Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Saiba quem ganha e quem perde com o dólar em queda

Produtos importados, como alimentos, remédios, ficam mais baratos enquanto vendas para fora do país se enfranquecem

Por Teo Cury Atualizado em 2 mar 2017, 13h30 - Publicado em 1 mar 2017, 13h33

Em meio ao atual cenário de crise que vive o país, o câmbio, um dos principais indicadores econômicos, vem chamando a atenção do mercado brasileiro. Depois de quase dois anos, o dólar comercial voltou ao patamar de 3,05 reais, uma desvalorização que já acumula queda de 10,55% nos últimos três meses.

A recente depreciação da moeda americana tem um efeito duplo para o país, de acordo com os especialistas consultados por VEJA. Ao mesmo tempo em que beneficia os consumidores com preços mais acessíveis sobre produtos importados e com viagens ao exterior, prejudica o setor industrial e empresas que dependem de exportações.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, explica que, com o dólar desvalorizado, alimentos e remédios, por exemplo, ficam mais baratos para os consumidores. “Isso porque, com o dólar em queda, importamos esses produtos por preços melhores, o que aumenta a oferta doméstica. Esse fator, somado a uma inflação mais baixa e uma redução dos juros, faz com que as pessoas consigam sentir essa melhora no valor pago.”

Para o professor da FGV/EPGE, Antonio Porto, o dólar menor reduz os preços dos bens de consumo, como a gasolina e de transportes, que, em geral, ficam mais baratos. Algo, de acordo com ele, “positivo para população”.

“O câmbio em queda é uma vantagem para o consumidor, que passa a ter acesso a vinho francês”, brinca. O único problema, segundo Porto, é que de nada adianta o vinho baratear se a maior dificuldade hoje do brasileiro é o desemprego. Ou seja, em sua visão, de nada adianta o preço do produto cair, se ele não tem como pagar por esse vinho. “A inflação já está combatida, agora é cuidar do desemprego. O governo tem que reduzi-lo mais rápido.”

Reginaldo Galhardo, consultor de mercado da Associação Brasileira das Corretoras de Câmbio (Abracam), diz que já é possível ver, com os relatórios do Banco Central, que aumentaram os gastos de viagem de brasileiros no exterior, alta de 87,9% em janeiro.

Continua após a publicidade

Assim como o dólar comercial, o turismo também vem caindo na comparação com o real. Nos últimos três meses, a desvalorização já acumula queda de 10,27%. O movimento da moeda fez com que aumentassem as buscas por casas de câmbio aumentou em 25% e por pacotes de viagens ao exterior em 30% desde o final do ano passado.

“Parte dessa euforia, vem desse momento de volta de credibilidade. As reformas que estão começando a ser feitas estão tendo resultados. Sabemos que o mercado tem reagido justamente por isso”, diz o consultor da Abracam.

Para quem está se preparando para viajar para fora, a dica de Galhardo é analisar semanalmente a cotação da moeda. A Abracam observa que os consumidores têm comprado dólar meses antes de sua viagem por não acreditarem que a cotação possa ficar mais tempo no patamar atual. “Se não for atrapalhar seu orçamento, o melhor a se fazer é comprar agora. O ideal é não deixar a ‘batata assar’. Compre um pouco agora e um pouco depois.”

Continua após a publicidade
Compras em Miami
Dólar mais barato aumenta gastos dos brasileiros no exterior (iStockphoto/Getty Images/Getty Images)

Indústria é setor mais impactado

Flavio Castello Branco, gerente de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirma que “uma das possíveis saídas da economia eram as exportações”. Com o dólar em queda, fica ameaçada essa estratégia, o que faz com que o setor industrial ressinta e fique bastante preocupado com a desvalorização da moeda americana.

“O que aconteceu em 2016 foi um processo de depreciação do real. Um pico que passou de 4 reais durante um momento de tensão, para um patamar de 3,40 reais Mas agora a queda do dólar está muito forte.”

Continua após a publicidade

Antonio Porto, da FGV/EPGE, conta que a indústria brasileira está “vendendo mal dentro do país” devido à fraca demanda. A solução, então, é vender para fora. “Se o dólar está entre 3,50 reais e 4,50 reais ainda vale a pena, se está valendo menos, perde um valor substancial, até 15% do que poderia ganhar.”

O professor acredita que o governo deve apoiar a exportação, no lado fiscal, e reduzir os juros. “Assim, é possível recompor a demanda doméstica, para a indústria brasileira focar aqui e atrair menos capital externo. Por isso, a reação do governo a esse fenômeno deve ser uma redução mais rápida dos juros.”

Castello Branco explica que o câmbio, quando desvalorizado, compensa a competitividade. Quando valoriza, esses problemas de competitividade “agonizam”.

Continua após a publicidade

Assim sendo, os olhos do setor ficam atentos a tudo, desde questões internacionais, que podem afetar os preços das commodities, às medidas adotadas pelo Banco Central, que vem apresentando política de ajuste na taxa básica de juros. “Se a taxa cair, ficará menos atrativo trazer dinheiro para cá.”

Para a situação mudar, é necessária uma política mais ativa do BC para estabilizar um pouco mais o câmbio. “É complicado porque aqui não tem um controle sobre o câmbio, como na China, que consegue fixar. A volatilidade é o acaba termina comprometendo a segurança e gerando incerteza.”

Na visão de Castello Branco, para se adequarem ao cenário atual, as indústrias têm de fazer “das tripas coração”, reduzindo custos e aumentando a produtividade. “Quanto mais se produz, mais se exporta, mais precisa de mão de obra.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.