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Fashion Rio homenageia a bossa nova de Cesar Villela

Designer que mudou a cara das capas de disco nos anos 60 ganha exposição com vinte trabalhos feitos para a gravadora Elenco

Por Roni Filgueiras
11 jan 2012, 11h47

“As vitrines das lojas naquela época eram o grande ponto de venda. E as minhas criações eram tão confusas quanto as outras capas. Daí veio o estalo, eu tinha que simplificar”

Era 1960 e o telefone tocou, às 23h, na casa do designer gráfico e artista plástico Cesar Villela. “Era o João Gilberto, que ficou até 1h da manhã me explicando que seu negócio não era tristeza, mas tristezinha”, lembra. “Até hoje não entendi”, diverte-se Villela, que na época dava tratos à capa do LP do compositor baiano “O Amor, o Sorriso e a Flor” (Odeon). Aos 81 anos, Villela é um dos artistas homenageados na 20ª edição do Fashion Rio, que tem como tema “Sou Rio, Essa Bossa É Nossa”.

Vinte capas suas encomendadas pela Elenco, gravadora independente do produtor musical Aloysio de Oliveira – famoso por lançar alguns dos mais importantes nomes da música como Nara Leão, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Edu Lobo, Astrud Gilberto e ainda álbuns de Baden Powell, Roberto Menescal e Maysa -foram reproduzidas em tamanho 3m x 3m e reunidas na exposição “Essa Bossa É Nossa”, no Armazém 3, do Píer Mauá. “Optamos por homenageá-lo por conta de sua relevância artística nesse assunto: o design das capas de disco dos anos 50 e 60”, explica o músico Charles Gavin, curador da exposição. “É um tema, infelizmente, abandonado, um braço de nossa música popular esquecido por todos nós.”

Carioca da Urca, Villela foi responsável por uma revolução gráfica na indústria fonográfica. Seus trabalhos ficaram famosos por traduzir em traços e imagens ousadas e minimalistas a proposta musical da bossa nova. Mas não foi apenas a inovação estética que impulsionou Villela. “As vitrines das lojas naquela época eram o grande ponto de venda. E as minhas criações eram tão confusas quanto as outras capas. Daí veio o estalo, eu tinha que simplificar”.

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Mostra de capas de disco feitas pelo designer Cesar Villela no galpão onde se realiza o Fashion Rio 2012
Mostra de capas de disco feitas pelo designer Cesar Villela no galpão onde se realiza o Fashion Rio 2012 (VEJA)

O tal estalo se traduziu em recursos mínimos (uso do preto, branco e vermelho em pequenos quatro círculos, incluindo o logo da gravadora) e até então inovadores, como a solarização, o alto contraste e o jato de areia, efeitos fotográficos considerados pouco comerciais à época. Viraram clássicos os trabalhos desenvolvidos para os LPs de Nara Leão, Lennie Dale e os Bossatrês, Maysa, Roberto Menescal, Rosinha de Valença, Sylvia Telles, Vinícius de Moraes e Odette Lara, Tom Jobim, Baden Powell, Edu Lobo e Maria Bethânia.

“Minhas ideias eram inspiradas em um tripé, a teoria de Marshall McLuhan, a obra de Mondrian e as linhas áureas, sempre citadas pelo meu amigo, o diretor de arte Milton Luz”. Já os pontos vermelhos vieram da Cabala. “O número quatro era ligado à harmonia, daí resolvi usar aquela ideia nas bolinhas”, costuma lembrar.

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Villela costumava criar ou adaptar cerca de 40 capas de disco ao mês para o mercado nacional, entre 1957 e 1962, quando trabalhou para a gravadora Odeon. “Acredito que tenha feito cerca de mil”, calcula. Era um tempo em que o design dos LPs era bolado até três meses antes da gravação. “Já fiz capa antes mesmo de o cantor saber que ia gravá-lo”, recorda. “Às vezes os discos não tinham nem título, eu até criei alguns”. Ele nunca sofreu interferências dos artistas. Fora, claro, o “palpite” do famoso intérprete baiano de “Ela é Carioca”.

A Elenco, um projeto ousado de Aloysio Oliveira, que apostava nos novos talentos que não tinham chance nas grandes gravadoras, durou de 1963 a 1967. “Eu e o fotógrafo Chico Pereira, que fazia as fotos dos artistas, não recebíamos para fazer nosso trabalho, pois acreditávamos naquilo”. Villela só viu a cor do dinheiro décadas depois, quando os discos viraram CDs, há dez anos, pela Polygram.

O designer, que hoje vive de suas pinturas e se divide entre entre Miguel Pereira e o Rio, ganha outra exposição, que será inaugurada no próximo dia 17, no Centro Cultural Correios, no Centro do Rio de Janeiro. Ricardo Kimaid, curador da mostra que leva o nome do artista, reúne 21 telas feitas em acrílico sobre cartão francês, inspiradas nos personagens Dom Quixote e Sancho Pança. Villela tem ainda uma marca permanente na cidade. Ele é o autor do painel de azulejos “Violões da Bossa Nova”, que enfeita a estação do metrô em Ipanema junto com textos do cronista Ruy Castro.

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