O artista plástico Gil Vicente, de Recife, diz não entender por que a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) se posicionou conta a sua série Inimigos da 29ª Bienal de São Paulo – afinal, o conjunto de quadros já foi exposto antes em Natal, Recife, Campina Grande e Porto Alegre, sem causar tanto barulho. Mas agradece a publicidade que está ganhando. “A repercussão eu devo à OAB”, diz, enquanto posa para fotos diante dos desenhos em que mata personalidades como Lula e Kofi Annan. “O Anan deixou o Bush fazer o que quis com a ONU, ele merece estar nesses quadros.” Grande estrela das vésperas da bienal, Gil Vicente falou a VEJA.com.
Foi fácil “matar” o Lula e suas outras vítimas?
Foi muito fácil, porque são todos uns ladrões sujos. Esse trabalho é fruto da minha indignação com a forma como esses caras conduzem o mundo. É um trabalho muito sério. Eu fiz em proporção de 1 para 1, a proporção humana normal, para que fosse o mais realístico possível, para que ninguém pensasse que é uma charge.
Por que Lula é o único dos dez que é morto com uma faca?
Porque foi um dos primeiros desenhos que eu fiz e, quando o realizei, pensei que seria bom variar as armas. Depois desisti, porque as pessoas poderiam acabar concentrando a atenção nesse detalhe.
O papa e a rainha da Inglaterra também merecem a morte?
Sim, porque eles representam a maldade e o descaso com o ser humano. Só não retratei todos eles já mortos porque não queria sangue nos meus desenhos. Então, preferi pegar a imagem de um instante anterior.
Fazer esses desenhos foi uma forma de realizar uma fantasia?
Essa série pode ser vista como uma fantasia, em que eu sou o super-herói. Mas é fruto de uma indignação séria. Todos roubam, em todas as esferas, e o sistema é blindado e ninguém consegue mudar.
Nunca houve de fato nenhum protesto contra essa série antes?
Houve, no máximo, assinantes de jornais que noticiaram a série ameaçando cancelar assinatura, dizendo que seus filhos não mereciam ver os desenhos. Como se a realidade das ruas fosse muito diferente.