Um dos nomes mais importantes da filosofia no Brasil, José Arthur Giannotti morreu na manhã desta terça-feira, aos 91 anos, em São Paulo. A morte foi confirmada por um comunicado oficial divulgado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), entidade de estudos sociais e de formulação de políticas públicas que ele ajudou a fundar em 1969. A causa não foi divulgada. Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), ele se dedicou ao estudo de autores como Karl Marx, Martin Heidegger e Ludwig Wittgenstein.
Nascido em 1930, em São Carlos, no interior de São Paulo, Gianotti mudou-se ainda adolescente com a família para a capital paulista, porque seu pai queria que todos os quatro filhos tivessem uma boa educação. Ainda na juventude, conheceu Rudá de Andrade (1930-2009) e frequentava a casa do pai dele, o poeta modernista Oswald de Andrade (1890-1954). Foi por sugestão do próprio Oswald que Giannotti entrou na Faculdade de Filosofia da USP.
Nos anos 1990, Giannotti foi chamado de “intelectual tucano”, embora nunca tenha se filiado ao PSDB, por ter apoiado a candidatura à presidência de Fernando Henrique Cardoso e participado do Conselho Federal de Educação por alguns meses, em 1996. Mas antes, no início dos anos 1980, chegou a entrar no PT, do qual logo se afastou.
Em entrevista a VEJA, em 2018, disse enxergar riscos à democracia caso Bolsonaro fosse eleito. “Vejo que há um risco claro. Há uma escalada contra a democracia que já havia começado com o PT e seu arroubos contra tudo aquilo com que o partido não concordava. E isso culminou nesse processo de renovação que acabou levando à liderança de votos Jair Bolsonaro, uma pessoa de alta virulência. O que se desenha é um período de grande preocupação, em que nós, como sociedade, teremos de travar uma verdadeira batalha para defender a democracia”, disse.
Entre suas principais obras publicadas destacam-se Origens da Dialética do Trabalho: Estudo sobre a Lógica do Jovem Marx, tese de livre-docência defendida em 1966 e publicada em 1985, e Trabalho e Reflexão: Ensaios para uma Dialética da Sociabilidade, de 1983. Sua última publicação foi Heidegger/Wittgenstein: Confrontos, lançado no ano passado, um livro de mais de 500 páginas dedicadas a esmiuçar o pensamento do alemão Marting Heideger (1889-1976) e do austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951).