“Acho que minha geração deu uma cara para o cinema nacional e isso é importante. Daqui a alguns anos, o público vai olhar para trás e ver o Lázaro Ramos, o Matheus Nachtergaele, eu e tantos outros colegas nossos e terá na mente a cara desse cinema. Nós estamos representando o brasileiro no cinema”, diz Selton
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Em Reflexões de um Liquidificador, comprova-se o prestígio que Selton Mello tem hoje no cinema nacional. O ator chegou à equipe no fim do processo, com boa parte das cenas já gravadas. Foi convidado para dar voz ao personagem-título, trabalhou em apenas um dia – gravando suas falas em um estúdio – e ganhou destaque equivalente ao de seus colegas de elenco, que não são tão conhecidos do grande público. Um status justo para quem já tem 27 participações em filmes, entre curtas e longas, muitas vezes no papel principal.
Ter no cartaz o nome de um ator tão popular entre as platéias pode fazer a diferença para uma produção modesta e tão atípica como Reflexões de um Liquidificador. Selton explica por que aceitou o convite: “Se o diretor de um filme tão importante como A Marvada Carne te procura, não tem como não ouvir. Além disso, achei o roteiro muito inventivo. E fui dublador por muito tempo, por toda a minha adolescência. Fiz as cenas todas em um só dia. Tudo isso me fez aceitar participar do projeto”, diz Selton. “A minha parte foi a mais fácil. A mais difícil ficou com a Ana Lucia, que teve que contracenar com o liquidificador. É como se fosse atuar com aquele fundo verde, onde os atores têm que correr como se houvesse dinossauros atrás deles”, brinca o ator.
Outro fator que atraiu Selton para o projeto foi o humor do filme. “O André Klotzel também filmou Memórias Póstumas. Ele ousou meter a mão nessa cumbuca que é o universo de Machado de Assis, com sua fina ironia. Acho que esse novo filme do André tem um humor machadiano”, diz. Não é o primeiro filme “estranho” de Selton. Ele também protagonizou O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia, repleto das bizarrices tão características do escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli, que deu origem ao roteiro.
Nesse aspecto, Selton lembra o colega americano Johnny Depp, que não se importa de viver personagens estranhos. “Acho interessante alternar participações em filmes de apelo claramente comercial, como A Mulher Invisível, e outro como A Erva do Rato, do Julio Bressane”. É prazeroso, faz a gente se movimentar, aprender mais e crescer”, explica.
Se a comparação com Depp parece exagerada para alguns, aí vai uma mais plausível, que pode ser comprovada no futuro: Wilson Grey, o ator que mais participou de filmes nacionais. Selton ri da associação (“Quem sabe, se eu continuar nesse ritmo…), antes de falar sobre estar em tantas produções, dando a entender que não é o único presente em um grande número de filme brasileiros no momento. “Acho que minha geração deu uma cara para o cinema nacional e isso é importante. Daqui a alguns anos, o público vai olhar para trás e ver o Lázaro Ramos, o Matheus Nachtergaele, eu e tantos outros colegas nossos e terá na mente a cara desse cinema. Nós estamos representando o brasileiro no cinema”, diz Selton.
Fazer tantos papéis pode ser perigoso para atores sem versatilidade, que correm o risco de soarem estar fazendo sempre o mesmo personagem. Mas essa possibilidade não assusta Selton. “É, pode chegar uma hora em que não temos mais cara para inventar. Mas não é algo que me tira o sono. Em cada trabalho que faço me dedico muito. Acho que é nas escolhas dos personagens que faço que conseguirei marcar essas diferenciações. E tenho sido feliz nas escolhas”, arremata.
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