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Celebrar ainda hoje Neymar tem sabor de notícia velha e aborrecida

Um truque estatístico pretende pôr o craque brasileiro em um patamar que não lhe pertence na história do futebol brasileiro

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 set 2023, 18h49 - Publicado em 12 set 2023, 09h39

Parece disco riscado, para usar uma batida expressão do tempo pré-internet: e lá vamos nós, a partir das 23h desta terça-feira, durante o jogo entre Brasil e Peru, pelas eliminatórias da Copa do Mundo, acompanhar o corriqueiro blablablá em torno das qualidades de Neymar, o “menino Ney”, já com 31 anos. Na sexta-feira da semana passada, ao marcar duas vezes na goleada do Brasil contra a Bolívia por 5 a 1, ele chegou a 79 gols pela canarinho em partidas oficiais – e, na contagem celebrada pela Fifa, passou Pelé, autor de 77 gols. Há um truque estatístico a favor do camisa 10 do Al-Hilal, da Arábia Saudita. Mesmo que se considerem apenas os jogos oficiais, a média de Neymar é de 0,63 para cada 90 minutos. A de Pelé é de 0,84. Neymar, insista-se, está atrás também de Romário (média de 0,79) e Zico (0,68). Iguala-se a Ronaldo (0,63).

Na contagem, comemorada nas redes sociais, a Fifa descartou 22 partidas e 18 gols do Rei do futebol. Pode soar natural, aos olhos de hoje, eliminar confrontos sem relevância alguma – convém lembrar, contudo, que nos anos 1960 alguns duelos fora de campeonatos eram muito mais difíceis e muito mais bem pagos, ressalve-se, do que enfrentar selecionados de países como a Bolívia. Tudo somado, na ponta do lápis: não se pode, é claro, diminuir a qualidade de Neymar como jogador de futebol, mas listar números em vão de modo a tê-lo no patamar de Pelé é exagerado, para dizer o mínimo. E nunca é demais recordar: com a camisa amarela, Pelé foi tricampeão mundial e, por isso, disputou menos partidas em eliminatórias (o campeão assegura vaga direta para o torneio seguinte). Neymar ainda sonha erguer a taça.

A estatística, como em quase tudo na vida, informa alguma coisa – mas invariavelmente esconde muito mais. Nem aqui, nem na Arábia Saudita, Neymar pode ser posto numa balança com Pelé – e tampouco com outros grandes nomes como Romário, Ronaldo e mesmo Zico, que nunca ganhou a Copa do Mundo.

Celebrar o sucesso de Neymar agora tem um jeitão de notícia velha, mofada, aborrecida. Para ele é muito bom, claro. Para a seleção e o futuro do futebol brasileiro, certamente não. Neymar não é Messi, que aos 35 anos, obstinado, em sua quinta Copa, ergueu a taça no Catar. O brasileiro é um atacante fenomenal, aqui e ali faz jogos extraordinários, mas ao menos até agora não pode entrar no rol de jogadores que fizeram a diferença e serão para sempre lembrados. No Santos, sim, ganhou uma Libertadores (Paulo Henrique Ganso, para ficar com um único exemplo, também foi campeão). No Barcelona será figura coadjuvante na sala de troféus. Até mesmo no PSG haverá para a posteridade uma penca de atletas mais cultuados, inclusive Ronaldinho Gaúcho. Neymar tem algum tempo ainda de carreira, pode até vir a desmentir tudo o que vai escrito aí acima, mas é improvável. É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que instalá-lo no reino dos maiores de todos os tempos.

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