Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Sem Teixeira, começa luta pelo poder no futebol brasileiro

Marin tem mandato garantido até 2014. Mas clubes e federações já começam a se movimentar nos bastidores - e o novo presidente da CBF pode ter vida curta

Por Da Redação
13 mar 2012, 11h27

Temendo uma gestão que favoreça os interesses de São Paulo, federações contrárias a Marin já preparam o terreno para tentar substituí-lo, através da realização de uma nova eleição. E esses opositores já têm até um caminho esboçado para derrubar Marin

A queda de Ricardo Teixeira, que renunciou à presidência da CBF na segunda-feira, depois de 23 anos no poder, deve dar início a uma das disputas mais acirradas da história recente do futebol brasileiro. A partir desta terça-feira, clubes e federações devem começar a articular alianças e discutir o futuro, de olho num ano decisivo para o esporte no país – dentro de pouco mais de dois anos, o Brasil vai sediar a Copa do Mundo. Pelos regulamentos da confederação, não deveria nem haver discussão: José Maria Marin, o vice-presidente com mais idade, assume o cargo em definitivo até o fim do mandato previsto para Teixeira, em 2014. Da mesma forma, o ex-governador paulista, de 79 anos, torna-se também o presidente do Comitê Organizador Local da Copa. Na teoria, está garantido nas duas funções até o Mundial. Na prática, contudo, a situação de Marin é bem mais instável, pois ele não é visto como nome de consenso para comandar o futebol brasileiro nesse período crítico de preparação para 2014. Ainda não está claro o que pode ser feito para esvaziar sua função e alterar a balança do poder no futebol, mas isso não deve ser problema para os cartolas brasileiros – notórios pela habilidade em rasgar as regras e virar a mesa, é bem possível que, caso Marin seja visto como o nome errado para presidir a CBF, o mandato legítimo do cartola não seja obstáculo para uma articulação política que o afaste do cargo.

Acervo Digital VEJA: Ricardo Teixeira, 23 anos de poder e polêmicas na CBF

A chance de uma batalha nos bastidores a partir da saída de Teixeira ficou explícita na tarde de segunda, nas horas que sucederam a notícia da renúncia. Não houve uma posição comum dos clubes e federações após a troca de guarda na CBF. Pegas de surpresa, algumas agremiações simplesmente se calaram, aguardando as próximas jogadas antes de escolher uma posição. Outros cartolas, satisfeitos com a queda de Teixeira, comemoraram abertamente a notícia e saudaram Marin. Outro grupo, porém, iniciou imediatamente as movimentações para evitar a perda de espaço na nova gestão. Entre os dirigentes claramente insatisfeitos com a sucessão na CBF, a preocupação não é com a falta de capacidade de Marin – um advogado que fez carreira política aliado a Paulo Maluf, e que simboliza o lado mais retrógrado e amador do futebol brasileiro. O risco, para eles, é o fim dos tempos de livre trânsito no comando da CBF – algo a que clubes como o Corinthians, por exemplo, estavam acostumados nos últimos anos com Teixeira. O clube paulista, dono da segunda maior torcida do país, viveu uma fase de notável fortalecimento político na reta final da gestão de Teixeira. A aproximação entre os dirigentes foi tamanha que a CBF transformou-se numa espécie de filial corintiana na Barra da Tijuca, onde fica a sede da confederação. Andrés Sanchez trocou a presidência do Corinthians pelo cargo de diretor de seleções, função criada especificamente para ele. Mano Menezes deixou o cargo de treinador corintiano pelo comando da seleção. E Ronaldo, que se aposentou jogando pelo Corinthians, passou a ocupar um cargo na chefia do comitê da Copa de 2014.

Continua após a publicidade
Ricardo Teixeira, presidente da CBF, e Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, na sede da CBF
Ricardo Teixeira, presidente da CBF, e Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, na sede da CBF (VEJA)

‘Mudança radical’ – Apesar da perda do aliado Teixeira, o Corinthians foi diplomático ao comentar a entrega do cargo a Marin. Em nota oficial, desejou “pleno êxito” ao novo presidente da CBF e defendeu a união dos clubes brasileiros num momento decisivo para o futebol brasileiro. Mas o diretor de futebol do clube, Roberto de Andrade, falou abertamente em “cobrar do novo presidente uma solução para as coisas erradas”. Nenhum clube foi mais crítico a Marin do que o Atlético-MG – que, através de seu presidente, Alexandre Kalil, defendeu publicamente uma mudança radical na CBF. “É hora de os clubes falarem que quem manda é quem paga as contas. O futebol brasileiro terá uma grande oportunidade de se unir”, defendeu. No Rio Grande do Sul, os arquirrivais Internacional e Grêmio adotaram posição parecida, falando em proteção aos clubes, em organização da modalidade e na criação de uma liga para representar as maiores agremiações do país. O São Paulo, terceiro clube mais popular do país, foi um dos clubes que comemoraram a troca – desprestigiada com Teixeira, a agremiação do Morumbi enxerga no mandato de Marin um caminho para recuperar força na CBF. Marin é torcedor do São Paulo e tem bom relacionamento com o presidente do clube, Juvenal Juvêncio – que divulgou nota oficial dizendo ter “confiança de que ele vai trazer um novo momento para o futebol brasileiro”. Ainda entre os paulistas, Santos e Palmeiras se manifestaram com palavras favoráveis a Marin, mas devem aguardar os novos desdobramentos da sucessão na CBF antes de adotar uma posição definitiva.

A incerteza sobre o futuro da CBF com Marin fez com que a grande maioria dos clubes mais poderosos do país silenciasse em relação ao novo presidente. No Rio, Flamengo e Fluminense não se pronunciaram, e o Vasco evitou fazer qualquer avaliação definitiva do cenário. Cruzeiro e Coritiba também não falaram. É provável que esses clubes aguardem as primeiras semanas de Marin no cargo – e os próximos passos de outros clubes influentes na CBF – antes de declarar uma preferência. Se nos clubes ainda não há uma posição clara, nas federações estaduais é diferente. Marin já foi presidente da Federação Paulista de Futebol e segue tendo laços muito próximos com a entidade. Temendo uma gestão que favoreça os interesses de São Paulo, federações contrárias a Marin já preparam o terreno para tentar substituí-lo, através da realização de uma nova eleição. E esses opositores já têm até um caminho esboçado para derrubar Marin: a possibilidade de rejeitar as contas da administração de Teixeira, o que viabilizaria a convocação do novo pleito. A reunião que discutirá as contas da CBF está marcada para o mês que vem. É provável, portanto, que até lá os clubes e federações já tenham se articulado em torno do apoio ou da oposição à permanência de Marin. Só existe, no momento, uma incerteza maior do que a própria chance de sobrevivência do novo presidente da CBF no cargo até 2014: a escolha de um nome alternativo para assumir o cargo até a Copa do Mundo. Candidatos não faltam, mas ainda não existe qualquer pista de quem poderia tentar o cargo em caso de convocação de novas eleições na confederação.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.