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E a Fifa vai conhecer o novo velho rosto do futebol brasileiro

José Maria Marin está confirmado na reunião entre Dilma e Blatter, na sexta. Mas federações já preparam saída do cartola, um 'coadjuvante profissional' do poder

Por Giancarlo Lepiani
15 mar 2012, 18h04

Derrotado na política, o advogado e ex-ponta José Maria Marin navegou com mais habilidade num meio bem menos democrático, o do futebol

Vitoriosos na queda-de-braço que culminou na renúncia de Ricardo Teixeira, Dilma Rousseff e Joseph Blatter têm encontro marcado para discutir a organização da Copa do Mundo de 2014. Na reunião de sexta-feira, em Brasília, a presidente da República e o presidente da Fifa tentarão acertar os ponteiros e fazer a preparação do país para o evento deslanchar de vez. Na quarta-feira, a Fifa confirmou que Pelé, nomeado por Dilma embaixador da Copa no Brasil, também estará no encontro. Além do atleta mais conhecido do planeta, outro ex-jogador participará do encontro. Este, porém, terá de ser apresentado à cúpula da Fifa, que jamais teve contato algum com o novo interlocutor. Ponta-direita do São Paulo no começo dos anos 1950, José Maria Marin, novo presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa, dividirá a mesa com Dilma, Blatter e Pelé, em novo capítulo de uma biografia marcada por notáveis coincidências. Marin, paulista, 79 anos, tem pelo menos um talento inegável: é craque em orbitar astros de primeira grandeza, em caminhar na sombra de quem detém o poder. Coadjuvante profissional, o político transformado em cartola sempre escolheu protagonistas de peso para seguir – e, mais incrível, sempre acabou presenteado de forma generosa pelas circunstâncias desses relacionamentos. O repertório de Marin, porém, acaba aí. Outra página repetida em sua trajetória é o fracasso em multiplicar os frutos de sua boa fortuna. Não deve ser diferente desta vez. Enquanto Blatter se preparava para vir ao país e conhecer o novo velho rosto do futebol brasileiro, dirigentes das federações estaduais já esboçavam um fim para sua gestão na CBF (leia mais abaixo).

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O padrinho preferido: Marin com Maluf - que o cartola abandonou em favor de Tancredo
O padrinho preferido: Marin com Maluf – que o cartola abandonou em favor de Tancredo (VEJA)
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Filho de um imigrante galego que ajudou a difundir o boxe no país, Marin virou jogador de futebol em 1950, contratado pelo São Paulo, campeão paulista do ano anterior. Num time que fez história e era comandado pelo gênio Leônidas da Silva, Marin era reserva – em duas temporadas, jogou vinte vezes. Com os bichos acumulados pelas vitórias do supertime de Leônidas, Marin custeou seus estudos, formou-se em Direito e decidiu entrar na política. Começou como vereador em 1960, representando o grupo político liderado por Plínio Salgado. No regime militar, foi deputado estadual pela Arena, onde transformou-se num dos principais auxiliares de Paulo Maluf. Eleito vice-governador na chapa malufista em 1978, ganhou a chance de administrar o estado mais rico do país por quase um ano, em função da saída de Maluf para a disputa da sucessão presidencial no colégio eleitoral. Depois de um mandato-tampão absolutamente esquecível, saiu vaiado do Palácio dos Bandeirantes na cerimônia de posse do sucessor, Franco Montoro, em 1983. Marin voltaria ao palácio em 1984 – mas para comunicar que estava abandonando Maluf, cada vez mais enfraquecido na disputa presidencial, e aderindo a Tancredo Neves. Marin pensava em retomar a carreira política interrompida dois anos antes, e agora queria fugir da associação a Maluf. Filiado ao PFL, virou presidente regional da legenda e se aliou a outra figura emblemática: Jânio Quadros, que contou com o apoio de Marin para ser eleito prefeito de São Paulo. Mas o convívio com papa-votos como Maluf e Jânio não foi o bastante para transformá-lo em candidato vencedor: em 1986, ficou em quarto na eleição para senador por São Paulo (atrás de Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Hélio Bicudo). Ainda seria candidato a prefeito da capital paulista em 2000 (recebeu 0,18% dos votos) e a senador em 2002 (0,2%).

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Chefe da delegação da seleção na Copa do México, em 1986, José Maria Marin atrapalhava o treino dos craques de Telê - botava calção e chuteiras e entrava em campo
Chefe da delegação da seleção na Copa do México, em 1986, José Maria Marin atrapalhava o treino dos craques de Telê – botava calção e chuteiras e entrava em campo (VEJA)

Derrotado na política, Marin navegou com mais habilidade num meio menos democrático, o do futebol. Munido de bons contatos na política estadual, chegou à presidência da Federação Paulista de Futebol (FPF), onde atuou de 1982 a 1988. Nesse período, ganhou a chance de presidir a delegação brasileira na Copa do Mundo de 1986, no México. A desorganização patrocinada por Marin foi apontada como um dos obstáculos ao sucesso do time comandado por Telê Santana. Num dos treinos antes do embarque para o México, Marin vestiu calção e chuteiras para se misturar aos boleiros. Enquanto isso, Telê implorava, sem sucesso, pelo agendamento de amistosos de preparação na Europa. Já na Copa, Marin trocou a concentração da seleção por um hotel no centro de Guadalajara, de onde não parava de disparar telefonemas para São Paulo. Marin queria a taça para ganhar fôlego novo na política, mas, em meio ao torneio, estava mais preocupado com as negociações partidárias do que com o desempenho da equipe. Depois dos fiascos nas eleições de 2000 e 2002, Marin foi agraciado com um bilhete de volta à cartolagem – indicado por Marco Polo Del Nero, presidente da FPF, passou a ser um dos vices da CBF. Com a queda de Teixeira, a chance de assumir o comando não veio por mérito, mas por idade – o estatuto previa a entrega do cargo ao vice com mais idade. Curiosamente, não foi a ascensão ao principal cargo diretivo do esporte brasileiro que devolveu o nome de Marin ao noticiário. Meses antes de assumir a CBF, foi, enfim, protagonista – estrelando o vídeo em que é flagrado embolsando uma medalha na premiação de um torneio de futebol júnior no Estádio do Pacaembu (assista às imagens abaixo). Menos de dois meses depois, lia a carta de renúncia de Teixeira e transformava-se no cartola mais poderoso do país – ao menos por enquanto.

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Nas federações estaduais, cresce a mobilização por novas eleições

No mês passado, quando a renúncia de Ricardo Teixeira ainda estava longe de ser oficializada, VEJA já informava que o dirigente que controlou o futebol brasileiro durante 23 anos vivia uma situação insustentável – e que José Maria Marin poderia ter vida curta como seu sucessor. Naquela ocasião, VEJA revelou que a presidente Dilma Rousseff encomendou ao deputado Vicente Cândido, do PT paulista, o início de uma articulação com clubes e federações para substituir Marin. A presidente teme que escândalos de corrupção na construção de estádios ou em contratos com fornecedores da Copa manchem a imagem do Brasil e de seu governo no exterior – motivo pelo qual patrocinou a saída de Teixeira. Nesta semana, a primeira de Marin como presidente da CBF, os primeiros sinais de que o cartola pode não chegar ao fim do mandato (previsto para 2015) já começaram a ser vistos. Federações contrárias à permanência de Marin no cargo já começaram a discutir a possibilidade de convocar uma nova eleição. Pelo menos seis federações defendem abertamente a troca de Marin. Nos últimos dias, pelo menos seis outras federações passaram a acenar com um possível apoio a um novo pleito.

“Quando estendemos o mandato do Teixeira até 2015, demos o direito a ele, não ao Marin”, disse o presidente da federação baiana, Ednaldo Rodrigues, em entrevista à Agência Estado. Marin tem mandato garantido até 2015, mas isso não deve ser problema para os cartolas do país, notórios pela habilidade em rasgar as regras e virar a mesa. Fala-se, por exemplo, em reprovar as contas da gestão Teixeira, o que viabilizaria a convocação de novas eleições. De qualquer forma, um novo pleito só pode acontecer depois da convocação de uma nova assembleia. Para isso, é necessário reunir as assinaturas de seis presidentes de federações – o que, a essa altura do campeonato, já parece um jogo ganho. Enquanto isso, Marin prefere acreditar que está firme no comando. Na quarta-feira, o site oficial da CBF divulgou uma entrevista com o novo presidente, que se disse tranquilo em relação às movimentações dos presidentes de federações. “Tenho conversado com todos, alguns meus amigos de longa data. Com outros, falo pelo telefone, já que estão viajando. Posso assegurar que todos estão unidos e convencidos de que temos uma responsabilidade enorme, que é a de conduzir o futebol brasileiro a bom termo.”

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