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Legado olímpico: depois das medalhas, o maior desafio

Fazer uma Olimpíada custa caro demais. Melhorar a cidade-sede tornou-se a única forma de justificar o gasto. O problema é que isso raramente dá certo...

Por Giancarlo Lepiani
7 abr 2012, 12h17

Se fracassar na tentativa de garantir transformações positivas nas cidades que recebem os Jogos, o COI se arrisca até mesmo a ficar sem candidatas dispostas a receber as edições seguintes

A cena já virou clichê: diante de um telão instalado em praça pública, uma multidão aplaude e celebra a escolha de sua cidade para receber a próxima Olimpíada. Tivessem em mãos a conta exorbitante da maior festa esportiva do planeta, a imagem seria bem diferente: os moradores da futura cidade-sede provavelmente acabariam vaiando o resultado da eleição promovida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Cada vez mais caras e complicadas, as Olimpíadas são, numa análise fria, uma péssima aposta e um risco gigantesco para qualquer cidade que se disponha a promovê-las. Desde 1896, os Jogos da era moderna já passaram por 23 cidades, incluindo gigantes ricas e desenvolvidas (como Paris, Londres e Los Angeles), metrópoles caóticas (Moscou, Pequim e Cidade do México) e sedes menores e mais modestas (Seul, Montreal, Melbourne). Cada uma recebeu o evento à sua maneira, mas todas sofreram mudanças, em maior ou menor escala, em decorrência dos Jogos. O impacto sofrido pelas sedes olímpicas tem aumentado de forma exponencial nas edições mais recentes, à medida em que o evento torna-se ainda maior e mais complexo – St. Louis (1904), Antuérpia (1920) e Helsinque (1952), por exemplo jamais seriam capazes de fazer uma Olimpíada em sua versão atual. Na primeira vez que foi sede olímpica, Londres recebeu cerca de 2.000 atletas de 22 países. Dentro de três meses, a capital britânica terá de abrigar mais de 10.000 competidores de mais de 200 países – sem contar um contingente imenso de torcedores, jornalistas e autoridades em constante movimento, numa cidade que já sofre de superlotação e de uma implacável disputa por espaço. Dar conta desse terremoto urbano, ainda que ele dure pouco mais de duas semanas, custa muito caro. E o pior: quando uma cidade embarca na aventura olímpica, jamais tem a certeza de quanto gastará, já que os orçamentos iniciais sempre acabam sendo inflacionados.

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Para quem tem dúvida do tamanho da encrenca financeira em que se metem as sedes olímpicas, basta dizer que uma das edições mais recentes dos Jogos teve poder destrutivo suficiente para ajudar a mergulhar na crise o continente mais desenvolvido do planeta. É consenso entre os economistas europeus que a gastança desenfreada promovida para a Olimpíada de Atenas, em 2004, foi uma das grandes culpadas pelo atoleiro de que a Grécia tenta fugir hoje. Mais catastrófica ainda é a constatação de que a dinheirama consumida pelo evento foi simplesmente jogada no lixo – as milionárias instalações olímpicas de Atenas agora são inúteis e estão abandonadas. É por isso que o caso grego é o mais emblemático quando se discute a armadilha econômica de se realizar uma Olimpíada. O custo estratosférico do evento é inevitável. Resta aos defensores da realização dos Jogos insistir no valor do legado olímpico – ou seja, justificar a montanha de despesas sustentando que o dinheiro, na verdade, serve de investimento para melhorar a cidade no futuro. É um argumento legítimo, é claro – mas que precisa ser avaliado com extrema cautela e desconfiança. Isso porque a história recente dos Jogos mostra que não é nada simples fazer uma Olimpíada de sucesso e ainda deixar para trás uma cidade melhor para se viver (confira no quadro abaixo). Até por uma questão de sobrevivência de seu maior patrimônio, o COI vem priorizando cada vez mais os projetos de legado urbano e esportivo na hora de selecionar uma futura sede olímpica. Se fracassar na tentativa de garantir transformações positivas nas cidades que recebem os Jogos, o comitê se arrisca até a ficar sem candidatas dispostas a receber as edições seguintes. É por isso que, ao dar início à inspeção final antes dos Jogos de Londres, no mês passado, o presidente do COI, Jacques Rogge, bateu tanto na tecla da herança olímpica. “Londres criou um novo padrão de como entregar um legado duradouro. Já é possível ver resultados palpáveis da incrível revitalização da região leste da cidade. Esta grande e histórica cidade já deixou sua marca no legado para os próximos Jogos”, sentenciou o cartola.

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Londres, de fato, parece estar seguindo uma receita vencedora

medalha de ouro entre os projetos recentes de legado olímpico

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o destino do Estádio Olímpico

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