(Tradução de Cecília Rosas, Companhia das Letras, 392 páginas, 49,90 reais) As pessoas não estão acostumadas a ouvir histórias de guerras vividas por mulheres: geralmente elas são esquecidas e relegadas aos papéis de esposas, mães e filhas de soldados e líderes. Não mais. Em seu novo livro, A Guerra Não tem Gosto de Mulher, que a Companhia das Letras lançou no fim de junho, a jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015, entrega o protagonismo a cerca de 1 milhão de mulheres que lutaram no Exército Vermelho durante a II Guerra Mundial.
Assim como seu primeiro livro lançado no Brasil, Vozes de Tchernóbil, esta nova obra é dividida em diversos relatos. São as mulheres que contaram à autora como foi estar no front, como francoatiradoras ou fuzileiras, ou nos bastidores do conflito, como enfermeiras e médicas. São memórias dolorosas, difíceis, que são expostas, muitas vezes, entre lágrimas e soluços, mas que precisavam ser compartilhadas. No início do livro, Svetlana também compartilha algumas histórias da produção do volume.
“Fui procurar uma mulher na fábrica de tratores de Minsk; ela tinha sido francoatiradora. E famosa. Apareceu mais de uma vez em manchetes de jornal. As amigas dela me deram o número do telefone de sua casa em Moscou, mas era antigo. Sobrenome também, eu só tinha o de solteira. Fui à fábrica onde, como eu sabia, ela trabalhava, e no departamento pessoal escutei dos homens (do diretor da fábrica e do chefe do departamento): ‘Por acaso falta homem para isso? Para que você quer essas histórias de mulher? Fantasias de mulher…’. Os homens tinham medo de que elas não contassem direito a guerra.”
Svetlana fala de A Guerra Não Tem Rosto de Mulher e de seus outros trabalhos neste sábado na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), às 17h15. Quem não estiver pela cidade fluminense, pode acompanhar a transmissão da mesa no site oficial do evento: flip.org.br.