O dólar subiu e voltou ao nível de 3,50 reais nesta segunda-feira, em meio às preocupações de que os juros nos Estados Unidos possam subir mais do que o esperado e afetar o fluxo de capital global. A moeda americana fechou abril com a maior valorização mensal em quase um ano e meio.
A política local também inspirou a cautela dos investidores diante das eleições bastante indefinidas deste ano, cenário que não deve mudar tão cedo e que vai continuar pressionando o mercado cambial.
O dólar avançou 1,20%, e foi a 3,5035 reais na venda, maior nível de fechamento desde 3 de junho de 2016 (3,5249 reais) e pela primeira vez desde então no patamar de 3,50 reais.
Em abril, a moeda americana acumulou valorização de 6,16%, maior alta mensal desde novembro de 2016 (6,18%), após a eleição do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos.
Abril foi o terceiro mês consecutivo em que o dólar ficou mais caro ante o real, acumulando no ano, até agora, alta de 5,71%. O dólar futuro subia cerca de 1% no fim desta tarde.
“O mercado deve ficar mais volátil. O dólar deve seguir pressionado ante o real em maio. O nível de 3,55 reais já acenderia a luz amarela para o BC”, avaliou a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares, referindo-se a eventuais atuações mais fortes do Banco Central para conter pressões cambial.
Nos últimos dias, cresceu o temor nos mercados globais de que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, possa elevar os juros mais vezes neste ano diante de sinais de melhor desempenho da economia dos Estados Unidos e inflação maior. Juros elevados no país têm potencial para atrair recursos aplicados hoje em praças financeiras consideradas de maior risco, como a brasileira.
“Essa semana será importante para o mercado, que busca pistas sobre a atuação do Fed”, afirmou diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer, ao lembrar que na próxima quarta-feira o Fed anuncia sua decisão sobre a política monetária.
As expectativas são de que o Fed mantenha suas taxas, mas os investidores vão ficar de olho no comunicado para mais sinalizações sobre seus próximos passos.
O cenário doméstico também seguirá no foco dos agentes econômicos, diante das eleições de outubro ainda bastante indefinidas. Em abril, pesquisa de intenção de voto manteve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança, mesmo preso.
Lula é considerado pelos mercados financeiros menos comprometido com o ajuste fiscal. Mesmo que eventualmente não consiga concorrer nas eleições deste ano, o ex-presidente pode atuar como forte cabo eleitoral e transferir seus votos para um candidato que desagrade aos mercados, levando os investidores a tomar posições de proteção.
Por isso, os investidores continuarão atentos à atuação do BC no mercado de câmbio. “Não vejo ponto de atuação (do BC) por nível de preço (do dólar), mas por volatilidade excessiva e também por piora do real em nível mais acelerado do que outras moedas emergentes”, afirmou o diretor da More Invest Gestora de Recursos Leonardo Monoli.
Vencem em junho 5,650 bilhões de dólares em swaps cambiais tradicionais — equivalentes à venda futura de dólares —, e o BC fez leilões para rolagem dos contratos que venceram em outros meses. Até agora, a autoridade monetária não anunciou a rolagem dos papéis que vencem em junho.
No próximo dia 3 de maio, vencem ainda 2 bilhões de dólares em leilão de linha, venda de dólares com compromisso de recompra.