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Marta vale ouro. E não precisa ser melhor que Neymar

Se coubesse comparação, genial jogadora seria o Pelé entre as mulheres. Mas, infelizmente, só é valorizada de 4 em 4 anos

Por Luiz Felipe Castro, do Rio de Janeiro
Atualizado em 7 ago 2016, 13h51 - Publicado em 7 ago 2016, 10h51

Messi ou Cristiano Ronaldo, Senna ou Prost, Federer ou Nadal? As comparações no esporte são deliciosamente inevitáveis e, sobretudo se os envolvidos forem contemporâneos, podem ser sustentadas com argumentos sólidos – ainda que raramente haja consenso. Nesta Olimpíada do Rio, já nasceu um novo duelo,  entre brasileiros. Nas vitórias da seleção feminina de futebol, o Engenhão foi tomado pelo coro: “Ah, a Marta é melhor que Neymar”. O mesmo ocorreu nas redes sociais.

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Se fosse possível comparar homens a mulheres no esporte, Marta seria, na verdade, o Pelé do futebol feminino. Melhor jogadora da história, cinco vezes eleita Bola de Ouro, reconhecida mundialmente. O orgulho da pequena Dois Riachos, em Alagoas, é também a maior artilheira da história das seleções brasileiras com mais de 100 gols, superando os 95 de Pelé. Nunca houve no futebol entre mulheres uma perna esquerda tão letal e criativa quanto a dela (neste caso, caberia a comparação a Messi ou Maradona). 

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Mas Marta jamais poderá ser Pelé ou Neymar, isso sem nem entrar na questão óbvia que envolve a disparidade física entre os gêneros (o que explica a diferença abissal dos recordes de natação ou atletismo, por exemplo). O futebol é um dos esportes mais machistas que existem, ainda mais no Brasil. Por aqui, o time de Marta e Formiga só é visto e valorizado a cada quatro anos e olhe lá. Todas as políticas de incentivo ao futebol feminino no país fracassaram, por diversos motivos, e um deles é o desinteresse popular. Você já assistiu à final da Champions League feminina? Sim, ela existe e Marta já jogou (perdeu, inclusive). A brasileira joga na Suécia e ganha bem, mas provavelmente menos que qualquer jogador titular de clube grande da Série A. 

Caso conquiste a medalha de ouro inédita, ao lado de guerreiras como Cristiane, Formiga, Bia, Andressinha e outras, Marta poderá reduzir esse abismo entre homens e mulheres. Mas o ideal seria não depender do resultado, assim como ocorreu no vôlei. Com o sucesso dos homens, investiu-se no esporte e não no gênero. Hoje o Brasil é bicampeão olímpico no vôlei feminino e ninguém compara Taísa a Lucarelli. No tênis mundial, já se discute a necessidade de equiparar as premiações para homens e mulheres. No futebol, ainda mais no Brasil,  isso é inimaginável, mas já será uma vitória se Marta e companhia conseguirem atrair um mínimo de investimento, como ocorre no basquete ou no handebol do Brasil. Esse prêmio valeria muito mais do que ouvir um oportunista comentário de que o futebol feminino nos emociona mais do que o masculino.

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Marta, por sinal, não gosta de ouvir que é melhor que Neymar. Primeiro por manter boa relação com o atacante do Barcelona e segundo por saber que caso a medalha ou a Bola de Ouro não venham será novamente escanteada. E tambėm porque, em mais uma prova de machismo, o duelo serve mais para menosprezar Neymar (em baixa com a torcida) do que para exaltá-la. O técnico das mulheres, Vadão, também evita o tema. “Eu gostaria de ter o Neymar comigo, como o Micale e o Tite gostariam de ter a Marta. Mas não dá para comparar. E não gostamos disso porque soa como uma rivalidade que não existe. Os meninos sempre nos mandam mensagens de apoio e nós também torcemos por eles. A seleção é uma só.” 

Depois da goleada contra a Suécia, Marta atendeu cerca de uma centena de fãs que a aguardavam na saída do Engenhão. Com uma simplicidade incrível, fez selfies com um por um. “Calma, vou tirar foto com todos. Mas preciso ir logo, o ônibus já vai sair”. Hoje, Marta é certamente mais humilde que Neymar. Mas também é infinitamente menos visada e cobrada. É preciso entrar no Google para saber onde ela joga (FC Rosengard). Não há registro de que tenha sido vaiada. Sua vida pessoal é um mistério. A rainha da bola não é um fenômeno compatível com seu talento por culpa nossa. Marta vale ouro para o Brasil, como Pelé e Neymar. E Formiga, Cristiane e companhia.

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Neymar e Marta durante amistoso entre Amigos de Neymar e seleção baiana, em 2011
Neymar e Marta durante amistoso entre Amigos de Neymar e seleção baiana, em 2011 (Divulgação)
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