‘É preciso apostar no Brasil’
Ronaldo Lemos trocou uma promissora carreira de advogado nos EUA para lidar com problemas da emergente internet no Brasil. E não se arrepende

Em 2003, Ronaldo Lemos concluiu um mestrado em direito na prestigiada Universidade Harvard e tinha à sua frente uma carreira promissora nos Estados Unidos. O plano original, traçado um ano antes, era fazer carreira em solo americano e só voltar para o Brasil para colher os frutos da trajetória internacional. A estratégia, contudo, foi definitivamente solapada por um convite: voltar ao Brasil – e para seus problemas – para ajudar a fundar a Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, no Rio. “Deixar os Estados Unidos era uma decisão improvável naquele momento. A situação do Brasil não era tão promissora e o Rio enfrentava estagnação e uma crise de segurança pública”, diz Ronaldo. Depois de uma longa jornada, uma viagem iniciada em Araguari (MG), sua cidade natal, e encerrada no Festival de Reading, na Inglaterra, veio a decisão: “Tive um insight: o caminho seria voltar ao Brasil”, diz. “Há muito trabalho a fazer aqui.”
Fundada a Escola de Direito, em 2003, Ronaldo envolveu-se em outro grande projeto, a criação do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, que ele dirige até hoje. Seu trabalho no CTS, em parceria com o Ministério da Justiça, culminou na criação do Marco Civil da Internet, projeto de lei que visa estabelecer direitos e deveres na utilização da web no Brasil. É um conjunto de regras que, quando for aprovado pelo Congresso Nacional, tocará a vida de todos os usuários plugados na rede. O projeto é exemplo de tentativa de estabelecimento de uma norma a partir do consenso público: isso porque os usuários da rede palpitaram à vontade sobre o assunto em um ambiente especialmente construído para esse fim. Também por meio do CTS, Ronaldo ajudou a trazer para o Brasil o Creative Commons, uma organização sem fins lucrativos que oferece modelos para flexibilização dos direitos autorais, desde que devidamente compactuados por seus detentores.
O trabalho tornou Ronaldo uma das referências quando o assunto é internet no Brasil. Mas o interesse pelo assunto é antigo. Localizada no Triângulo Mineiro, Araguari, sua cidade natal, foi um dos primeiros municípios do Brasil a receber TV a cabo, em 1988, graças a um projeto experimental do Ministério das Comunicações. A novidade despertou em Ronaldo e em outros garotos de sua idade um interesse incontrolável por tecnologia: a turma costumava ir a rádios amadores e até montava os próprios computadores. “Ter crescido em uma cidade pequena, onde as formas de conexão com o mundo eram limitadas, me fez perceber a importância da tecnologia e notar como ela é capaz de mudar nossas vidas.”
Todos os passos seguintes foram de alguma forma determinados por essa primeira constatação da força da tecnologia sobre a sociedade. Formado em direito, Ronaldo iniciou a carreira no setor de telecomunicações, acompanhando o surgimento da internet no Brasil. O mestrado em Harvard foi escolhido pela mesma razão: a Escola de Direito da universidade americana fora pioneira no tratamento jurídico de questões ligadas à rede. Nessa pós-graduação, Ronaldo foi bolsista da Fundação Estudar – que, neste ano, em parceria com VEJA, promove o Prêmio Jovens Inspiradores, que vai selecionar estudantes ou recém-formados com espírito de liderança e compromisso permanente com a busca da excelência: os vencedores ganharão iPads, bolsas de estudo no exterior e um ano de orientação profissional com nomes de destaque do meio empresarial e político (mentoring).
O estudo intenso da internet e de seus produtos fez Ronaldo mergulhar ainda em uma outra paixão: a música. Ele é autor do livro Tecnobrega: O Pará Reinventando O Mercado da Música, que mostra como artistas do estado usam a web como arma para divulgar seus trabalhos, animar plateias e movimentar milhões de reais. “Somos um povo com uma criatividade que beira o incontrolável, e isso é totalmente positivo”, diz Ronaldo, hoje com 35 anos.
Para aqueles que também pensam em promover mudanças – no Brasil e no mundo -, o advogado aconselha: “Apostem no Brasil. Somos uma democracia, estamos atravessando uma boa fase econômica e acreditamos em uma internet livre”, diz. “Quem apostar no país e ajudar a pensar em como resolver seus problemas, sempre terá espaço e reconhecimento.”
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