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Mantega inventa uma nova inflação: alta e controlada

Em audiência no Senado, o ministro da Fazenda demonstra estar confortável com um IPCA de 6% para 2011 e sinaliza que o máximo de inflação tolerável é a nova meta

Por Adriana Caitano, de Brasília
3 Maio 2011, 16h14
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  • Em vez de mirar o centro da meta de inflação, o governo trabalha para fazer com que esta se aproxime perigosamente do topo da margem de tolerância, que é de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo

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    O ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que o Brasil possui um novo tipo de inflação ainda não estudado pela literatura econômica: alta e controlada. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo ele, poderá chegar a 6% em 2011, mas não está fora de controle, afirmou. A projeção, no entanto, está muito distante do centro da meta de inflação fixada para o ano, que é de 4,5%. Com sua postura tolerante, Mantega deixa claro mais uma vez que não se preocupa mais em trazer a inflação de volta para o centro da meta. Agora, o objetivo é não deixar que ultrapasse o limite máximo, de 6,5% – margen de tolerância de dois pontos porcentuais acima do centro da meta.

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    Mantega parece desconsiderar que a margem de tolerância é apenas uma ferramenta para acomodar oscilações inesperadas dos preços. Não é o que acontece agora. Desde o final do ano passado, a equipe econômica – que é a mesma de agora – já via sinais de que a escalada de preços poderia ser perigosa neste ano. As ações para combater a pressão inflacionárias foram fracas e insuficientes. Até o final de outubro, com a realização do segundo turno das eleições presidenciais, o governo evitou a alta de juros para não prejudicar a candidata governista. Nesse ano, sob mais uma presidência petista, o objetivo volta-se para o câmbio, já que uma alta mais forte dos juros poderia atrair mais moeda norte-americana para o mercado, o que deixaria o real mais forte. A equipe econômica nega tais objetivos, mas o fato é que a escalada dos preços continua firme e forte.

    Ao permitir uma inflação mais alta, a equipe econômica favorece a corrosão da renda da população e colabora para que se dissemine uma cultura inflacionária – ou seja, as pessoas passam a esperar por inflação cada vez mais alta, o que, por si só, acaba causando mais alta de preços, principalmente no setor de serviços.

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    Surto inflacionário – No Senado, Mantega atribuiu hoje, mais uma vez, a alta de preços no país a um “surto inflacionário” que atinge o mundo, com maior ênfase nos países emergentes. “Como são países com taxa de crescimento maior, a inflação também é maior”, ponderou. O ministro voltou a repetir que a causa básica da inflação brasileira é o aumento do preço das commodities no exterior, principalmente no setor de alimentos.

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    “De fato houve um descuido dos produtores que não perceberam que havia países comendo mais, o que provocou aumento do consumo de alimentos”, declarou. Mantega também apontou as condições meteorológicas e a forte especulação financeira como razões para a inflação crescente. No país, a sazonalidade teria agravado o problema. “Entre o final do ano e o início do seguinte temos muitas chuvas e, em outros momentos, seca. Isso provoca o aumento dos preços de alimentos, pois temos um período de entressafra. Nessa época, também há aumento da tarifa de ônibus e mensalidades das escolas, por exemplo”, detalhou. Outro item citado pelo ministro foi o aumento do preço do etanol provocado pelo período de entressafra e pelo aumento do consumo. Segundo ele, isso provocou a transferência da produção de cana para o açúcar, que se tornou mais rentável.

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    Além da repetição das mesmas ponderações para justificar a inflação, Mantega ressaltou que o Brasil apresenta um dos melhores cenários do G20 – o grupo dos 19 maiores países do mundo, mais a União Europeia. “Não estamos mal nessa foto. Temos uma inflação mais controlada do que muitos países”, afirmou. A comparação com outros países tem sido uma estratégia muito usada pelo ministro, mas o comodismo não é visto com bons olhos. É fato que os índices de inflação no Brasil acumulados em doze meses são inferiores aos da Rússia (9,4%) e Índia (8,8%). Mas o Brasil tem problemas particularmente sérios com a inflação, sendo que o principal deles é a indexação, ou seja, o fato de índices reajustarem, por força de contrato, diversos preços futuros, principalmente de serviços. Em outras palavras, inflação presente é sinônimo de pressões crescentes ao longo do tempo.

    O mais preocupante é que Mantega continua sem ideias para reduzir os preços. Ele cita apenas medidas genéricas, como o estímulo ao aumento da produção agrícola de alimentos que não são commodities – como o feijão, hortaliças, etc -; a desoneração de investimentos; a redução dos gastos públicos; e imposição de limites ao excesso de exposição cambial de bancos e empresas.

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    Diante das constantes afirmações do ministro de que o país cresce mesmo com a inflação em alta, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) irritou-se. “A inflação é uma grande preocupação para todos nós sim, principalmente quando o presidente do Banco Central joga a toalha dizendo que não há mais como controlar a alta deste ano”, comentou. “Não vejo o porquê desse otimismo poliânico que vocês anunciam”. O coro dos que concordam com a indignação do senador é muito maior do que a imaginação de Mantega consegue alcançar.

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