Semana após semana, o mercado financeiro enxerga queda menor da economia brasileira em 2020, apesar de dados ainda muito combalidos pela crise provocada pelo novo coronavírus. Segundo dados compilados pelo Boletim Focus, do Banco Central, e divulgados nesta segunda-feira, 24, a expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) recue 5,46% neste ano. Na semana passada, a projeção era de uma queda de 5,52%. Apesar da magnitude do tombo, esta é a oitava semana consecutiva de melhora na projeção do indicador, que de fevereiro até junho engatou dezoito semanas consecutivas de quedas. O processo de retomada das atividades econômicas, que culminou na melhora de alguns indicadores como indústria, comércio e serviços ajudam a arrefecer o pessimismo. Com isso, a visão que a fase mais aguda da crise ficou para trás continua forte.
A projeção para o PIB do Brasil começou a seguir, ao fim de fevereiro, uma curva de queda drástica, acompanhando os do avanço da Covid-19 e os anúncios das prefeituras e governos estaduais sobre medidas de distanciamento social, com o fechamento principalmente de atividades não essenciais. Após as estimativas para o PIB ficarem estáveis em junho, os resultados a partir de então apontam para uma retomada. Os dados do Focus não indicam uma recuperação em “V”, jargão econômico para mostrar uma volta rápida, mas é indicativo de recuperação da economia, mesmo que lenta. Isso ocorre porque a queda da atividade econômica no segundo trimestre, especialmente em abril, deve levar o PIB a um choque histórico. A estimativa do governo é que, no período, o indicador recue entre 8% e 10%.
Com isso, a recessão é significativa e atinge o país no ano em que se esperava uma reação da economia, que dava sinais de recuperação da crise vivida entre 2015 e 2016. No início do ano, a expectativa do mercado financeiro era de que a economia brasileira crescesse 2,3%, acima dos desempenhos de 2017 e 2018 (+1,3%) e 2019 (1,1%).
A recomposição de renda trazida pelo auxílio emergencial a trabalhadores informais, que paga cinco parcelas de 600 reais a vulneráveis mais afetados pela crise, é um dos colchões que seguraram a economia brasileira durante a fase mais aguda da crise e tem ajudado a segurar o consumo, melhorando as projeções da economia. Tanto que, o governo deve anunciar nos próximos dias os parâmetros para manutenção do benefício pelo menos até dezembro. Também é esperada para esta semana a divulgação do plano “Pró Brasil” que irá indicar as diretrizes vistas pelo governo Bolsonaro para a retomada da economia pós Covid. A expectativa é ver se os gastos públicos serão priorizados ou haverá um sinal claro de retomada da agenda reformista.
Inflação e Selic
Além do PIB, o Focus traz outros importantes indicadores da economia brasileira. Um deles é o IPCA. A inflação, importante termômetro sobre o aquecimento do consumo, voltou a subir assim como a projeção do PIB. Segundo o boletim, o indicador deve encerrar 2020 com inflação de 1,71%, maior que a projeção da semana passada, de 1,67%. O valor está abaixo da meta definida pelo governo, de 4% neste ano, e também abaixo da tolerância da meta, que varia entre 2,50% e 5,50%. Para 2021 e 2022, os valores foram mantidos em 3% e 3,50%. Apesar da inflação estar bem controlada e abaixo da meta do governo, vale acompanhar a pressão do indicador na retomada da economia brasileira.
A pesquisa mostrou também que a expectativa do mercado brasileiro sobre a taxa Selic se mantém igual à da semana anterior: em 2% para este ano, taxa atual. Apesar da preocupação com o risco fiscal, o Copom (Comitê de Política Monetária) deixou a porta aberta para novos cortes, porém o mercado financeiro ainda não aposta em mais ajustes da Selic neste ano. Entretanto, para 2021, a projeção que estava em 2,75% foi aumentada para 3%, Já o câmbio, que reflete as incertezas do Brasil e acaba sendo prejudicado pela baixa Selic, continua alto. A perspectiva do Focus é que o dólar fique em 5,20 no final de 2020. Para o final de 2021, a perspectiva permanece em 5 reais.