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Pfizer negocia com governo para trazer nova vacina ao Brasil, diz CEO

Vacina desenvolvida em parceria com o laboratório alemão BioNTech está em estágio final; 100 milhões de doses devem ser produzidas ainda em 2020

Por Felipe Mendes Atualizado em 9 nov 2020, 20h11 - Publicado em 15 jul 2020, 08h10

O boliviano Carlos Murillo, de 48 anos, virou sua rotina do avesso com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). À frente da subsidiária brasileira da Pfizer, gigante farmacêutica, ele negocia com os principais gestores da multinacional americana e com o governo brasileiro para trazer a vacina para o país ainda este ano. A esperança de imunização pela tecnologia desenvolvida pela companhia, em parceria com o laboratório alemão BioNTech, anima mercados globais por causa da alta capacidade de produção, caso a imunização, que está em fase de testes, seja aprovada. A empresa preparou cinco plantas no mundo para produzir cerca de 100 milhões de doses ainda este ano e estima fabricar 1,2 bilhão de doses em 2021. Na corrida pela imunização, a Pfizer testa quatro vacinas simultaneamente. Duas delas irão para a terceira e última fase de desenvolvimento e o trabalho do CEO, além de garantir que a vacina chegue ao país assim que estiver disponível, é de conversar com o governo para tentar fazer testes clínicos também no Brasil. “Estamos bastante otimistas de que a ciência vencerá novamente. Hoje, já temos um bom número de vacinas apresentando bons resultados para o tratamento de Covid-19. Em breve, teremos mais de uma solução”, diz Murillo.

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A Pfizer já está em estágio final para o desenvolvimento de sua vacina. Como a empresa tem avançado tão rápido? A Pfizer está atuando fortemente para trazer uma resposta terapêutica que ajude a combater as pandemias. Firmamos uma parceria com a BioNTech e estamos trabalhando com as autoridades para desenvolver, testar e produzir uma possível vacina a base de RNA mensageiro (mRNA). Isso é chave porque é uma vacina diferente, uma nova tecnologia nas vacinas. Essa tecnologia utiliza um DNA mensageiro sintético para ajudar o nosso corpo a se imunizar contra um vírus. Isso pode ser potencialmente desenvolvido e fabricado mais rapidamente que as vacinas tradicionais. Se os resultados forem positivos, como têm sido até o momento, e a vacina experimental receber autorização, esperamos produzir cerca de 100 milhões de doses até o final de 2020. Esse é o nosso objetivo. Possivelmente, produziremos mais de 1,2 bilhão de doses até o fim de 2021. Estamos mantendo conversas com o governo sobre essa nova tecnologia e atualizando as etapas de desenvolvimento. Realmente, esperamos oferecer essa futura vacina ao país com o intuito de proteger a população brasileira.

Já se provou que o Sars-CoV-2 é um vírus que sofre mutações. Como isso atrapalha o desenvolvimento de uma vacina? Isso acontece com outras doenças. Em alguns anos, a vacina contra Influenza (gripe), por exemplo, parece que funciona bem, em outros parece que não. Tem muita variabilidade. Isso tem a ver com a forma com que as vacinas tradicionalmente são feitas. As vacinas tradicionais introduzem no nosso corpo uma forma inerte ou enfraquecida do vírus, do patógeno. Essa forma enfraquecida faz com que o nosso corpo reconheça o vírus e reaja para que o patógeno não se desenvolva. Só que esse processo é mais demorado para se desenvolver uma vacina. No caso da Influenza, a produção da vacina é feita entre seis e 12 meses antes de estar pronta para aplicação. Por isso, você tem que tentar antever quais são os patógenos, as mutações, que vão estar mais prevalentes no próximo ano. Esse é um exercício muito difícil. Às vezes se acerta mais, outras menos. Como a BioNTech já estava trabalhando nessa nova tecnologia que mapeia a sequência genética do vírus, o desenvolvimento da vacina para o coronavírus foi mais rápido, porque em janeiro um cientista chinês já disponibilizou a sequência genética do Sars-CoV-2. A tecnologia e a plataforma que estávamos trabalhando desde 2018 em parceria com a BioNTech, portanto, se tornou propícia para a situação e uma solução rápida para o desenvolvimento da imunização contra Covid.

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Mas como a companhia já avançou nesse processo? Neste momento, a companhia está com estudos clínicos das fases 1 e 2. O desenho desses estudos nos permite avaliar várias vacinas experimentais simultaneamente. A Pfizer está testando atualmente quatro vacinas ao mesmo tempo, a fim de identificar a candidata mais segura, potencialmente mais eficaz, e em um número maior de voluntários, de forma a facilitar a apresentação dos dados para as comunidades regulatórias em tempo real. A companhia desenvolveu globalmente dados preliminares positivos dos estudos clínicos realizados até o momento de uma dessas vacinas. Agora, avançamos com as autoridades regulatórias para iniciarmos a terceira fase do estudo, com uma população maior de pacientes. Estamos avançando muito bem, com muitos processos simultaneamente, o que nos permite ganhar tempo.

No passado, demoravam-se anos para termos uma vacina com eficácia comprovada. Por que, desta vez, teremos uma solução pouco tempo após a descoberta da enfermidade? Três fatores explicam isso. Uma é a urgência. Realmente, a humanidade não enfrentou uma situação tão devastadora nos últimos 100 anos. A necessidade de desenvolver a vacina gerou uma situação especial, com a colaboração de toda comunidade científica. Uma das primeiras coisas que a Pfizer fez, ainda em março, foi criar um plano de cinco medidas para combater a Covid. Uma delas foi o compartilhamento de ferramentas e ideias. Nós só conseguimos avançar com a vacina porque um pesquisador chinês já havia descoberto a sequência genética do Sars-CoV-2 e a colocou à disposição. O segundo fator tem a ver como fazer essas etapas em paralelo e muitas delas assumindo o risco. Antes, você fazia estudos pré-clínicos, testes em animais, e só depois de obter um conjunto de informações robustas, procurava-se uma aprovação regulatória para que, posteriormente, começasse a fase da produção. Agora, esses processos estão sendo realizados paralelamente. Os resultados estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades. Já adequamos cinco plantas a nível mundial para produzir a vacina. Assim que as autorizações regulatórias forem obtidas, liberaremos o produto. Hoje, a situação não é de aguardar a autorização para fazer o investimento. É fazer muito desse investimento a risco para agilizarmos os processos. A terceira razão, no caso da vacina produzida por Pfizer e BioNTech, é esta nova tecnologia. É uma nova forma de se fazer vacina. Comprovando-se a eficácia, essa será a forma como as futuras novas vacinas serão desenvolvidas.

A princípio, uma vacina teria imunidade vitalícia ou apenas por um determinado período? Isso é o que está se avaliando. Acho que nenhuma das vacinas que estão sendo desenvolvidas tem prazo vitalício. Os testes da Fase 3, que nós estamos iniciando, vão nos permitir avaliar isso. Não sei se alguém teria essa resposta hoje.

A vacina num primeiro instante não será acessível a todos. Quais países serão preconizados nesse processo? Esse é um tema-chave. Eu sou otimista. Estamos avançando. Mas, todos entendemos que a capacidade de produção de maneira inicial não será suficiente para chegar às sete bilhões de pessoas que eventualmente possam precisar da vacina. O que é bom é que não é apenas uma vacina que está caminhando bem. Afortunadamente, temos várias vacinas em andamento. Se dependêssemos somente da vacina da Pfizer, acho que seria mais complicado. Há pelo menos quatro vacinas em um estágio mais avançado, chegando à Fase 3. Então, posso dizer que teremos mais de uma vacina em pouco tempo. Isso é positivo. E os governos também não podem apostar somente em uma única vacina, porque se aquela solução não avançar, os pacientes desse país podem ficar numa situação complicada. Uma das coisas importantes é que os países tenham essa abertura para trabalhar em várias frentes. Estamos conversando com os governos pelo mundo e com o governo brasileiro especificamente para informar como está avançando a nossa vacina, a capacidade de produção que temos, e começar as discussões de alocações por países. Dependerá realmente da prevalência, da urgência, da necessidade que cada país terá versus outros. E, da mesma forma, também dependerá das diferentes opções que tenham caminhado bem ao mesmo tempo para poder tomar as decisões sobre qual é o grupo de pacientes que mais precisa da dose de vacina assim que ela esteja disponível. Nós estamos conversando com o governo do Brasil para assegurar que uma parte dessas 100 milhões de doses também chegue aos pacientes daqui ainda este ano.

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A Pfizer tem investido em melhorias em sua operação no Brasil com o intuito de desenvolver soluções para Covid-19? Neste momento, a companhia está investindo 1 bilhão de dólares até o fim de 2020 para desenvolver a vacina em suas fábricas a nível global. A companhia entende que esse é o processo para termos essas 100 milhões de doses disponíveis ainda este ano. Desse valor, mais de 150 milhões de dólares são para preparar as unidades fabris, que temos nos Estados Unidos. E boa parte será investido em matéria-prima. É bom ressaltar que todos esses investimentos estão sendo realizados a risco. A companhia está focando em produzir essas doses iniciais em três plantas nossas, nos EUA, e em duas unidades da BioNTech, pois essas operações já estavam mais preparadas para receber essa nova tecnologia. Para as próximas etapas, nós estamos iniciando as conversas para desenvolver algumas soluções na nossa fábrica no Brasil, trazendo parte dessa nova tecnologia para cá. A vantagem é que o Brasil tem uma boa estrutura para produzir as vacinas nos moldes tradicionais. Temos conversado com o governo para irmos etapa por etapa, mas esse é um processo que demanda mais tempo.

Como tem sido esse trabalho com o governo brasileiro? Estamos em conversações com o governo, trabalhando com o governo para que processos e programas já existentes não deixem de funcionar. Uma de nossas preocupações é manter o suprimento de nossos medicamentos. Nós temos uma planta de manufatura de medicamentos em Itapevi. Essa planta continua operando sem nenhuma interrupção, como as 40 plantas que a companhia tem a nível global. Isso é fundamental. Existe o impacto da Covid, mas há pessoas que precisam de tratamento com medicamentos e vacinas já existentes, que precisam continuar sendo produzidas.

A empresa também trabalha no desenvolvimento de antivirais para controlar o impacto do vírus no corpo dos seres humanos? Sim. Sabemos que a vacina é importante, pois atua de forma preventiva. Mas, mesmo com a vacina, algumas pessoas vão ficar doentes, então, é muito importante ter um tratamento. Por isso, além de desenvolvermos a vacina, também estamos com caminhos promissores para a criação de fórmulas de tratamento para a Covid, como novos antivirais e estudos em moléculas já presentes no portfólio da companhia. Agora, vamos passar para a parte de estudos clínicos para continuar avançando com esses medicamentos.

Qual a mensagem que o senhor passaria para milhões de pessoas que esperam a vacina para Covid-19? Sabemos que esse momento é difícil e muito complexo. Mas não podemos nos esquecer que a humanidade já viveu situações piores, em condições muito mais difíceis a qual estamos passando neste momento. A ciência já trouxe a solução no passado e, agora, ela vencerá novamente. Nossos resultados nos permite ser muito otimistas de que a ciência irá vencer novamente. Temos que ter otimismo. Hoje, nós temos resultados de não somente uma vacina, mas um bom número de vacinas que estão demonstrando boas performances. Também temos bons resultados de medicamentos que vão conseguir transformar uma situação como essa em algo contornável, da mesma forma que o sarampo deixou de existir com a vacina e que a Aids já é algo totalmente controlável. Ou seja, a ciência já está vencendo. E todos nós temos que manter esse otimismo.

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