“Cautela”, “parcimônia” e “paciência” são as palavras que permeiam as sete páginas da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a decisão da última semana que manteve a taxa básica de juros, a Selic, pela sétima reunião consecutiva. No entanto, o documento divulgado nesta terça-feira, 27, trouxe mais pistas sobre os próximos passos da política monetária, sinalizando até mesmo um corte em agosto.
Segundo o comitê do Banco Central, a continuidade da queda da inflação — e o impacto sobre as expectativas do mercado para o IPCA — pode possibilitar uma queda dos juros na próxima reunião. Em doze meses, encerrados em maio, o IPCA ficou em 3,94%. Nas estimativas do mercado financeiro, a inflação deve encerrar em 5,06%, revisões que seguem há pelo menos seis semanas. “A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, informou o Banco Central.
A Selic está em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, e a demora para sinalizar um corte vinha irritando até mesmo o Ministério da Fazenda, que tem em Fernando Haddad um dos membros do governo Lula mais pacientes com o Banco Central. A falta de sinalização sobre os juros no comunicado divulgado na última quarta-feira irritou o governo, e o sinal dado na ata pode acalmar a situação.
Apesar de admitir uma mudança na política monetária, o BC continuou a adotar um tom muito cauteloso. Segundo o Copom, a dinâmica de queda da inflação “ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis, e a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário até então implementado”. De acordo com o Copom, cortes de juros “exigem confiança” na trajetória de queda da inflação, uma vez que reduções “prematuras” da taxa Selic podem gerar “reacelerações do processo inflacionário”.
Na ata, o BC elencou que os “passos futuros da política monetária” dependerão do comportamento e dos próximos resultados do IPCA, das projeções do mercado para a inflação, das estimativas do próprio BC para a inflação, de indicadores sobre o crescimento da economia e de índices sobre a inflação futura.