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Domingos Montagner

“As mudanças chegam, e não é preciso provocar”

Por Isabela Boscov Atualizado em 13 jan 2017, 16h21 - Publicado em 16 set 2016, 11h24
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  • Estou viajando e, por causa do fuso horário, já era de madrugada quando fiquei sabendo da morte trágica de Domingos Montagner, durante um mergulho que deveria ter sido um momento de prazer e de comemoração do seu trabalho soberbo em Velho Chico. Domingos tinha 54 anos e teve uma carreira longa no teatro e no circo (que ele adorava), mas breve na televisão e no cinema: só aos 49 anos fez seu primeiro papel na TV. E disparou, porque era um desses talentos autênticos, imediatamente convicentes e persuasivos, que não precisam de ornamentação nem de promoção. Sinto não só pela perda de um grande ator, mas sobretudo pela perda de uma pessoa tão serena, tão gentil, tão doce e acolhedora. Entrevistei Domingos uma vez apenas, durante o lançamento de De Onde Eu Te Vejo, e não posso em hipótese nenhuma dizer que o conhecia. Mas, como já tenho também um bom tempinho de vida e essas coisas a gente vai aprendendo, posso dizer com segurança que uma doçura e uma calma como as dele são coisas que não se pode interpretar; ou elas são genuínas, ou não são.

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    Com Camila Pitanga em “Velho Chico” ()

    Fui, portanto, procurar a entrevista que fiz com ele, Denise Fraga e o diretor Luiz Villaça naquela ocasião. Reproduzo aqui dois trechos dela, em que Domingos falou mais; embora seja tristíssimo ouvir a voz dele hoje e saber que ele se foi, acho que percebe-se no que ele diz, e como o diz, que pessoa de sentimentos finíssimos ele era.

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    Com Denise Fraga em “De Onde Eu Te Vejo” ()

    De Onde Eu Te Vejo fala de um casal que está junto já há bastante tempo, mas que acaba de passar a viver em dois apartamentos separados, de cujas janelas eles se veem: Ana Lúcia (Denise) acha que a vida deles está muito igual, e que não é possível que duas pessoas não mudem nunca; algo deve estar errado. Fábio (Domingos) vê que não há como contornar a comichão de Ana Lúcia, e a aceita – mas gostaria que tudo pudesse permanecer como era, e que não fosse necessário a eles passar por isso. “O que eu acho lindo no filme”, disse Denise, “é essa consciência de que tudo se move”. E como se move.

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    Entrevista

    Domingos, a Denise e o Luiz são casados e costumam trabalhar juntos. Como você entrou foi participar desse projeto junto com eles?

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    Tudo começou, no meu caso com um convite do (diretor)  Luiz (Villaça), que me deu uma alegria muito grande, porque nós temos uma admiração mútua. O Luiz conhece minha história no teatro, no circo, e ele confiar em mim para fazer esse personagem e trabalhar com a Denise foi uma honra. Você lê o roteiro e vê que é uma oportunidade de exercer seu ofício com tanta dignidade, com tanta importância, então isso já começa bem, né? Durante as leituras e os ensaios de cena, fomos construindo com cuidado qual seria a dimensão desse casal, e para onde queríamos conduzi-lo. Acho que a Denise e eu temos também essa relação com a comédia, e um tônus de interpretação muito semelhante para trabalhar nesse limiar entre a comédia e o drama. Temos uma afinidade de apreciação sobre como a comédia e o drama andam juntos. É uma coisa muito bonita; eu como palhaço gosto muito do lirismo, da melancolia, aliados ao humor.

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    O filme fala muito da importância de conservar certas coisas – relacionamentos, a memória de uma cidade – não só por hábito, mas principalmente por redescobrir as razões pelas quais elas merecem ser conservadas. Esse é um sentimento doce, terno, e que não é muito celebrado no cinema hoje.

    O Fábio tem uma visão instintiva disso. Ele vê a vida como uma mudança natural; as mudanças acontecem e ele administra isso com muita naturalidade. Ele não tem avidez pela mudança; não é preciso ficar aflito por ela, porque ela chega. Ele tem uma atitude conciliadora para com a própria vida mesmo, e uma facilidade maior para identificar quais as constantes dentro das mudanças. Sou um pouco assim também. Sou uma pessoa tranquila, gosto de ficar quietinho. Assim como o Fábio, acho que as mudanças chegam, e não é preciso ficar provocando muito, não.

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