Carlos Murillo, gerente-geral da Pfizer na América Latina e ex-presidente da empresa no Brasil até novembro do ano passado, disse que a negociação para trazer o imunizante da companhia, produzida em parceria com o laboratório alemão BioNtech, começou em maio do ano passado, sendo que a primeira oferta foi feita em agosto.
Em depoimento na CPI da Pandemia nesta quinta-feira, 13, o executivo detalhou que a empresa fez cinco ofertas formais em 2020 e duas em 2021, até fechar o contrato na sétima proposta. As tratativas, de acordo com Murillo, eram principalmente feitas com Elcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde e coronel do Exército, número dois de Eduardo Pazuello na pasta.
Durante toda a negociação, Murillo afirma que teve contato com Eduardo Pazuello em apenas duas ocasiões. Segundo o executivo, as tratativas com Fabio Wajngarten ocorreram como forma de tentar coordenar as negociações, mas os detalhes eram discutidos com o Ministério da Saúde.
Murillo detalhou as ofertas feitas ao Ministério da Saúde no período. A primeira, em 14 de agosto de 2020, oferecia 30 milhões ou 70 milhões de doses. Naquele mês, foram feitas três ofertas. Segundo ele, as ofertas eram vinculantes. Elas foram atualizadas e a última, em 26 de agosto, tinha prazo de quinze dias. “Não tivemos respostas nem positivas e nem negativas”, afirmou. Caso a proposta do momento tivesse sido aceita, a empresa poderia fornecer 18,5 milhões de doses até o fim do segundo trimestre deste ano. Ainda em agosto, o executivo afirma que também se reuniu com integrantes do Ministério da Economia em São Paulo, em encontro com a participação do secretário de produtividade, Carlos da Costa. “Nosso interesse foi fornecer toda a informação disponível para a tomada de decisão de governo.” Segundo ele, todas as ofertas tinham preço de 10 dólares a dose.
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Murillo confirmou, inclusive, que a empresa enviou em 12 de setembro uma carta assinada pelo CEO global da companhia, Albert Boula, para o presidente Jair Bolsonaro e com cópia para o vice-presidente, Hamilton Mourão, o ministro da Casa Civil, Braga Netto, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster. A correspondência reafirmava o interesse da empresa em fechar o contato com o país e também não foi respondida.
Após a carta de setembro, a Pfizer fez mais ofertas. Em novembro, a empresa passou a ofertar 70 milhões de doses em duas ocasiões diferentes. Em 2021, foram feitas propostas em fevereiro e em março, quando, enfim, fechou o contrato para o fornecimento de 100 milhões de doses, que já começaram a chegar ao Brasil.
Investigação
Murillo foi convocado pela CPI da Covid para depor como testemunha e sua oitiva acontece um dia após Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação, revelar à comissão a carta enviada pela Pfizer ao governo Bolsonaro, que não foi respondida.
Em entrevista a VEJA em julho do ano passado, Murillo afirmou que havia contato com o governo para tratar da proposta. Em outubro de 2020, Murillo também relatou a VEJA que a empresa havia feito uma proposta formal, seguida de uma carta, de fornecimento de vacinas ao governo brasileiro. O executivo afirmou que, até aquele momento, não havia recebido resposta.
A comissão no Senado já ouviu os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e o ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten. Na próxima semana será a vez do ex-ministro Eduardo Pazuello prestar depoimento, além de outro ex-ministro, o ex-chanceler Ernesto Araújo.
A CPI também pode aprovar nesta semana novos requerimentos. Entre eles, o pedido do senador. Randolfe Rodrigues que solicita a Pazuello o resultado de exame para detecção do coronavírus, motivo do adiamento de sua oitiva. Também deve ser votada a convocação de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho no Ministério da Saúde. Ela é conhecida por sua posição favorável ao chamado “tratamento precoce” contra a doença.