Ao subir as escadas de sua casa, no domingo de Páscoa, 12, Raul Gil se desequilibrou e caiu. O tombo lhe custou duas costelas quebradas, sete deslocadas e um galo na cabeça – se não fosse por um gorro que estava usando no dia, teria sofrido um traumatismo craniano. “Ainda bem que, dessa vez, não tirei o chapéu”, disse Gil em entrevista exclusiva a VEJA, por telefone. Após ficar mais de uma semana internado, o apresentador de 82 anos – 63 apenas na televisão – está se recuperando do acidente em casa e comentou sobre o medo da internação no hospital Albert Einstein, referência no tratamento de coronavírus na rede particular paulistana. Ele relata os mais de vinte dias que passou enclausurado em sua mansão em São Paulo durante a quarentena: “Não aguento mais”. E se ressente do afastamento do amigo Silvio Santos. “A família o cercou em uma bolha. Poucos podem chegar próximo do Silvio”. A seguir, a entrevista:
Como foi o acidente doméstico que sofreu?
Na minha casa tem uma escada muito grande. Eu estava subindo para meu quarto quando me desequilibrei e caí. Rolei uns cinco degraus e bati a cabeça contra a parede. Cheguei a desmaiar. O médico disse que eu só não tive um traumatismo craniano em razão do gorro que estava usando na hora: uma touca de pelo de carneiro forrado de couro. Ganhei da minha mulher quando fomos para Gramado. Ainda bem que, dessa vez, eu não tirei o chapéu para ninguém. Fui internado no Albert Einstein. Quebrei duas costelas e desloquei outras sete. Precisei passar por um procedimento na base da espinha, mas estou muito bem. Me sinto uma nova pessoa.
Já teve outros desequilíbrios desse tipo?
Grave desse jeito, não. Mas isso é coisa de velho. Eu já tenho 82 anos, então começa a ficar normal. Há 10 dias, eu estava tirando um cochilo na beira da piscina. Quando acordei, meu pé esquerdo tinha adormecido, e eu não senti. Quando levantei, praticamente estava sem um pé. Não deu outra: cai de bunda no chão. Eu vou começar a beber, porque eu não bebo e fico caindo, talvez o contrário me deixe mais estável. Pareço uma goiaba podre caindo do pé.
Por sua idade, o senhor faz parte do grupo de risco do novo coronavírus. Mesmo assim foi ao hospital e chegou a ser internado por mais de uma semana. Ficou com receio de pegar a Covid-19?
Muita. Eu preciso me cuidar, né? A gente não pode pensar só na gente, tem de pensar na família como um todo. Mas o pessoal do hospital foi muito carinhoso e atencioso comigo. Quando eu cheguei, após fazer alguns exames, eles notaram uma mancha no meu pulmão e acharam que poderia ser pneumonia. Os médicos me levaram para uma ala que só atendia pacientes com a Covid-19. Eu corri de lá. Pedi que me tirassem dali porque eu não estava com o vírus. Eu e meu filho, Raul Junior, que me acompanhou durante a internação, fizemos o teste para o coronavírus três vezes. Em todas, o resultado deu negativo.
O que o senhor tem feito durante a quarentena?
Eu meto a bunda na cadeira, depois eu vou para o sofá. Depois eu passeio até a cozinha… e por aí vai. Não aguento mais ficar trancado dentro de casa. Minha sorte é que eu tenho um quintal muito grande, parece uma floresta. Mas eu não estou mais aguentando ver as mesmas flores, as mesmas plantas. Nem o meu cachorro está aguentando me ver. Eu fico vendo os programas de fofocas aqui em casa, falando sobre mim e sobre meu tombo. Pelo menos ainda falam de mim. Seria ruim se não falassem.
O senhor não gosta de ficar em casa?
Eu gosto, sou uma pessoa muito caseira. Mas não gosto dessa repressão de ser obrigado a ficar. Gosto de poder sair, ir até o Brás, Moema, sair para jantar. Fazer um churrasco em casa e chamar todos os meus amigos. É difícil não poder fazer nada e não ter ninguém para fazer esse nada com você. É muito solitário. Minha filha, por exemplo, mora perto de mim, mas não a vejo há um mês e com os meus netos é a mesma coisa.
Mas eles ainda se comunicam com o senhor?
Sim, sempre me ligam. É engraçado que agora que eu caí, todo mundo está me ligando. Um carinho enorme. Pessoas como o Carlos Alberto de Nóbrega, Otávio Mesquita, Celso Portiolli, muita gente da Record, SBT, Band. O cunhado do Silvio me ligou…
E o Silvio?
Ele próprio, não. Nós somos muito amigos, parceiros de uma longa data e vida. Sempre me espelhei no Silvio e devo minha carreira a ele. Mas nos últimos anos nos afastamos um pouco. A família o cercou em uma bolha. Apenas alguns podem chegar próximos do Silvio. Nos próprios corredores do SBT, ele não para e fala com as pessoas mais. Sempre tem alguém querendo pedir alguma coisa para ele. Porque a sobrinha, a filha ou sei lá quem precisa de algo. Deve ser um pé no saco. Não o culpo, mas infelizmente o tempo vai afastando as pessoas. Eu tenho uma admiração e um respeito enormes por ele.
Apesar de já ter sido muito cortejado no mundo político, o senhor hoje anda muito discreto e quase não fala sobre o tema. Mas tiraria o chapéu para o presidente Jair Bolsonaro?
Tiro, claro. Gosto muito do presidente. Ele fala muita coisa que não precisa, mas é integro e sincero. Se enfia no meio do povo apertando a mão das pessoas e não acontece nada com ele. A fé dele deve ser muito grande para fazer uma coisa dessas. Corajoso. Às vezes dá vontade de se meter e falar sobre política. Não dá para aguentar tudo no silêncio, mas é melhor ficar quieto. Ainda mais eu que tenho muitos amigos no ramo. O próprio Bolsonaro é um deles. Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro, já gravou um álbum de músicas comigo. João Doria, governador de São Paulo, conheço desde quando tinha 14 anos. Eu o vi crescer, vi a família dele ser exilada para a França durante a ditadura. O homem político é extraordinário, mas precisa ser honesto. Não sei se eu acredito em mais alguém na política atualmente.