O dólar comercial fechou nesta segunda-feira, 19, com alta de 1,6%, cotado a 4,07 reais para a venda, com uma conjuntura de desaceleração global e expectativa para a ata da reunião do Federal Reserve (o BC dos Estados Unidos), que cortou juros no país. Foi a maior cotação da moeda desde o dia 20 de maio, quando havia sido negociada a 4,10 reais. Já o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, caiu 0,34%, aos 99.468 pontos.
“Foi um dia fora do padrão para o câmbio. Não há uma notícia que explique o dólar a 4,07 reais hoje”, afirma Cleber Alessie, operador de câmbio da H.Commcor. Segundo ele, são vários aspectos que ajudam a entender o movimento desta segunda-feira, com a moeda fechando em seu maior patamar em três meses.
O movimento de valorização do dólar foi visto tanto com relação a moedas emergentes, como o real, como em comparação a países desenvolvidos. O yen, do Japão, por exemplo, teve alta de 0,23%. “É curioso, porque o dólar esteve forte contra moedas emergentes e também contra moedas que normalmente sobem quando as emergentes desvalorizam, como o yen e o franco suíço”, diz Alessie.
Entre os motivos que podem explicar a valorização do dólar frente a outras moedas hoje, está o fato de, nesta quarta-feira, 21, o Fed divulgar a ata da reunião em que foi definido o corte de juros nos Estados Unidos. Foi a primeira redução em dez anos, mas, ainda assim, considerada insuficiente pelo mercado. Aliado a isso, na sexta, o presidente do colegiado, Jerome Powell, faz um pronunciamento. “Isso é um fator de extrema apreensão no mercado. Com o corte, veio um discurso bem nebuloso do Fed, o que deixou o mercado receoso e inseguro. E, com isso, aumenta a aversão ao risco”, diz Alessie.
O Banco Central Europeu (BCE) que não cortou juros no mês passado — apesar da expectativa para tal — também divulga sua ata esta semana, na quinta-feira, 22. O cenário é de desaceleração no bloco. Nesta segunda, 19, o banco central da Alemanha, principal economia da União Europeia, informou que, após a recessão de 0,1% no segundo trimestre deste ano em comparação ao período ligeiramente anterior, o país deve ter nova retração de julho a setembro, por causa de fraco desempenho da indústria doméstica.
Além disso, existe um movimento forte de fuga de investimentos da Argentina para o Brasil. No sábado, 17, o ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, renunciou depois do terremoto financeiro ocorrido nos mercados do país na última semana, com a vitória da chapa da ex-presidente Cristina Kirchner nas primárias presidenciais. Com isso, os investimentos com interesse no país vizinho acabam vindo para o Brasil em uma postura mais conversadora.
No cenário interno, Alessie acredita que possa ter um movimento de “desafio” ao Banco Central. A partir de quarta-feira, 21, a instituição venderá 550 milhões de dólares à vista no mercado diariamente — vindos da reserva cambial do país — e, ao mesmo tempo, comprará o valor em contratos futuros (em que o valor do dólar é definido por prazo). A ideia é realocar os ativos no mercado controlando a variação da moeda. “O mercado pode estar pegando essa carona global e desafiando o Banco Central brasileiro. Querem ver o quanto o banco poderá mexer nas reservas”, acrescenta ele.