O Ibovespa ganhou motivos de sobra para descer ladeira abaixo nos últimos dias e encerrou a semana em queda de 7,28%, a maior desde outubro de 2020. Nesta sexta-feira, 22, a bolsa brasileira encerrou o pregão a 106.296,18 mil pontos, patamar mais baixo desde novembro do ano passado, e uma queda diária de 1,34%. O principal motivo desta desvalorização foi a confirmação pelo governo do que já era temido pelo mercado: o furo do Teto de Gastos. A aprovação da extensão do Auxílio Brasil, o novo Bolsa Família, a um custo de 30 bilhões de reais a mais do limite colocado pela âncora fiscal é um marco para os investidores, que pararam de confiar no compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas do país.
Este temor já rondava os mercados e o Ibovespa vinha em gradual descida desde o meio do ano, quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, alertou sobre o impacto do “meteoro dos precatórios” no Teto Fiscal. Quando a única regra de responsabilidade fiscal do governo “sobrevivente” foi colocada em dúvida, a luz amarela se acendeu e os investidores passaram a tirar o pé do acelerador na compra de ativos brasileiros. No final de setembro, a bolsa já havia atingido 110 mil pontos, mostrando que o seu melhor momento, quando bateu o recorde histórico de 130.776 mil pontos em junho, havia ficado para trás.
Não fossem os panos quentes colocados pelo governo, a queda teria sido ainda maior. Nesta sexta, a bolsa brasileira chegou a cair 4% com os rumores sobre a saída de Paulo Guedes do governo, porém um pronunciamento conjunto com o presidente Bolsonaro assegurou que ele permanecerá no cargo. Na quinta-feira, o Ibovespa chegou a cair 4% com a debandada de quatro secretários da equipe de Guedes, mas encerrou em desvalorização de 2,75%. Já na terça-feira, com os rumores sobre a extensão do Auxílio Brasil a 400 reais até o final de 2022, a bolsa brasileira encerrou em queda de 3,28%, a 110.672,76 pontos.
“O mercado segue apreensivo com a questão fiscal e como se dará as contas daqui para a frente, principalmente seu impacto na inflação. Mas alguns setores se beneficiaram e tiveram altas expressivas”, diz Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos. A um olhar mais atento, um dos únicos setores que permaneceram positivos na semana foi o de papel e celulose, com Klabin e Suzano encerrando em alta de respectivamente 4,40% e 3,71%. As empresas surfam no real desvalorizado, favorável às exportações, e à alta demanda da China por papel para embalar com um material sustentável as crescentes encomendas que chegam ao país. As Lojas Americanas, por sua vez, tiveram alta de 1,88% na semana. Entre as maiores baixas da semana, estão a Getnet, com queda de 26,68%, o banco Inter, com desvalorização de 21,39%, e a Méliuz, com perdas de 21,01%.