De casa nova, Rio-à-Porter teve investimento de 15 milhões de reais
Salão aposta no mercado internacional, depois de um ano de déficit recorde na balança comercial
Bem longe do Píer Mauá, onde acontecem os 24 desfiles de inverno da 20ª edição do Fashion Rio e a 15ª edição do Prêmio Rio Moda Moda, com a apresentação de dez novos talentos, a plataforma de negócios Rio-à-Porter ganhou sede nobre, em Botafogo: o palacete Guinle, agora rebatizado de Casa Firjan da Indústria Criativa. “Ocupamos áreas que possam dialogar e trazer benefícios para cidade, como aconteceu com a Zona Portuária”, explica Graça Cabral, diretora de Parcerias Estratégicas do Fashion Rio, realizado ao custo de R$ 15 milhões pelo Sistema Firjan, com o apoio da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). “É importante que a economia criativa promova outras atividades para a cidade, como o turismo, os transportes, a gastronomia”, justifica.
Os expositores foram reduzidos a 108, escolhidos pela curadoria do evento e pólos criativos, contra 168 da última edição de verão, para se adequar ao novo espaço. Mas não só por isso. O formato mais enxuto obedeceu a uma necessidade estratégica. “Buscamos um espaço com o formato de salão e não de feira, para propiciar mais proximidade para expositores e compradores e eficiência na decisão de compra. É a tendência mundial”. Graça, que afirma não considerar o Senac Rio Fashion Business concorrente, não fala de expectativa de crescimento da bolsa de negócios. “Há espaço para todos”, diz a diretora do salão que vai receber compradores do Brasil e de países como Rússia, França, Japão, EUA, República Dominicana e Bahrain.
Além de alavancar os negócios, o Rio-à-Porter promove exposições, palestras e encontros (abertos ao público à tarde), sobre economia criativa. Com o tema “Sou Rio, essa bossa é nossa”, a exposição trata da influência do design na MPB. Com curadoria e pesquisa do músico Charles Gavin, a mostra reúne capas cerca de 55 capas de discos da bossa nova, 20 delas boladas por César Villela, artista plástico e designer gráfico. As capas de LPs de Edu Lobo, Roberto Menescal, Vinícius de Moraes, entre outros, serão exibidas em tamanho de 3m x 3m, no Armazém 3. Outro homenageado será o arquiteto Sérgio Rodrigues, um dos nomes de maior projeção dentro e fora do país. As vagas estão sujeitas à disponibilidade de lugares na sala. Senhas de acesso deverão ser retiradas, diariamente, das 13h45 às 14h45, na Casa Firjan da Indústria Criativa.
Déficit comercial – Imagine um ex-país de descamisados que detém o título de segundo maior produtor e terceiro maior consumidor de denim (o tecido das calças jeans) do planeta. E que teve em 2010 um faturamento de US$ 60 bilhões na indústria têxtil e de confecções. Agora imagine o setor de varejo dessa mesma nação, cujo volume de vendas cresceu cerca de 6,7% e as importações de roupas, 40%. “O desenvolvimento do setor tem ocorrido num ambiente desfavorável à competitividade”, diz Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Ainda segundo a entidade, a competitividade desse setor é prejudicada por fatores como carga tributária, deficiência na defesa comercial, custo de capital e infraestrutura elevado, crescimento das importações e desequilíbrio cambial.
A Abit, que no próximo dia 17 divulga os números do setor do ano passado, calcula que 2011 deverá fechar com déficit recorde na balança comercial: US$ 5,2 bilhões, o que se traduz em menos 200 mil postos de trabalho, que serão criados na Ásia. Nos primeiros sete meses de 2011, em relação a igual período de 2010, a produção têxtil teve uma queda de 14,4% e a do vestuário despencou 3,03%. Segundo o BNDES, o ramo têxtil e de confecção tem o maior potencial para a criação de empregos. A cada R$ 10 milhões que entram na produção são criados 1.382 novos postos formais. O setor representa 3,23% do PIB e mais de 10% dos postos de trabalho da indústria de transformação. Números mais que expressivos que vão dar muito pano para manga.