Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

John Neschling falta à CPI e pode ser conduzido coercitivamente

Acusado de desvios e irregularidades, o titular da orquestra do Teatro Municipal de São Paulo recusou-se a participar de acareação com delator do esquema

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 ago 2016, 12h50 - Publicado em 24 ago 2016, 21h14

As investigações sobre as irregularidades do Teatro Municipal estão se encaminhando para momentos de fortes emoções. Na manhã desta quarta-feira, os vereadores que fazem parte da CPI que apura as possíveis fraudes na entidade aprovaram a condução coercitiva do maestro John Neschling e de sua mulher, a escritora Patrícia Melo, para participarem de uma acareação com José Luiz Herencia, réu confesso no esquema de desvio de dinheiro do Municipal – e que assinou um acordo de delação premiada. Os vereadores também sugeriram a apreensão do passaporte de Neschling e Patrícia, além da suspensão dos vencimentos do maestro.

LEIA TAMBÉM:
Justiça determina quebra de sigilo dos e-mails de John Neschling

Segundo Herencia, Neschling participava de um esquema de superfaturamento de custo de produções e cachês de artistas. Ele ocorreria numa espécie de troca de favores entre o maestro e alguns empresários internacionais. Os contratados desses agentes viriam com cachês acima do que costumam receber. O regente se encarregava também de “inflar” a importância desses solistas em entrevistas e releases distribuídos para a imprensa. Em troca, os empresários arrumavam orquestras e récitas no exterior – em sua maioria em grupos sinfônicos modestos – para que ele pudesse reaquecer sua carreira como maestro. O argentino de origem russa Valerie Proczynski é, dentre os mascates eruditos, quem tem relações mais estreitas com Neschling. A ponto de ocorrerem coincidências muito estranhas. Por exemplo, em julho, enquanto o Teatro Municipal recebeu duas produções intermediadas por Proczynski, John Neschling regia nas cidades de Montpellier e Monte Carlo – esta última cidade-sede da Old and New, empresa de propriedade do empresário. O esquema sangrou os cofres públicos em 18 milhões de reais.

A acareação desejada pela CPI deveria ter acontecido nesta quarta-feira, mas Neschling não compareceu. Numa mensagem entregue pelo seu advogado a Quito Formiga, presidente da CPI, ele “enfatizou ser evidente que os mentirosos que o acusam continuarão a fazê-lo, mesmo contra todas as evidências apresentadas, e que, em tais circunstâncias, a acareação corria o risco de virar uma briga de rua”. A justificativa do maestro enfureceu os integrantes da comissão, em especial o vereador Ricardo Nunes. Em sua opinião, o termo “mentirosos” empregado pelo maestro poderia se estendido aos próprios vereadores. Foi então que houve uma decisão de chamar o maestro e sua mulher Patrícia – e sócia na empresa PMM – para uma nova rodada de esclarecimentos. William Naked, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (Ibgg) e Toni Venturi, diretor da empresa de vídeos Olhar Imaginário, também faltaram à acareação. Nacked estava num depoimento ao Ministério Público e Venturi alegou compromissos profissionais. O primeiro é suspeito de estar envolvido no processo de desvio de verbas e Venturi dirigiu vídeos institucionais para o Teatro a um custo de 500 000 reais. Os vídeos, aliás, nunca haviam sido divulgados e só  foram para no YouTube após o início das denúncias. Toni Venturi, diga-se, é muito ligado a Nunzio Briguglio, atual secretário de comunicação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Em seu depoimento, sem acareação, Herencia reafirmou a culpa de John Neschling e disse que o maestro não apenas sabia do desvio de dinheiro como também fazia pressão para que a instituição contratasse indicados de seus amigos agentes.

*Atualização, em 26 de agosto, às 12h45: O advogado do maestro John Neschling, Eduardo Pizarro Carnelós, enviou uma nota à redação do site de VEJA em defesa de seu cliente. Confira:

Continua após a publicidade

Nota

As cenas de hoje na CPI comprovam o que se afirmou na petição endereçada para justificar a ausência de John Neschling à acareação: além da inocuidade, sua presença serviria apenas para a submissão aos ataques vis proferidos por Herencia e alguns vereadores, que se mostraram suscetíveis ao simples exercício de direito. Apesar da sólida fundamentação da petição, consideraram não ter sido ela “séria”, e como punição por ele ter ousado exercer seus direitos, decidiram, contra a lei e em ato de abuso de autoridade, conduzi-lo coercitivamente, além de confiscar seu passaporte e determinar a suspensão de seus pagamentos. É lamentável assistir a tamanho abuso, como se a CPI pudesse cassar o direito que o maestro tem de proteger sua imagem, sua dignidade e sua honra, e como se pudesse puni-lo por isso, fazendo-o objeto da vontade dos investigadores, a serviço de finalidades políticas. O absurdo foi tão evidente, que Herencia foi tratado como herói, e suas mentiras tomadas como verdades. As acusações nem mesmo fazem sentido, e Neschling usará os instrumentos jurídicos disponíveis para arrostar o arbítrio que se pretende consumar contra ele.

Eduardo Pizarro Carnelós

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.