Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Vidigal, uma fábrica de boxeadores

Situado na favela, o centro de treinamento por onde passou Patrick Lourenço e Michel Borges é um exemplo de como o empenho pode vencer a falta de dinheiro

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 dez 2020, 15h52 - Publicado em 13 ago 2016, 14h44
  • Seguir materia Seguindo materia
  • É em uma antiga oficina mecânica que o talento de dois pugilistas foi descoberto e talhado. Patrick Lourenço, já eliminado da Olimpíada, e Michel Borges, que disputa uma vaga nas semifinais do boxe no domingo, jamais se imaginaram no picadeiro máximo do esporte. Muito cedo, chamaram a atenção do ex-boxeador Raff Giglio, 51 anos, dono de um centro de treinamento na favela do Vidigal, Zona Sul do Rio de Janeiro. O espaço de 200 metros quadrados recebe crianças do morro e lhes oferece, de graça, condições para que se tornem atletas.

    Publicidade

    O centro vive na corda-bamba financeira. Às vezes, falta faxina, falta ringue e até luvas. É nessa estrutura, sem qualquer apoio da Confederação Nacional ou de governos, que nascem atletas como Patrick e Michel. “Há muito talento na favela, mas ninguém investe. É triste constatar a escassez de dinheiro para treinar potenciais pugilistas olímpicos. Conseguir patrocínio é uma saga, quando conseguem.”

    Publicidade
    Raff Giglio, o idealizador do centro de treinamento de boxe na favela do Vidigal
    Raff Giglio, o idealizador do centro de treinamento de boxe na favela do Vidigal (Veja/VEJA)

    Giglio, o ex-boxeador que banca o centro, é de Ipanema. Em 1993, ele montou uma academia de boxe no acesso à favela, bom negócio até que uma longa guerra entre traficantes fez o lugar ficar às moscas. Só restaram ali os moradores do morro. Giglio encontrou uma oficina mecânica que estava prestes a fechar e, com a ajuda do ator Malvino Salvador, conseguiu pagar o aluguel. O próprio Giglio refez o teto e tirou a graxa espalhada nas paredes. A reforma, custeada com venda de doces e festas beneficentes, se arrastou um ano pela falta de pessoal e de dinheiro. Hoje, 100 crianças estão no projeto social.

    Continua após a publicidade

    “Os alunos que moram nos bairros nobres do Rio não querem levar soco de verdade. Na favela, os garotos já nascem lutando para sobreviver, por isso a maioria dos boxeadores é de periferia”, diz Giglio, a propósito da alta procura. A um mês da Olimpíada, ele não arranjou dinheiro para mandar um atleta e um técnico para o campeonato brasileiro de boxe em Cuiabá, na categoria Cadete, de 15 a 16 anos. “Foi uma ironia, às vésperas dos Jogos, não conseguir com o governo nenhum tostão. É esse o incentivo que temos”, se queixa. A solução foi a de sempre: pagou do próprio bolso.

    Publicidade

    É consenso no esporte que, sem um bom sistema de rastreamento e treino de talentos na base, não é possível avançar em qualquer modalidade. Mas, no Brasil, a base vive muitas vezes da boa vontade de gente como Giglio. Potenciais atletas também perdem o estímulo, principalmente nas favelas, porque têm que trabalhar mais cedo para ajudar em casa. Os que não têm a pressão do dinheiro podem investir mais. É o caso do boxeador Esquiva Falcão, prata em Londres e também formado no Vidigal.

    Foi Giglio que o levou à favela para voltar a treinar, justamente em um momento em que ele havia largado o boxe, em 2007. Depositou 100 reais para que Esquiva comprasse a passagem do Espírito Santo ao Rio, o buscou na rodoviária e ofereceu a academia como casa. Um ano depois, ele foi chamado à seleção brasileira e acabou conquistando a medalha em Londres. Desde então, Giglio passou a ser chamado de “paizão”. No domingo, ele estará o mais próximo que conseguir de Michel Borges. Vai sair de casa na expectativa de ver o pupilo no pódio.

    Publicidade
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.