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O possível efeito Kamala Harris no mercado

Abordagem mais amigável ao comércio bilateral pode enfraquecer o dólar, enquanto política expansionista pode jogar contra o câmbio

Por Luana Zanobia Atualizado em 23 jul 2024, 20h22 - Publicado em 23 jul 2024, 17h20
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  • As últimas semanas têm sido marcadas por fatores políticos que têm aumentado a volatilidade nos mercados. No Brasil, o governo anunciou bloqueios e contingenciamentos na tentativa de cumprir a meta fiscal. Nos Estados Unidos, a corrida eleitoral ganhou contornos dramáticos com o atentado contra o ex-presidente e candidato republicano Donald Trump, enfraquecendo ainda mais a popularidade do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que, sob forte pressão, desistiu da disputa à reeleição, abrindo espaço para sua vice, Kamala Harris.

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    Embora a confirmação oficial do candidato democrata ocorra em 19 de agosto, Harris desponta como a escolha mais forte. Até lá, o mercado deve enfrentar maior volatilidade, devido às diferentes agendas políticas dos candidatos que poderão comandar a maior e mais influente nação do mundo.

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    Aplicando a famosa teoria do efeito borboleta nesse cenário, um simples bater de asas nos Estados Unidos pode desencadear uma série de efeitos em mercados ao redor do mundo, especialmente no Brasil. Com os Estados Unidos como seu segundo maior parceiro comercial e a China, principal rival dos americanos, como seu principal parceiro, o Brasil encontra-se particularmente suscetível às flutuações econômicas e políticas que emanam de Washington.

    Independentemente de quem assumirá a presidência dos Estados Unidos no próximo ano, ambos os partidos já anunciaram medidas mais duras contra importações, especialmente da China, sendo o protecionismo um denominador comum. No entanto, Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, sugere que um viés democrata poderia trazer “uma abordagem mais cooperativa e multilateral nas relações internacionais, possivelmente fortalecendo as parcerias comerciais e ambientais com o Brasil”.

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    Vale lembrar que o atual governo brasileiro, assim como Biden e Harris, compartilham algumas vertentes ideológicas similares. Harris conta com o apoio do presidente do Brasil, Lula, que expressou seu apoio após o anúncio da saída de Biden da corrida presidencial. “Uma vitória de Kamala Harris provavelmente promoverá políticas que incentivem a sustentabilidade e o fortalecimento de laços multilaterais, o que pode beneficiar economicamente o Brasil”, pontua Lima.

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    Com uma abertura comercial maior, os analistas preveem que o dólar perca força. A moeda americana tende a se desvalorizar em um cenário de maior abertura e cooperação internacional, enquanto uma vitória de Trump poderia fortalecer o dólar, devido a políticas econômicas mais agressivas e protecionistas. “Portanto, o impacto no Brasil será significativo, dependendo de quem assumir a presidência dos Estados Unidos, influenciando tanto o comércio quanto os investimentos e a estabilidade econômica geral”, afirma Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações.

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    Apesar de Donald Trump ser o favorito, com cerca de 60% de chances de vitória, segundo algumas casas de apostas, Kamala Harris pode ganhar apoio significativo entre mulheres, negros e mestiços. Em uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pela agência Reuters e pelo Instituto Ipsos, a vice-presidente dos Estados Unidos aparece com vantagem de 2 pontos percentuais sobre Donald Trump. Segundo o levantamento, Harris tem 44% das intenções de voto, contra 42% de Trump. A diferença está dentro da margem de erro, que é de 3 pontos percentuais.

    “Contudo, ela pode enfrentar resistência de uma sociedade americana mais conservadora, especialmente em estados de maioria cristã”, comenta Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. Além disso, Harris terá a difícil missão de, assim como Lula, cumprir a agenda expansionista do governo sem aumentar os déficits fiscais e a inflação. É importante ressaltar que os Estados Unidos enfrentam um problema fiscal relevante, com a dívida pública ultrapassando 100% do PIB.

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    Taxas de juros

    Tanto uma vitória de Kamala Harris quanto de Donald Trump traria riscos de taxas de juros mais altas nos Estados Unidos, mas os impactos nas moedas e nas políticas econômicas seriam diferentes. Como atual vice-presidente, Harris já sinalizou em diversos discursos uma abordagem econômica mais expansionista. Duas de suas principais propostas são o aumento do salário mínimo e maiores investimentos em infraestrutura, que implicam em aumento de gastos públicos.

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    Essa expansão fiscal tem o potencial de pressionar a inflação. Em um cenário de maior pressão inflacionária, o banco central americano, o Fed, pode ser obrigado a manter ou aumentar as taxas de juros para controlar os preços, situação que também pode ser desvantajosa para o Brasil. No entanto, a política econômica mais flexível de Harris e sua maior abertura comercial podem introduzir forças que poderiam aliviar a pressão sobre o dólar, beneficiando o comércio global e estabilizando a moeda americana.

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    Por outro lado, Donald Trump, com seu discurso mais protecionista, deve naturalmente fortalecer a moeda americana. Somado a isso, seu plano de cortes de impostos pode prejudicar o equilíbrio das contas públicas, mantendo as taxas de juros de longo prazo em níveis elevados e atraindo dólares para os EUA, fortalecendo a moeda norte-americana. “Uma vitória de Trump pode fortalecer ainda mais o dólar, manter os juros longos nos EUA elevados e dificultar a apreciação do real frente ao dólar. Esse é o nosso cenário-base”, diz Marcos Moreira, sócio da WMS Capital. Diferentemente de Harris, a abordagem protecionista de Trump não oferece as mesmas oportunidades de flexibilização econômica ou abertura comercial, consolidando a força do dólar sem contrapesos significativos.

    A despeito de quem vencer a disputa, o mercado corre o risco de um câmbio mais apreciado e taxas de juros ainda elevadas nos EUA. Em meio às incertezas e aos riscos fiscais no cenário doméstico, entre os dias 8 e 12 de julho, o mercado de câmbio registrou um fluxo negativo de US$ 389 milhões, o que significa que mais dólares saíram do Brasil do que entraram durante esse período. O dólar é negociado com valorização nesta terça-feira, 23, cotado a R$ 5,59.

     

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