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Realismo e 650 figurantes: a transição de ‘Dumbo’ de desenho a live-action

Atento aos novos tempos, Tim Burton deixou cenas da animação de 1941 de fora do novo filme, que estreia nesta quinta-feira, 28, nos cinemas

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
28 mar 2019, 16h16

Quase dez anos depois de ter lançado Alice no País das Maravilhas (2010), filme que selou de vez suas pazes com a Disney e inaugurou a seara de refilmagens de clássicos do estúdio, Tim Burton voltou à tarefa de resgatar velhas histórias com Dumbo, que estreia nesta quinta-feira, 28, no Brasil. O diretor, segundo conta a VEJA, era fã do personagem, sinalizando uma identificação com o elefante, “estranho e meio monstruoso, que é ridicularizado e transforma a sua desvantagem, no caso as orelhas enormes, em vantagem, aprendendo a voar”. Em termos de tom, a animação de 1941 também era bem alinhada com os seus filmes, que se passam num território e numa época que parecem só deles. “Dumbo tinha um espírito, uma mistura de melancolia, tristeza e introspecção com alegria, beleza e felicidade.”

Mas, ciente de que o filme original é um produto de seu tempo – e que os tempos agora são outros –, o diretor fez mudanças. Uma cena na animação em que Dumbo encontra um bando de corvos, em uma representação estereotipada de pessoas negras, ficou de fora da nova versão. Outra sequência, esta modificada, foi aquela clássica em que o elefante, acidentalmente, fica bêbado. “Quem quer ver uma criança bêbada nos dias de hoje?”, questiona o diretor. O espectador pode ficar sossegado, no entanto, porque a alucinação de Dumbo com os elefantes rosas está mantida no filme, mas de uma maneira nova.

Burton também não curtia os animais falantes. “Funciona no desenho, mas neste contexto não daria muito certo, era preciso ser mais realista.” O cineasta viu Dumbo como um personagem de cinema mudo, uma vítima sem voz num mundo de humanos – que em seu filme têm suas próprias histórias. Holt Farrier (Colin Farrell) é um ex-astro do circo que volta da Primeira Guerra Mundial sem um braço e sentindo a necessidade de se reconectar com seus filhos, Milly (Nico Parker) e Joe (Finley Hobbins). São as crianças que descobrem que Dumbo pode voar. Quando o elefantinho revela suas habilidades ao mundo, é um alívio para o dono do circo, Max Medici (Danny DeVito), que enfrenta dificuldades financeiras.

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O animal, então, desperta a atenção de V.A. Vandevere (Michael Keaton), o poderoso dono de um parque de diversões futurista, não muito diferente da Disneylândia. “Claro que pensei na Disneylândia, vou lá desde os 3 anos de idade!”, diz Burton. Foi na Disney que o diretor conseguiu seu primeiro emprego, até ser demitido depois de fazer o curta Frankenweenie (1984), considerado sombrio demais. Sua história de altos e baixos com o estúdio teve continuidade quando foi chamado para dirigir Alice no País das Maravilhas, um megassucesso que rendeu mais de 1 bilhão de dólares na bilheteria mundial.

A transformação da história de Dumbo de uma animação para o formato live-action, com atores, passou ainda por outras questões. Para contá-la para o público de hoje, sem abdicar de seu estilo pessoal, Burton contou com a ajuda dos atores, mas também com a equipe técnica, como o designer de produção Rick Heinrichs, a figurinista Coleen Atwood e o compositor Danny Elfman, todos colaboradores de longa data. Confira abaixo detalhes do processo:

 

Visual

O filme de Tim Burton se passa em 1919, logo depois da Primeira Guerra Mundial. A equipe de Rick Heinrichs, designer de produção, pesquisou a fundo o período. Mas todo filme de Tim Burton se passa numa época e num lugar que parecem próprios de seu cinema. “Tim não está interessado em exatidão histórica”, afirma Heinrichs. “Ele está preocupado com a sensação e a emoção que provoca no público.”

Por exemplo, não existia nenhum parque de diversões remotamente parecido com Dreamland, onde Dumbo vai parar depois de fazer sucesso voando no circo. Dreamland se parece muito mais com a Disneylândia, mas com um lado sombrio. “Nós nos inspiramos no parque e também na Feira Mundial de Nova York de 1930. Queríamos que fosse uma versão mais avançada do que eles podiam fazer na época em termos de tecnologia.”

Dreamland, o parque de diversões de 'Dumbo' (2019)
Dreamland, o parque de diversões de ‘Dumbo’ (2019) (Disney/Divulgação)
Entrada do Pixar Pier no Disney California Adventure Park em Anaheim, Califórnia (Jeff Gritchen/Orange County Register/Getty Images)

Para o circo Medici, a estratégia foi oposta: ser o mais realista possível, até para contrastar com a etapa posterior, quando os artistas vão para Dreamland a convite do seu dono. “Nós nos inspiramos nas telas do pintor Edward Hopper”, diz Heinrichs.

Na hora de criar o elefante, feito com computação gráfica, a equipe de Heinrichs misturou elementos do desenho original, como seus grandes olhos azuis, e realismo. “Um elefante-bebê às vezes parece um homem velho. Então precisávamos equilibrar, porque o propósito de Tim Burton era que ele fosse emotivo como o do desenho. Mas precisava ser realista a ponto de você acreditar quando ele começa a voar.”

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'Dumbo'
(Disney/Divulgação)

 

As roupas

O trabalho da figurinista Colleen Atwood foi mais fácil, porque quase não havia humanos no Dumbo original. A única cena em que a figurinista tentou se aproximar do desenho foi a dos palhaços-bombeiros – Dumbo é escalado para fazer parte de um número dos palhaços em que fica preso numa torre em chamas. “Então a forma dos casacos, as cores, os chapéus, tudo é bem parecido”, diz.

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Mas, para os outros figurinos, Atwood fez muita pesquisa, desde o final do século XIX até o começo do século XX. “Achei que seria bom misturar, porque o circo vai a muitas áreas rurais, onde os novos estilos demoram a chegar. Fora que as pessoas na época não tinham várias roupas, elas iam ao circo com as peças que usavam para ir à igreja.” As cores, porém, foram inspiradas nos anos 1950, um tanto desbotadas.

'Dumbo'
(Disney/Divulgação)

O maior desafio de Colleen Atwood foi vestir uma enormidade de pessoas – certos dias de filmagem chegaram a ter 650 figurantes. Nos figurinos dos artistas circenses, foi preciso aliar a beleza com a praticidade, já que alguns precisam mover seus corpos de maneira extrema. Para a trapezista Colette (Eva Green), a figurinista criou saias destacáveis de material bem leve, para que flutuassem quando ela solta essa parte do figurino à medida que sobe para o trapézio.

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Michael Keaton e Eva Green em 'Dumbo' (2019)
Michael Keaton e Eva Green em ‘Dumbo’ (2019) (Disney/Divulgação)

A música

Danny Elfman já fez dezessete filmes com Tim Burton, mas disse que cada um é uma surpresa. “Ele tem uma mente complexa. Nunca acho que vai ser fácil”, diz o compositor. No caso de Dumbo, “Tim só me dizia que queria algo que ‘voasse bem alto’”, conta Elfman. “Mas é uma história simples. Fiquei feliz porque sabia que ia ser triste, e eu gosto disso!”

Curiosamente, o compositor nunca tinha visto o original completo. Mas, quando assistiu, antes de começar a trabalhar na trilha, reconheceu vários temas. “Tim não queria usar nada do original, a não ser Baby Mine, que seria cantada”, disse o compositor. “Depois ele me contou que haveria uma cena com os elefantes rosas. Acabei convencendo Tim de que poderíamos usar um pouco da trilha original para a cena.” Uma delas não foi planejada: Casey Junior, quando o trem do circo sai de uma cidade para outra. “Fui incluindo aos pouquinhos, e Tim não reclamou.”

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