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Morte de filha de Elvis abre ruidosa batalha judicial pela herança do rei

Está em jogo a administração de Graceland, avaliada em mais de US$ 400 milhões, e 15% da companhia que cuida dos direitos autorais do cantor

Por Ernesto Neves 1 abr 2023, 08h00

Não é fácil ter Presley no sobrenome, dada a dimensão mítica e incontornável de um dos grandes ícones da música popular. A morte precoce de Lisa Marie, filha única de Elvis Presley (1935-1977), aos 54 anos, em janeiro, de parada cardíaca, causou comoção. Naquela semana, Lisa e a mãe, Priscilla, com quem o eterno roqueiro viveu sete anos, haviam ido juntas à cerimônia do Globo de Ouro, em Los Angeles, para apoiar a cinebiografia Elvis, indicada em três categorias. As duas pareciam, enfim, ter deixado o histórico de desavenças no passado.

A união familiar, contudo, era uma quimera. Duas semanas depois do velório de Lisa Marie, Priscilla entrou com uma ação na Justiça de Los Angeles para anular o testamento deixado pela filha. O motivo: uma emenda feita por Lisa, em 2016, que removeu a mãe e o ex-gerente de negócios da família, Barry Siegel, como cocontroladores de Graceland, mítica mansão erguida pelo cantor, e do Elvis Presley Enterprises, fundo que administra os vultosos lucros póstumos de sua obra. A função foi repassada aos filhos mais velhos de Lisa, Riley e Benjamin Keough, que se suicidou em 2020.

DESCONTROLE - O rei do rock: os herdeiros repetem os seus erros
DESCONTROLE – O rei do rock: os herdeiros repetem os seus erros (Michael Ochs Archives/Getty Images)

A contestação fez desatar uma batalha judicial de resultados imprevisíveis. De um lado estão Priscilla e Michael Lockwood, com quem Lisa foi casada por dez anos. Do outro, Riley, hoje única controladora do espólio, e as irmãs mais novas, Harper e Finley, ainda menores de idade. Em jogo, a administração de Graceland, avaliada em mais de 400 milhões de dólares, e 15% da companhia que cuida dos direitos autorais e que só em 2022 rendeu 110 milhões de dólares. Priscilla afirma só ter descoberto a mudança depois da morte de Lisa e levanta a possibilidade de fraude. Ela garante ainda que, pelas regras do fundo, qualquer mudança só pode ser validada caso seja de conhecimento de todos os envolvidos. Isso, segundo Priscilla, jamais aconteceu. O racha se converteu num constrangedor barraco público. Riley, que acaba de estrear como protagonista da série Daisy Jones & the Six, do Amazon Prime, contesta a versão. Na semana passada, ela partiu para a briga e mandou trocar as fechaduras de Graceland para impedir a entrada da avó. “Se de fato houve desobediência ao estatuto do fundo, Priscilla tem base legal para contestar esse testamento”, responde Benny Roshan, de um dos mais reputados escritórios de advocacia de Los Angeles.

As raízes da crise que ameaça esgarçar a família remontam aos anos 1970, quando Elvis mergulhou num período de decadência e gastos descontrolados. Ao morrer vítima de um ataque cardíaco por overdose de remédios, ele já havia dilapidado sua fortuna, deixando dívidas e impostos atrasados. Em caixa, encontrou-se pouco mais de 1 milhão de dólares, além da morada em Memphis. O espólio foi deixado em testamento para a filha, Lisa Marie, então com 9 anos, o pai de Elvis e sua avó. Mas a morte dos dois parentes mais velhos, no início dos anos 1980, mudou tudo. A herança foi integralmente repassada para Lisa Marie, ainda menor de idade, e acabou sob os cuidados da ex-­mulher de Elvis, Priscilla. A partir daí, ela promoveu uma guinada radical. Priscilla se converteu numa bem-sucedida atriz, modelo e empresária. Seu lance mais exitoso consistiu em transformar Graceland num museu aberto ao público. Em uma década, seu tino comercial — e a fama do defunto — multiplicou o patrimônio.

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MANSÃO - A eterna vigília em Graceland: avaliada em 400 milhões de dólares
MANSÃO - A eterna vigília em Graceland: avaliada em 400 milhões de dólares (Gilberto Tadday/.)

O butim passou a ser controlado por Lisa Marie em 1993, quando a jovem completou 25 anos. Mas Lisa assumiu um estilo de vida parecido com o do pai, enveredando nos gastos exor­bi­tan­tes e no consumo de drogas. Também colecionou relacionamentos turbulentos, incluindo um casamento de dois anos com o cantor Michael Jackson e outro de 107 dias com o ator Nicolas Cage. No início dos anos 2000, ela fez uma tentativa fracassada de se lançar como cantora pop, período em que também acumulou dívidas. Para estancar o saldo devedor, decidiu pela venda de 85% da participação da família nos haveres que levam o nome do pai. O negócio lhe rendeu 50 milhões de dólares. Mas o dinheiro sumiu em extravagâncias. Em seu ponto mais crítico, em 2015, as economias familiares chegaram a ter apenas 14 000 dólares.

A turbulência financeira, é natural, minou de forma definitiva a relação entre Lisa e Priscilla e, sabe-se hoje, resultou na possível exclusão da mãe do testamento. “Se a briga prosseguir, é provável que a Justiça nomeie um administrador profissional para gerir o espólio”, afirma Cynthia Brittain, do escritório Karlin & Peebles, de Los Angeles. É uma saída para salvar o legado do rei do rock. Vale para os Presley a frase inicial de Liev Tolstói no clássico Anna Kariênina: “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.

Publicado em VEJA de 5 de abril de 2023, edição nº 2835

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