Às vésperas de completar 50 anos de carreira, Antônio Fagundes já fez de tudo um pouco. Mesmo assim, achou um nicho para uma nova “primeira vez” – a de produtor de cinema. Contra a Parede, que estreia neste sábado no Supercine da TV Globo e no aplicativo Globo Play e não vai chegar às telas dos cinemas, é a obra inaugural da Fafilmes, a produtora de Fagundes. Em nome da independência, diz ele, o filme foi inteiramente produzido com recursos próprios, sem patrocínio da iniciativa privada nem recursos de lei de incentivo. O orçamento não foi divulgado.
Rodado em 2017, Contra a Parede trata deste exato momento do país — a história se passa três meses antes das eleições, o país está em crise e a presidência é disputada disputada por nomes outrora improváveis. Fagundes vive o jornalista Cacá Viana, âncora do maior telejornal do país prestes a se aposentar, que vem se tornar uma peça-chave do embate entre dois pré-candidatos (Marcos Caruso e Emílio de Melo) ao tomar consciência de um segredo: um acidente de trânsito mata uma mulher e uma testemunha lhe revela ter tido o silêncio comprado justamente por um dos políticos. Cacá é amigo dos dois e se vê diante de um dilema: jornalista tem que ser isento a qualquer custo? “O que eu achei mais interessante na ideia de viver um jornalista é a forma como os problemas têm que ser resolvidos rapidamente. Meu personagem precisa lidar com questões de uma vida inteira em 72 horas”, disse Fagundes a VEJA.
Apesar da carga política e das lições de moral – “não fraude carteirinha de estudante, não estacione em vaga proibida, não flerte com gente casada” -, o filme não traz ataques frontais à esquerda ou à direita. “Não precisa seguir uma ideologia para criticar a mentira, o suborno etc. O brasileiro anda apegado a um radicalismo estéril que só emite palavras de ordem”, critica o ator. “Contra a Parede é, antes de tudo, um thriller. Espero ter entregado uma história simples, que traga reflexão, mas que seja envolvente”. Sobre sua própria postura com relação à política e à imprensa, Fagundes é diplomático: “Não tenho partido. Não me incomodo que a imprensa tenha, mas quero saber qual é”.
Contra a Parede tem – atenção: spoiler — final feliz, beirando o idealismo. “Foi um dos mais difíceis que já escrevi”, conta o roteirista, Paulo Pons. “Geralmente, quando crio minhas histórias, já tenho o final na cabeça. Esta foi a primeira vez que decidi depois da terceira versão”. E por que o happy end?. “Quisemos passar um recado às pessoas: eu não vou comprar passagem para Lisboa. Não sabemos como consertar tudo isso aqui, mas sabemos que existe o certo e o errado. Alguma coisa dá para fazer”, diz Pons.