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Nero, imperador de Roma, não era tão cruel e maluco, diz mostra em Londres

Exposição que abrirá esta semana no Museu Britânico revisita o passado do imperador romano e pretende desmentir mitos e mentiras a seu respeito

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 25 Maio 2021, 15h23 - Publicado em 25 Maio 2021, 10h21

Nero, o famoso imperador romano, foi um tirano monstruoso e insano, certo? A má reputação do homem que governou Roma no início da era cristã foi sedimentada no imaginário popular ao longo dos séculos – é amplamente conhecida, por exemplo, a cena em que um sádico Nero surge tocando harpa durante um incêndio na capital do Império. Mas uma exposição que abrirá as portas esta semana no Museu Britânico, em Londres, pretende mostrar outro lado do imperador que não condiz exatamente com sua reputação cheia de sexo, devassidão e violência. 

A peça que abre a exposição, emprestada dos Museus Capitolinos de Roma, é uma estátua do busto de Nero que mostra a fisionomia cruel e agressiva do imperador – ou seja, como ele é comumente conhecido. A subversão dessa imagem está no simples fato de quase tudo na estátua é falso, já que apenas parte do busto é, de fato, romano – e o resto é uma confecção habilidosa feita por um artista barroco no século XVII. Em entrevista à publicação especializada em artes plásticas The Art Newspaper, o curador da mostra, Thorsten Opper, informa que pesquisas recentes demonstram que grande parte do que se sabe a respeito de Nero está errado.

Assim, Nero vem somar-se a outros tiranos do passado que tiveram suas vidas revisadas (e amenizadas) em tempos recentes. Antes, a “barra” de seu tio Calígula – igualmente um símbolo de loucura e perversão – já fora aliviada em um livro do historiador australiano Stephen Dando-Collins.

As principais fontes históricas a respeito da vida de Nero (37-68 d.C.) são poucas e totalmente inflexíveis sobre a figura supostamente horrenda do imperador. Para o historiador Tácito, Nero foi um governante consumido pela crueldade e paranoia durante seus 14 anos de reinado, que teria terminado com o imperador pedindo para seu secretário o matar, com apenas 30 anos de idade. Já de acordo com outro historiador clássico, Suetônio, Nero teria cometido incesto com Agripina, sua mãe, e depois a matado. 

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O objetivo da exposição é mostrar como a imagem do imperador romano teria sido forjada pelo bem-sucedido esforço de propaganda de seus inimigos e sucessores, baseada em lances de difamação e calúnia promovidos por figurões da elite da época. Vale ressaltar que não se trata de uma “reabilitação” de Nero, mas sim de uma leitura crítica das fontes, conforme explicou Opper ao jornal inglês The Guardian. Para contar a história de Nero, da ascensão à queda, o Museu Britânico exibirá cerca de 200 peças.

O episódio mais notório que envolve o nome de Nero diz respeito ao incêndio que destruiu Roma em 64 d.C. Segundo Opper, ao contrário das narrativas conhecidas, o imperador nem sequer estava na cidade na época do acontecimento. A história de Nero alucinando enquanto as chamas consumiam a capital do Império seriam um boato baseado no fato de o imperador ter escrito um poema sobre a queda de Troia, no qual mencionava a cidade em chamas. 

As novas revelações sobre a história de Nero trazidas à luz pelo Museu Britânico podem atenuar a imagem infame do imperador, mas não são suficientes para cravar quem ele era de verdade, já que sua biografia tem muitas lacunas impossíveis de serem preenchidas. Mas, talvez por isso mesmo, figuras históricas como ele nunca deixarão de atiçar a imaginação popular.

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