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As origens da onda de preconceito e violência contra asiáticos nos EUA

Comunidade é vítima de xenofobia desde o final do século 19, quando primeira onda de imigrantes chineses desembarcou no país para trabalhar

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 mar 2021, 10h00
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  • O cruel ataque em Atlanta, no estado da Geórgia, na semana passada, escancarou a realidade de preconceito vivida por muitos imigrantes e descendentes de asiáticos há mais de um século nos Estados Unidos. O autor do massacre, Robert Aaron Long, foi preso e confessou o crime. Oito pessoas morreram quando o jovem branco de 21 anos invadiu e atirou contra os funcionários e clientes de três casas de massagem. Entre os mortos estavam duas mulheres de ascendência chinesa e quatro sul-coreanas.

    O racismo contra asiáticos é um problema que não para de crescer no país. Entre 19 de março de 2020 e 28 de fevereiro de 2021, foram registrados 3.795 relatos de incidentes que variam de comentários racistas a ataques violentos contra asiáticos – 42,2% deles de origem chinesa; 14,8% de origem coreana. Segundo dados do Centro de Estudos do Extremismo da Universidade Estadual da Califórnia, no ano passado, os crimes de ódio contra essa minoria étnica nas 16 das maiores cidades americanas aumentaram 150% em relação ao ano anterior.

    O acirramento da onda de xenofobia coincide justamente com o início da pandemia de Covid-19, cujo primeiro epicentro foi a cidade de Wuhan, na China. Apesar do primeiro caso detectado nos Estados Unidos já ter sido rastreado diretamente para a Europa, a propagação de fake news e a insistência do ex-presidente Donald Trump em classificar o agente infeccioso causador da doença como “vírus chinês” ou “vírus de Wuhan” ajudaram a disseminar o sentimento de repulsa.

    Antes mesmo da atual crise, o ex-presidente já havia adotado uma posição agressiva contra o seu principal econômico e usado de seus poderes na Casa Branca para tentar barrar a matrícula de novos estudantes orientais em universidades americanas. “Donald Trump abriu as portas para que grupos racistas culpassem qualquer asiático pela situação atual e com seus discursos deu aprovação informal para que eles agissem de forma violenta”, diz Nadia Kim, socióloga e especialista em desigualdade racial da Universidade Loyola Marymount, em Los Angeles.

    A fúria destilado pelo ex-presidente republicano e muitos de seus seguidores, porém, tem origens muito anteriores ao coronavírus ou as epidemias de H1N1 e gripe aviária, quando casos de racismo semelhantes já haviam sido identificados. Assim que os primeiros imigrantes chineses desembarcaram em solo americano no final do século 19 para atuar no garimpo de ouro e construção de ferrovias, um movimento xenofóbico que acusava os estrangeiros de tentar roubar postos de trabalho ganhou força.

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    O sentimento de repúdio cresceu de tal forma que, em 1882, o governo aprovou um ato que proibia a entrada de homens chineses no país. Alguns anos antes, uma legislação semelhante já havia barrado as mulheres, sob acusação de ligação com a prostituição. “Foi nesse momento que nasceu a visão preconceituosa que se mantém até hoje de que os chineses e outros asiáticos são imorais, portadores de doenças infecciosas e defeituosos”, diz Keva Bui, do conselho da Associação de Estudos Asiáticos Americanos.

    Após um longo período de hiato, as ondas migratórias só foram restabelecidas na metade dos anos 1960, com a abolição das leis pelo presidente Lyndon Johnson. Mas o medo irreal de que os trabalhadores que deixam seus países na Ásia possam acabar com todas as oportunidades de emprego ainda persiste.

    A comunidade oriental nos EUA, aliás, conserva há anos uma reputação de ‘minoria modelo’, atribuída a ela a partir do sucesso de alguns de seus membros no campo da ciência, empresas de tecnologia e universidades renomadas. E quanto mais êxito alcançam, maior é também o preconceito destilado contra eles. “Não importa se falam inglês fluente, são ricos ou têm cidadania, imigrantes asiáticos e seus descendentes são sempre vistos como forasteiros em seu próprio país”, conclui Nadia Kim.

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