Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Argentina é melhor opção para sediar Copa de 2030, diz ministro do Turismo

Em entrevista a VEJA, Matías Lammens, chefe da pasta, fala sobre a candidatura conjunta com o Uruguai e a retomada do turismo no país pós-pandemia

Por Amanda Péchy
Atualizado em 19 dez 2022, 10h17 - Publicado em 19 dez 2022, 08h00

Responsável por cerca de 10% do PIB da Argentina, o setor de turismo é um dos poucos que ainda oferecem boas notícias à economia portenha. O peso argentino desvalorizou quase 70% nos últimos dois anos em relação ao real, afundado por uma inflação que se aproxima dos 90%, mas a crise de um lado se apresenta como oportunidade do outro. Só no primeiro semestre deste ano, o número de visitas de brasileiros ao país vizinho, encorajados pela alta no poder de compra, atingiu o recorde de 550 mil, metade do total de turistas estrangeiros no mesmo período. Em entrevista a VEJA, o ministro do Turismo argentino, Matías Lammens, explica a estratégia do setor para aproveitar o intenso fluxo de viajantes em meio à crise e revela apostas em novos destinos, que garante serem os próximos queridinhos dos brasileiros. Como grande projeto para o futuro, Lammens também discute detalhes da candidatura da Argentina, em conjunto com Uruguai, Paraguai e Chile, como sede da Copa do Mundo de 2030, que comemora o centenário do Mundial.

Neste ano, motivados pelo câmbio vantajoso, os turistas brasileiros escolheram a Argentina como destino de férias preferido. Como a indústria do turismo avalia esse equilíbrio entre crise da moeda e oportunidade?

Sem nenhuma dúvida, as crises sempre apresentam uma oportunidade. Hoje, a Argentina tem uma vantagem competitiva que tem a ver com o câmbio, proporcionando uma gastronomia, infraestrutura e destinos de alto nível a um preço muito baixo. Qualquer brasileiro que vai para Buenos Aires, Mendoza, Bariloche e Ushuaia sente que é rico. 

Teatro Colón, principal casa de ópera de Buenos Aires: cultura e lazer a preços acessíveis devido ao câmbio vantajoso. -
Teatro Colón, principal casa de ópera de Buenos Aires: cultura e lazer a preços acessíveis devido ao câmbio vantajoso. – (Visit Argentina/Reprodução)

Ao mesmo tempo, a Argentina tem a convicção de que o turismo é uma das indústrias mais importantes em termos de geração de emprego e fluxo de dólares, de divisas estrangeiras. Temos uma expectativa enorme para o ano que vem. Terminamos 2022 com um ótimo nível de ocupação de todos os destinos-chave do país, e pretendemos, em 2023, superar os números da pré-pandemia, com o turismo brasileiro como nosso principal mercado e sócio.

A empolgação foi tanta que a Gol, aqui no Brasil, resolveu dobrar as saídas semanais para Buenos Aires e Mendoza. Como a Argentina pretende aumentar as rotas entre os países?

Nós temos negociado com nossos colegas da Aerolíneas Argentinas, e já vamos terminar o ano com mais assentos disponíveis do que antes da pandemia, o que mostra a capacidade de recuperação do tráfego turístico entre Argentina e Brasil. 

Continua após a publicidade

A Aerolíneas Argentinas criou novos voos não somente para Buenos Aires, mas fez rotas entre São Paulo e Mendoza, bem como São Paulo e Salta e Jujuy, em conexão direta com o norte Argentino, que é uma grande aposta nossa como destino. Também criamos uma linha direta entre São Paulo e Ushuaia, que prescinde de ponte em Buenos Aires, algo muito demandado pelas agências de viagens brasileiras. 

San Salvador de Jujuy: paisagens exóticas no norte da Argentina. -
San Salvador de Jujuy: paisagens exóticas no norte da Argentina. – (Visit Argentina/Reprodução)

Além de São Paulo, também há mais voos saindo de Curitiba e uma nova linha do Rio de Janeiro a Mendoza. O aumento de conexões aéreas é uma grande oportunidade para produzirmos um novo recorde de visitas de turistas brasileiros à Argentina e vice-versa.

Como e por que essas novas rotas foram escolhidas?

É um trabalho do Ministério do Turismo e do Inprotur, nosso Instituto Nacional de Promoção Turística, por meio do qual detectamos oportunidades e demandas do turismo brasileiro. Sabíamos que havia muitos lugares do interior do Brasil e cidades nos arredores de São Paulo que queriam visitar a Argentina. Nosso trabalho começa a partir de um programa que monitora as cidades de origem de turistas brasileiros, não só de qual aeroporto vieram. Todos esses fatos foram levados em conta para criar novas rotas aéreas, que é a primeira etapa de um projeto que vai continuar crescendo. Na temporada passada, no fim do inverno, fizemos uma aposta enorme com a Aerolíneas Argentinas, baseada nesses dados, que deu muito certo. Mais de 1 milhão de turistas estrangeiros de todo o mundo vieram à Argentina, e temos a expectativa de superar esse número no próximo inverno com mais rotas e mais aviões, sobretudo para Bariloche e Ushuaia, nossos maiores destinos de neve.

São Paulo terá conexão direta com Ushuaia, um dos principais destinos para turismo de neve na Argentina. -
São Paulo terá conexão direta com Ushuaia, um dos principais destinos para turismo de neve na Argentina. – (Visit Argentina/Reprodução)

Quais são os principais destinos escolhidos atualmente? Existe alguma outra aposta que o setor de turismo pretende fazer para ampliar o leque de destinos escolhidos pelos turistas brasileiros?

Continua após a publicidade

É certo que os brasileiros são o nosso principal mercado, e já conhecem, principalmente, Buenos Aires, Mendoza e a Patagônia. Nossa intenção é impulsionar novos destinos, e apostamos especialmente em turismo de natureza, como Esteros del Iberá, em Corrientes, saiu na lista do The New York Times de “52 lugares para visitar em 2022”. É pouco conhecido, mas acreditamos que o povo brasileiro vai gostar muito de Esteros del Iberá.

Argentina aumenta aposta em turismo de natureza com Esteros del Iberá, em Corrientes. -
Argentina aumenta aposta em turismo de natureza com Esteros del Iberá, em Corrientes. – (Visit Argentina/Reprodução)

Além dos brasileiros, quem são os principais turistas estrangeiros que a Argentina recebe e pretende atrair no ano que vem?

Uruguaios e americanos, principalmente. Inclusive, os americanos já estão superando hoje os números da pré-pandemia. Somos o principal destino dos Estados Unidos na região, e também é um mercado que nos interessa muito por ter um alto gasto médio e estadias longas. 

Um detalhe importante é que cartões de crédito, como MasterCard e Visa, estão reconhecendo o câmbio de mercado, não o oficial. Antes, o turista estrangeiro teria que trocar dinheiro em casas de câmbio pela cotação efetiva, mas agora pode usar seu próprio cartão, o que resulta em quase o dobro do poder de compra.

O câmbio está favorável para os turistas brasileiros, mas como fica o turismo interno na Argentina em meio à crise?

Continua após a publicidade

O turismo interno também está se recuperando. Há pouco, fizemos uma reunião do Conselho Federal de Turismo, órgão consultivo federal integrado pelo Ministério do Turismo, com todos os ministros das províncias e concordamos que, ano passado, tivemos as melhores temporadas de verão e inverno dos últimos 20 anos. Estamos trabalhando em impulsionar, através de diversos programas do governo, a demanda de turismo interno.

Então é possível dizer que o turismo argentino já está recuperado do marasmo da pandemia?

Em termos de turismo interno, a Argentina não só se recuperou do período da pandemia, como está crescendo, com números acima da pré-pandemia. No turismo estrangeiro, estamos muito perto da recuperação de 100%, com a expectativa de superar os números de 2019 no ano que vem.

Pensando no futuro, um dos maiores projetos turísticos da Argentina é sua candidatura, junto com o Uruguai, como sede da Copa do Mundo de 2030. Como foi concebido esse objetivo?

A primeira Copa da história aconteceu no Uruguai, em 1930, com a final em Montevidéu. Com o centenário, nasceu a candidatura do Uruguai em conjunto com a Argentina, e agora o Paraguai e o Chile também entraram no projeto. A candidatura regional, na qual estamos trabalhando há quatro anos, representa um reconhecimento do futebol da América do Sul, porque somos o continente que, sem dúvida, tem proporcionado os melhores jogadores de futebol da história. Também somos o continente que, junto à Europa, disputou todas as Copas do Mundo. Acreditamos que sediar o Mundial é um reconhecimento do lugar que a América do Sul ocupa no mundo do futebol. 

Continua após a publicidade

A candidatura da Argentina como sede competirá com outros projetos fortes, como a candidatura conjunta de Espanha e Portugal. Como o país pretende se diferenciar e se destacar? O que a Argentina pode oferecer como anfitriã que ninguém mais pode?

O diferenciador da nossa candidatura, que inclusive o diretor da Fifa já destacou, é justamente o centenário do primeiro Mundial de 1930. Seria a melhor escolha de sede, para celebrar onde tudo começou. Em termos de estádios e infraestrutura, nenhum país da América do Sul poderia competir com a Europa, mas acredito que merecemos ser reconhecidos pelo que proporcionamos ao futebol mundial como continente.

Situado no famosíssimo bairro de La Boca, estádio do Boca Juniors, mais conhecido como La Bombonera, é o terceiro maior de Buenos Aires. -
Situado no famosíssimo bairro de La Boca, estádio do Boca Juniors, mais conhecido como La Bombonera, é o terceiro maior de Buenos Aires. – (Visit Argentina/Reprodução)

Quais são os principais planos para melhorar a infraestrutura do país para a Copa do Mundo de 2030?

Nossos principais planos têm a ver com o aprimoramento de rotas, especialmente do transporte público na Argentina. Aqui, apostamos no sistema ferroviário, porque somos um país muito grande e historicamente bem conectado por ferrovias. Há uma oportunidade para que muitos turistas conheçam diversos destinos, porque não estarão aqui só para assistir aos jogos – terão três ou quatro dias livres entre cada partida –, e queremos melhorar a conexão entre diferentes regiões do país. Acreditamos que sediar a Copa vai aumentar, também, a conexão da Argentina com o mundo.

Qual é o legado que a Argentina pretende deixar ao sediar a Copa do Mundo em 2030? Como bem ensinou o Brasil, criar elefantes brancos em meio a uma crise econômica não parece a melhor ideia.

Continua após a publicidade

Precisamos pensar muito bem no que já temos na Argentina. Muitos de nossos estádios já foram usados no Mundial que sediamos em 1978, mas com certeza teremos que reformá-los e investir muito nisso. Em princípio, contudo, não teríamos que construir estádios novos na Argentina – com tudo o que isso significa. Pensando em elefantes brancos, podemos dizer que, hoje, usamos todos os estádios que foram construídos para o Mundial de 1978. Ao mesmo tempo, acreditamos que a Copa é uma ótima oportunidade em termos econômicos, especialmente devido ao fluxo de dólares. 

Mesmo com a necessidade de investimento do governo na infraestrutura, o benefício econômico seria maravilhoso, e permitiria também, em termos de legado, criar infraestrutura com utilidade prática. Nosso objetivo como sede é melhorar o país para nossa própria população e fazer com que a Argentina continue se construindo como potência turística. Cada peso que se gasta com infraestrutura turística significa um investimento sólido.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.