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Quem é culpado pela inflação, segundo Paulo Guedes

Publicamente, o ministro creditava o aumento de preços a um reflexo internacional, mas agora revela o que pensava em privado: a justificativa vai além disso

Por Victor Irajá 22 out 2021, 17h45

O ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou nesta sexta-feira, 22, que o Banco Central “tem que correr” para conseguir controlar a forte alta da inflação. Em entrevista à imprensa, ele justificou essa pressão junto ao órgão, que ganhou autonomia formal do governo este ano com o seguinte raciocínio: “Toda vez que tiver aumento localizado, comida, material de contrição, é temporário”, declarou. “Agora, se está subindo tudo, todo mundo tem que olhar para o Banco Central.”

Guedes sabe que, com o rebuliço em torno do financiamento do novo Bolsa Família, da aprovação da PEC dos Precatórios e o consequente desrespeito ao teto de gastos, a inflação tende a se  aprofundar. E ele demonstra, em conversas privadas, estar incomodado que o aumento dos preços esteja caindo sobre suas costas. Apesar de reconhecer a derrota na defesa do teto de gastos, o ministro foi a público para defender a alternativa costurada entre a ala política e o presidente Jair Bolsonaro, e quer minimizar em seus discursos os impactos dessa solução à política fiscal.

Publicamente, ele, para não se indispor com representantes do BC, vinha colocando toda a culpa da inflação na conjuntura internacional e na pandemia. A pessoas próximas, a justificativa era diferente e envolvia também outros fatores. Ele se afasta da responsabilidade pelo problema e joga a conta para o que considera uma reverberação exagerada dos problemas por parte da imprensa e para arroubos do presidente Bolsonaro que teriam passado do ponto e aumentado a tensão nos mercado, pressionando o dólar. Mas também para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que teria, segundo ele, se influenciado por “banqueiros centrais que mantêm o juro em taxa zero ou negativa”, de economias desenvolvidas, que vivem realidades muito distantes da brasileira. Guedes refere-se a países como os Estados Unidos, cuja taxa básica de juros está entre 0% e 0,25%, ou europeus, onde o Banco Central Europeu pratica taxas entre -0,5% e 0%.

Dessa forma, o BC brasileiro teria usado a sua autonomia para decidir por uma política de juros muito frouxa para o histórico inflacionário do Brasil, um passado que não está definitivamente para trás. A Selic chegou a um recorde de baixa, no patamar de 2%, e vem subindo a taxa de forma gradual. Na próxima semana, na quarta-feira, o Comitê de Política Econômica (Copom), do BC, anunciará os juros. O mercado aposta em alta de 1,25 ponto percentual, aumento maior do que o realizado na última reunião. Isso também mostraria que o BC está mais preocupado com os impactos da inflação, assim como o ministro da Economia.

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Campos Neto é próximo de Guedes, e vira e mexe é especulado como sucessor do ministro no comando da Economia. Assessores de Guedes sempre negaram a possibilidade, classificada como ainda mais remota desde a sanção do BC como órgão formalmente autônomo do governo, o que manteria Campos Neto como presidente da instituição mesmo que Jair Bolsonaro seja derrotado nas eleições do ano que vem — o seu mandato no órgão vai até 2024. Aliados classificam que Campos Neto tem uma imensa fidelidade a Guedes, que o convidou para ser presidente do Banco Central. No entanto, membros do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto veem no atual presidente do BC um nome de confiança para uma possível substituição de Guedes, e a quem atribuem boa capacidade de articulação política.

Já Guedes mantém respaldo por parte de Bolsonaro. O presidente vê nele o último elo entre o governo e o mercado financeiro, e demonstrou, hoje, mais uma vez que não estaria disposto a demiti-lo para chancelar um nome que afastasse ainda mais os donos do dinheiro de seu nome. Com a popularidade em baixa, o presidente não quer arriscar perder mais apoio. Isso garante a manutenção de Guedes, apesar de muitas pressões oriundas de ministros palacianos para derrubar o ministro. E a principal resistência à demissão do ministro envolve a dificuldade de encontrar um possível sucessor que seja respeitado pelo mercado.

Se Campos Neto tem esta característica, mas não o interesse em assumir o cargo, o mesmo acontece com Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário de Tesouro de Guedes. Ele, além do próprio Campos Neto, tem sido aventado como possível substituto do ministro, mas também seria de difícil convencimento para aceitar a empreitada. Dessa forma, mesmo com uma relação mais estremecida com Guedes e ouvindo mais a ala política do seu governo, Bolsonaro mantém-se fiel ao seu Posto Ipiranga e o apoio a ele ainda segue.

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