Há duas décadas, o economista britânico Jim O’Neill cunhou o termo BRIC (acrônimo de Brasil, Rússia, Índia e China) para definir o grupo de nações com potencial para liderar a economia global em 2050. O diagnóstico, divulgado em uma publicação do banco americano Goldman Sachs em novembro de 2001, chamou a atenção de investidores de todo o planeta e inaugurou uma onda de otimismo. Em 2008, o Brasil passou quase incólume à crise que arrastou para o fundo do poço os Estados Unidos e a Europa. No ano seguinte, ganhou uma capa histórica na prestigiada revista The Economist, em que o Cristo Redentor decolava do topo do Corcovado. Não era exagero. Em 2011, ainda no mesmo embalo, o país se tornou a sexta economia do planeta, à frente do Reino Unido.
Economia do Brasil
O fim dessa história, infelizmente, é bem conhecido — e a própria The Economist tratou de calibrar seu posicionamento em relação ao Brasil, em edição posterior, com o Cristo caindo como foguete pifado (veja nas fotos acima). Entramos numa espiral de incompetência, com uma sequência de decisões equivocadas e raros avanços. Hoje, devido a uma disparada cavalar do dólar, entre outros fatores, o país está mais pobre e acaba de despencar para a 12ª posição no ranking das economias globais, um posto inferior ao que ocupava em 2005. Em entrevista a VEJA, publicada na página 35 desta edição, o pai do BRIC reconhece: “O Brasil não concretizou as expectativas”. Triste.
Com o cotidiano interrompido, em quarentena, a economia foi arrastada com violência pela pandemia do novo coronavírus. Na semana passada, para piorar, o Brasil ultrapassou a infame cifra de 2 800 mortes diárias pela doença, um recorde assustador (leia a reportagem na pág. 22). Diante de tamanha tragédia, são gritantes a inépcia e a falta de estratégia do governo federal. Na segunda-feira 15, o presidente Jair Bolsonaro nomeou seu quarto ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga. Não fez, no entanto, nenhum sinal de que pretende liderar o país para sair dessa situação. Ao contrário. Continua com a pregação tresloucada contra o isolamento social e a favor do uso de medicamentos sem comprovação científica. Ao insistir nesse comportamento, comete dois graves equívocos: demonstra insensibilidade com todos os brasileiros — vivos e mortos — e afugenta investidores.
Ministro da Economia
Em meio às dificuldades, é fundamental ressaltar o papel do ministro da Economia, Paulo Guedes. Dono de espírito público louvável, Guedes tem sido um contraponto valioso no desvario negacionista que infecta o governo — e a maior esperança de sucesso. Sua agenda liberal, calcada na redução do Estado hipertrofiado e nas propostas de reformas estruturais, é a única opção para a retomada econômica. Infelizmente, um dos adversários dessa trilha tem sido o próprio presidente. Com sua visão corporativista, atrasada e eleitoreira, Bolsonaro se empenhou pessoalmente na mutilação de pontos da PEC Emergencial que desagradavam a seus radicais apoiadores, mas que seriam muito positivos para o controle das contas públicas. Num cenário em que o presidente joga contra, resta apenas torcer para que, independentemente dele, seja implementada uma vacinação em massa a todos os brasileiros e que o Congresso, por sua própria iniciativa, abrace a acertada pauta do ministro da Economia. Só assim o país terá chance de reencontrar o caminho do crescimento.
Leia também:
- Covid 19: como os vizinhos da América do Sul tentam evitar o ‘Risco Brasil’.
- Bolsonaro ainda não deu sinais claros de que compreende o tamanho do buraco em que se encontra.
- Medicina Avançada: Novas tecnologias conferem a médicos, seguranças e soldados, visão especial.
- Fracasso do governo na pandemia acentua uma urgência: acelerar a vacinação.
- Plano de Bolsonaro para melhorar imagem já admite isolamento social total.
- O inimigo dentro de casa: o novo embate entre o Planalto e o Coaf.
Publicado em VEJA de 24 de março de 2021, edição nº 2730