Sem perspectiva de que a crise econômica e política dará uma trégua no curto prazo, o mercado financeiro voltou a piorar as projeções dos principais indicadores econômicos do país. Segundo boletim Focus, divulgado nesta terça-feira, os agentes econômicos já esperam uma retração de 2,97% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano – na semana passada, a estimativa era de 2,85%. Trata-se da décima terceira vez seguida que a projeção é revisada para cima. Para 2016, o mercado espera mais um recuo, de 1,20% ante 1% em previsão anterior. Se a previsão se materializar, este ano registrará o pior resultado do PIB em 25 anos – em 1990, a economia recuou 4,35%.
Enquanto projeta uma baixa no PIB de quase 3%, o mercado elevou a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, de 9,53% para 9,70%, sendo a quarta vez que o indicador é reajustado. Para o próximo ano, a expectativa também é pior, mas ainda dentro do teto estipulado pelo governo (de 6,5%). No entanto, a projeção, agora na casa dos 6,05%, está em franca escalada há dez semanas. O aumento acompanha a perspectiva de alta na taxa de câmbio, que está em 4,15 reais para o ano que vem.
Uma das principais apostas do governo era de que, com os juros elevados e a economia em recessão, a inflação recuasse para dentro da meta. No entanto, a pressão do câmbio e do aumento da conta de luz – e do botijão de gás, no caso do mês passado – tem minado os planos da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff, que aguarda a redução do IPCA para abaixar os juros e, assim, dar um novo gás à economia brasileira.
Se a perspectiva do relatório se provar correta até o fim de 2015, a inflação chegará ao seu maior nível desde 2002, quando atingiu a marca de 12,53%. Devido ao último reajuste no preço da gasolina e do diesel, anunciado pela Petrobras no fim de setembro, especialistas já projetam que a inflação ultrapasse a barreira dos 10% neste ano.
Mesmo prevendo um aumento no IPCA, os analistas do Focus mantiveram a expectativa de que não haverá mais nenhum reajuste na taxa básica de juros (a Selic) neste ano. Desde o último aumento, a Selic está na casa dos 14,25%. Para 2016, a previsão é de que ela diminua gradativamente até chegar a 12,63%.
O boletim Focus é produzido a partir das estimativas de mais de cem instituições financeiras e é divulgado às segundas pelo Banco Central. Como ontem foi feriado, o relatório foi divulgado nesta terça em caráter excepcional.
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(Da redação)