Problema de ‘Felizes para Sempre?’ é o didatismo das perguntas
Interrogações pipocam no começo e no fim do capítulo, como um professor de escola que tenta conduzir a classe a uma reflexão
Felizes para Sempre?, série em que Euclydes Marinho faz uma releitura de Quem Ama Não Mata, minissérie escrita por ele mesmo para a Globo, em 1982, termina nesta sexta-feira com um assassinato e a certeza do dever cumprido — além, é claro, da recauchutagem da carreira de Paolla Oliveira, que para muitos superou o estigma de mocinha e mostrou, como garota de programa, mais do que Sandy fez como devassa.
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Com uma fotografia primorosa, um elenco afinado e uma edição afiada — a cena desta quinta-feira em que o casal Claudio (Enrique Diaz) e Marília (Maria Fernanda Cândido) discute na cozinha de casa, depois de ela saber que ele teve um filho fora do casamento, com falas que se sobrepõe o tempo todo, foi incrível –, Felizes para Sempre? recoloca a Globo na ponta entre as emissoras abertas. Não há, é fato, nenhuma que se equipare a ela em termos de qualidade, e justamente graças a atrações como essa.
Seria tudo perfeito, não fosse um único problema: as perguntinhas que teimam em reduzir o olhar do espectador. Elas começam no título, que a narração da Globo demorou em ler direito: talvez por bom gosto, o locutor do canal lia “Felizes para Sempre” sem interrogação, nas primeiras chamadas. E continuam episódio a episódio, inundando de didatismo, quando não de moralismo, um texto que prescinde disso tudo. Elas pipocam no começo e no fim do capítulo, como um professor de escola que tenta conduzir a classe a uma reflexão — “Vamo lá, turmá: ‘Quem ama trai?’ e ‘O crime compensa?’.
Difícil entender porque, numa série em que até Paolla Oliveira deu sinais de superação, a Globo precisa ceder a um recurso capaz de reduzir o brilhantismo de um projeto. A história é ótima, bem escrita e bem montada. Faz pensar por si, e com mais liberdade quanto menos se leem as interrogações.