos aparentes de divulgação, pressão ou condenação pública ou privada” contra autoridades eleitorais, entre o dia da eleição e o ataque de 6 de janeiro, de acordo com o relatório.
O ex-presidente fez 68 reuniões, dezenas de telefonemas e enviou inúmeras mensagens de texto para autoridades estaduais ou locais, bem como 125 postagens nas redes sociais de Trump ou assessores seniores contra autoridades eleitorais.
+ Comitê culpa Trump por ‘tentativa de golpe’ no ataque ao Capitólio
Por exemplo, durante uma ligação em 2 de janeiro de 2021 entre Trump e o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, o então presidente fez “falsas alegações de fraude eleitoral” e pediu a Raffensperger para “encontrar” votos suficientes para garantir sua vitória.
“Eu só quero encontrar 11.780 votos, o que é um a mais do que temos para vencermos no estado”, disse Trump.
Advogado trumpista Kenneth Chesebro foi arquiteto de conspiração de falsos eleitores
O comitê disse que Kenneth Chesebro, um advogado trumpista pouco conhecido, foi o arquiteto original de um plano para criar listas falsas de eleitores do então presidente. Ele trabalhava com o advogado conservador John Eastman, que escreveu um memorando detalhando, passo a passo, como o então vice-presidente Mike Pence poderia teoricamente anular os resultados das eleições de 2020.
Já se sabia que Chesebro estava envolvido no esquema de falsos eleitores, mas a conclusão do comitê sobre seu papel de liderança é nova.
Segundo o comitê, ele enviou um memorando ao então advogado de Trump, Rudy Giuliani, sobre uma “estratégia de ‘presidente do Senado’”, que afirmava erroneamente que o vice-presidente poderia escolher quais votos contar durante a certificação dos votos pelo Congresso, no fatídico 6 de janeiro.
+ Vice de Donald Trump o culpa pelo ataque ao Capitólio em novo livro
Enquanto isso, ficou claro que Trump teve uma longa conversa com Eastman para discutir várias maneiras de garantir que “o presidente Trump fosse reeleito”, com base em registros telefônicos e e-mails obtidos pela investigação após uma batalha judicial.
Trump se agarrou às teorias de Eastman, que afirmava incorretamente que Pence poderia anular a eleição, e iniciou uma campanha de pressão contra seu vice nos dias que antecederam 6 de janeiro, sem sucesso.
Comitê recomendou destituir Trump dos direitos políticos
Impedir Trump de ocupar outros cargos públicos é uma das 11 recomendações que o comitê fez como resultado de sua investigação. O relatório se concentra na seção da Constituição que afirma que um indivíduo que fez um juramento de apoiar a Constituição dos Estados Unidos, mas “se envolveu em uma insurreição” ou deu “ajuda ou conforto aos inimigos da Constituição” pode ser desqualificado do cargo.
O comitê encaminhou um pedido de processo criminal contra o ex-presidente ao Departamento de Justiça por incitar uma insurreição.
Reforma da Lei de Contagem Eleitoral
Outra recomendação do comitê pode se tornar realidade em breve. O relatório pede que o Congresso aprove uma revisão da Lei de Contagem Eleitoral, de 1887, com o objetivo de dificultar a anulação de uma eleição presidencial certificada.
A Câmara e o Senado aprovaram, cada um, sua própria versão da legislação.
Encaminhamentos criminais à Justiça
O comitê da Câmara apresentou uma série de estatutos criminais que acredita terem sido violados na conspiração para evitar a derrota de Trump, e diz que há evidências de encaminhamentos criminais ao Departamento de Justiça para Trump e seus advogados.
Os crimes incluem: obstruir de um processo oficial – no caso, a certificação do resultado eleitoral pelo Congresso, em 6 de janeiro –, conspirar para fraudar votos e incitar uma insurreição.
+ Câmara dos EUA aprova publicação de declarações fiscais de Trump
A declaração falsa de vitória de Trump foi “premeditada”
O comitê descreve que Trump sabia que sua narrativa de fraude eram falsa, mas continuou tentando reverter os resultados eleitorais mesmo assim.
“A decisão do presidente Trump de declarar falsamente a vitória na noite da eleição e, ilegalmente, pedir a interrupção da contagem dos votos, não foi uma decisão espontânea. Foi premeditado”, afirma o relatório. O comitê também revelou e-mails de Tom Fitton, presidente do grupo conservador Judicial Watch, antes da eleição presidencial de 2020 que diziam que Trump deveria declarar vitória independentemente do resultado.
O relatório observa que os principais aliados de Trump, incluindo aqueles que testemunharam perante o comitê, reconheceram que não encontraram nenhuma prova para apoiar as alegações do ex-presidente.
+ Veja quanto Trump pagou – ou deixou de pagar – em impostos
Trump se recusou a agir diante da invasão ao Capitólio
Segundo o relatório final, enquanto assistia ao ataque à sede do Congresso por seus apoiadores na televisão, ele não fez nenhum pedido de assistência de segurança e resistiu aos esforços de funcionários que pediam que ele orientasse a multidão a parar.
“O presidente Trump não contatou um único oficial de segurança nacional durante o dia. Nem no Pentágono, nem no Departamento de Segurança Interna, no Departamento de Justiça, no F.B.I., no Departamento de Polícia do Capitólio ou no gabinete do prefeito de Washington”, escreve o comitê.
Enquanto isso, funcionários da Casa Branca descreveram estar chocados com o fato de que, enquanto o Capitólio estava sob ataque, Trump publicou uma crítica a Pence no Twitter.
Durante seu último telefonema na noite de 6 de janeiro, Trump disse: “Uau, você acredita nessa m*rda?”, um ex-assessor da Casa Branca disse ao comitê de 6 de janeiro.