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“Portinari sofreria hoje”, diz filho do artista plástico

Aos 83 anos, João Candido Portinari fala sobre a mostra com obras inéditas que abre no Rio em 29 de junho, e lamenta o desmonte da cultura no Brasil atual

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 jun 2022, 11h19 - Publicado em 25 jun 2022, 08h00

O que o público verá de diferente na exposição Portinari Raros, no CCBB do Rio de Janeiro? A ideia partiu de Marcello Dantas, curador da mostra. Ele propôs iluminar um Portinari mais desconhecido: as obras que ninguém viu, ou que pouquíssima gente tenha visto. Temos, por exemplo, figurinos e cenários feitos por ele para o Balé Iara, o primeiro balé brasileiro a entrar no circuito internacional na história. Saímos à caça dessas peças que estavam perdidas pelo mundo, com colecionadores.

Alguma obra desse acervo raro é sua favorita? É tão difícil dizer, é como você perguntar para uma pessoa com vários filhos de qual ela gosta mais. Mas eu diria o Balé Iara, que sempre me fascinou muito. Não só por ser uma incursão dele na área da dança, pela qual sou apaixonado, mas porque é uma coisa característica de seu estilo.

O senhor é professor e curador do legado de seu pai. Nessa condição, como avalia os rumos da arte contemporânea no Brasil? Não acompanho muito o cenário. Mas nesses últimos anos enfrentamos uma dificuldade tremenda de conseguir recursos. Temos muitos projetos engavetados por causa dos cortes da Lei Rouanet. Perdi equipe e tenho lutado para levar painéis para mostras no exterior.

Quase oitenta anos após o lançamento do quadro Os Retirantes (1944), cerca de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Será que Portinari poderia imaginar sua obra sendo atual quase um século depois? Tanto na série Os Retirantes como em Guerra e Paz ele previu o que está acontecendo agora. Mesmo antes da guerra na Ucrânia, vimos refugiados fugindo em balsas, se afogando pelo caminho. Os painéis do Portinari têm mais de meio século e continuam mais atuais que nunca. A humanidade está encalacrada e a gente tem de sair disso. Não é possível que o homem não mereça uma existência mais digna, né?

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Como acha que seu pai veria a polarização política no Brasil atual? Penso que iria causar um profundo sofrimento nele. Ele tinha compaixão por tudo aquilo que vive, é isso que emerge de todo o legado dele. Foi bom que ele tenha partido em 1962, porque não viu a ditadura militar (1964-1985). Hoje, então, Portinari sofreria muito, vendo um Brasil partido. Com certeza absoluta ele seria contra este governo. Nós estamos vivendo uma tragédia, vendo nosso país ser destruído a cada dia.

Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022, edição nº 2795

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