O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou nesta sexta-feira, 2, que a privatização dos Correios “está no radar” do governo. Na avaliação dele, a empresa foi “aparelhada” politicamente pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e precisa recuperar sua credibilidade. Na quinta, a também estatal Eletrobras anunciou o início de estudos para sua desestatização, após reunião de Bolsonaro com o presidente da companhia, Wilson Ferreira Júnior.
“Vocês sabem o que foi feito com os Correios. O mensalão começou com eles. Sempre foi um local de aparelhamento político e que foi saqueado, como no fundo de pensão. Os funcionários perderam muito, tiveram que aumentar a contribuição para honrar”, disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada no período da manhã.
Bolsonaro afirmou ainda que o presidente dos Correios, Floriano Peixoto, foi indicado para o comando da empresa para “fazer o melhor” e para recuperar a credibilidade da companhia. “Ele está fazendo bem o trabalho de recuperar a credibilidade que eles tinham antes do PT”, comentou. Os dois se reuniram na manhã desta sexta no Palácio do Planalto.
Peixoto chegou ao cargo em junho, após Bolsonaro anunciar a demissão do então presidente da estatal, general Juarez Aparecido de Paula Cunha, por “comportamento de sindicalista”. Segundo revelou o Radar na época, dias antes da demissão Cunha compareceu a uma comissão da Câmara e criticou a privatização dos Correios, elogiou projetos de lei de um deputado petistas, posou com parlamentares do PT e sindicalistas, que o aplaudiram várias vezes, o que foi mal visto dentro do governo.
No mês de maio, Bolsonaro afirmou a VEJA que deu sinal verde para a privatização dos Correios. “Vamos partir para a reforma tributária e para as privatizações. Já dei sinal verde para privatizar os Correios. A orientação é que a gente explique por que é necessário privatizar”, disse ele, na ocasião.
O governo enxerga a privatização da estatal com urgência. Em julho, VEJA teve acesso a cálculos preliminares feitos pela equipe do governo. As primeiras conclusões mostram que o tempo de vida útil para concretizar a venda dos Correios está em torno de cinco anos. Desde o início de 2018, a principal fonte de receita da estatal deixou de ser o monopólio postal — a entrega de cartas, largamente substituídas por várias formas de mensagem eletrônica — e passou a ser a entrega de encomendas, mudança impulsionada, sobretudo, pelo crescimento do e-commerce. No prazo previsto pela equipe econômica, as transportadoras privadas ultrapassarão a estatal na prestação do serviço. O ponto de virada inviabilizaria por completo a sua venda.
Nesta semana, os funcionários dos Correios chegaram a sinalizar uma greve, mas após acordo com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), os sindicatos concordaram em não deflagrar greve antes do final de agosto, prazo pedido pelo TST para tentar costurar um acordo entre a empresa e os trabalhadores. Além de serem contra a privatização, os carteiros e outros profissionais dos correios protestam contra a proposta de reajuste salarial de 0,8% e da revogação de um acordo coletivo com a categoria.
Eletrobras
Outra empresa que está no calendário de privatizações do governo é a Eletrobras. Na noite de quinta-feira, 1°, a estatal informou em fato relevante que Bolsonaro autorizou que sejam aprofundados estudos para a desestatização da companhia.
Os estudos, informou a companhia, serão para que o processo ocorra por “aumento de capital social, mediante subscrição pública de ações ordinárias da Eletrobras ou de eventual empresa resultante de processo de reestruturação”. De acordo com fato relevante, o processo de desestatização da companhia também deverá ser apreciado pelo Congresso Nacional.
(Com Estadão Conteúdo)